Relatório da Polícia Federal (PF) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com auxílio do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, utilizou o avião presidencial “sob a cortina de viagens oficiais” para “de forma escamoteada” enviar as joias aos Estados Unidos. A PF apontou o indiciamento de Bolsonaro e outras 11 pessoas no inquérito das joias.
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De acordo com a Polícia Federal, esse “modus operandi” teria sido utilizado em junho de 2022, quando o “kit ouro branco” e o relógio Patek Philippe foram enviados aos Estados Unidos e no dia 30 de dezembro, quando a aeronave levou também as esculturas douradas e o “kit ouro rose”.
O “kit ouro branco” era composto de um anel, abotoaduras, uma caneta, um rosário islâmico conhecido como “masbaha” e um relógio Rolex, presente recebido pelo presidente em visita oficial à Arábia Saudita. Já o Patek Philippe foi recebido em viagem ao Bahrein.
Em depoimento dado em março deste ano, Mauro Cid disse que, quando ficou sabendo, Bolsonaro já estava em posse do Patek Philippe e “inicialmente procurou saber o valor do relógio”. O relatório ainda aponta que Mauro Cid enviou ao ex-presidente uma imagem do Patek Philippe extraída da internet com o preço no dia 16 de novembro, quando a comitiva presidencial ainda estava no Bahrein.
Ainda de acordo com o documento, elementos de prova apontam que o ex-presidente tinha “plena ciência da existência do relógio e dos atos posteriores de negociação e venda do bem”. Segundo Cid, na véspera do embarque para os Estados Unidos em junho de 2022, Bolsonaro o passou o relógio no Palácio da Alvorada.
O relatório também aponta que a Diretoria de Documentação Histórica da Presidência da República (antiga GADH) informou que nem o relógio nem o certificado de autenticidade constam nos seus sistemas de informação. Dessa forma, a PF aponta que os elementos de prova “demonstram” que o relógio “foi subtraído do acervo público brasileiro pelo ex-presidente da República, sem sequer ser registrado no GADH para tratamento e destinação”.
O relatório aponta que esses itens foram levados aos Estados Unidos na ocasião da viagem do ex-presidente para participar da Cúpula das Américas e outros compromissos. Na ocasião, segundo o relatório, os relógios foram vendidos por US$ 68 mil.
As esculturas douradas, um barco e uma árvore, foram recebidas de autoridades dos Emirados Árabes Unidos e Bahrein. O relatório aponta que o kit ouro rose, composto por abotoaduras, anel, relógio, o “masbaha” e caneta, foi recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque em viagem para a Arábia Saudita.
Segundo o relatório, os itens foram embarcados no avião presidencial quando Bolsonaro deixou o país no fim de 2022. “Em 30 de dezembro de 2022, conforme demonstrado, as esculturas foram levadas para o exterior, de forma clandestina, utilizando o avião presidencial, com o objetivo de dificultar qualquer possibilidade de rastreio pelas autoridades brasileiras”, diz o relatório.
A defesa de Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (8) que o ex-presidente, como chefe do Executivo, não tinha "qualquer ingerência, direta ou indireta" sobre a análise de presentes oferecidos a ele durante o mandato. O comunicado questiona ainda a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), ao alegar que o caso deveria ter sido encaminhado para a primeira instância do Judiciário.
![Ex-presidente Jair Bolsonaro — Foto: Arthur Menescal/Bloomberg](https://s2-valor.glbimg.com/A8t4feq5SE1wO1jnr6Hi5VFBiBQ=/0x0:2000x1334/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/V/m/FQDTYaRQO9MECQRWS6Dw/413619693.jpg)