Candidato à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) apresentou na noite de quinta-feira (1º) o plano de governo de sua campanha, registrado na Justiça Eleitoral, utilizando marcas que consagraram gestões do PT e do PSDB na cidade e no Estado de São Paulo. A vice na chapa, Marta Suplicy (PT), não estava presente.
São 119 propostas em que o candidato faz acenos aos trabalhadores de aplicativos -- setor que o governo federal tem enfrentado dificuldades na interlocução--, às mulheres, aos jovens e aos idosos. Entre as ações prometidas, Boulos disse que adotará medidas para enfrentar o roubo de celulares, expandir a tarifa zero e tornar a cidade mais verde.
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Boulos também deu destaque especial ao tema segurança pública, que deve ganhar peso eleitoral nesta campanha – o vice do prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), é um ex-coronel da Polícia Militar, Ricardo Mello Araújo (PL).
O programa mostra um candidato - rotulado pelos adversários de radical por seu passado como líder de movimento social - preocupado em se apresentar como de centro-esquerda, acenando para ações que já se mostraram bem-sucedidas em gestões do PT na cidade, como Marta Suplicy, Fernando Haddad e Luiza Erundina.
Boulos afirmou que uma de suas principais propostas será o "Poupatempo da saúde", para zerar as filas para exames e procedimentos médicos. O candidato usou a marca "Poupatempo", modelo de eficiência no Estado de São Paulo, criado pelo ex-governador Mario Covas (PSDB), voltado para serviços como a emissão de documentos. Filho de médicos do SUS, o candidato disse que dará ênfase especial à saúde, prevendo medidas como a criação de um programa inspirado no “Mais médicos” do governo federal, mas voltado para especialidades médicas (sem especificar quantos médicos serão contratados).
Na Educação, tema caro para o eleitorado progressista, prometeu implementar as escolas em tempo integral e as escolas abertas nos fins de semana, em ações que foram adotadas nas gestões de Geraldo Alckmin (ex-PSDB, atual PSB) no Estado. O candidato prometeu também o “mutirão Paulo Freire” para acabar com o analfabetismo na cidade - os mutirões foram bandeiras da administração Erundina. Boulos disse que vai viabilizar o ensino integral e contratará psicólogos para todas as escolas da rede municipal. Prometeu ainda entregar 22 novos Centros Educacionais Unificados (CEUs), uma das principais marcas de Marta Suplicy.
No mês passado, em entrevista a jornalistas, o candidato tinha dito que as propostas de sua campanha seriam apresentadas com uma previsão orçamentária para o desenvolvimento de cada uma delas, mas essa promessa não foi cumprida no plano apresentado na quinta-feira.
Um dos poucos valores mencionados foi a promessa de R$ 50 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos. Desse montante, Boulos disse que buscará R$ 10 bilhões em parcerias com o governo federal. O postulante também prometeu destinar 3% do Orçamento municipal para a cultura.
Numa vacina às críticas da direita, ele também se dedicou ao tema segurança pública, um dos principais problemas elencados pelos brasileiros, e pelo paulistano em particular, em pesquisas de opinião. “A extrema-direita diz que somos lenientes na segurança. O programa mais eficiente no combate ao roubo de celulares foi criado no Piauí [governado pelo PT] sem nenhum tiro, mapeando a receptação de celulares”, disse.
Outra das propostas na área é dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana, que atualmente tem cerca de 7 mil agentes. Boulos também prometeu ações específicas para aumentar a segurança nas escolas municipais e combater a violência doméstica.
Sem detalhar, o candidato também propôs expandir a tarifa zero nos ônibus da capital paulista - medida que foi implementada somente aos domingos pela atual gestão -, além de ampliar os corredores exclusivos para ônibus, medida criada na gestão Haddad (2012-16).
Entre outros pontos, o plano prevê ainda ações como políticas para mulheres, com paridade de gênero em seu secretariado, planos ambientais como a criação de um corredor verde, além de programas voltados para os moradores de rua e a Cracolândia, região do centro de São Paulo que há três décadas reúne usuários de drogas, em especial crack.
O candidato falou ainda sobre a criação de centros de apoio para trabalhadores de aplicativos, para idosos, mulheres e para a formação profissional de jovens.
O documento lembra ainda que o PIB de São Paulo (R$ 830 bilhões, 9% do PIB brasileiro) e questiona como é possível a cidade ter 800 mil pessoas, entre 12 milhões de habitantes, vivendo em extrema pobreza.
O combate às desigualdades, tema levantado também por outros candidatos, será um aspecto central da campanha de Boulos, que terá como principal cabo eleitoral o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
* Estagiária sob supervisão de Fernanda Godoy