Negócios sustentáveis
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Por — Para o Valor, de Salvador


A transição da atual economia linear - baseada em extrair matérias primas da natureza, produzir bens, incentivar seu consumo e descartá-los ao fim de sua vida útil - para um modelo mais próximo da circularidade começa a ser entendida como uma ferramenta de competitividade para a indústria nacional. O tema está perto de ganhar seu primeiro marco regulatório no Brasil, com iniciativas no Executivo e no Legislativo e experiências mais concretas sendo colocadas em prática por empresas de diferentes segmentos.

Dados preliminares de uma pesquisa que está sendo realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), obtidos com exclusividade pelo Valor, mostram que, embora o termo “economia circular” ainda não seja familiar para 35% das empresas, algumas de suas práticas já são amplamente adotadas: 95% buscam otimizar os processos de produção, como reutilizar materiais na produção (59%); já 53% buscam melhorar a eficiência visando ganhos ambientais. O estudo, realizado com o apoio do Centro de Pesquisa e Inovação em Economia Circular da USP, busca mapear as práticas de economia circular na indústria brasileira e identificar desafios para a sua implementação.

As normas ISO 59004 de economia circular, publicadas em maio, foram utilizadas como referência para elaboração da pesquisa, prevista para ser finalizada no segundo semestre. Até o momento, foram ouvidas 139 empresas de pequeno, médio e grande porte, dos segmentos de transformação e construção, com índice de confiabilidade de 90% e margem de erro de 3,5% para mais ou para menos. A partir da sondagem, que deve alcançar uma amostra de 300 empresas, a CNI quer atuar para ampliar o conhecimento sobre o tema, a partir de uma visão de aumento de competitividade e de ganhos ambientais. “Precisamos ir além da noção comum de que economia circular é sinônimo de reciclagem e fortalecer os conceitos de que se trata de um novo modelo econômico”, diz Davi Bomtempo, superintendente de meio ambiente e sustentabilidade da CNI.

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A regulação é iminente. No âmbito do Executivo, três ministérios - Fazenda, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) - trabalham na elaboração da Estratégia Nacional de Economia Circular, que buscará promover a transição do atual modelo linear para a lógica circular, com a implementação de um modelo de produção lastreado em upstream, ou seja, desde a etapa do design dos produtos e processos. Antes, em janeiro, o governo lançou o programa Nova Indústria Brasil (NIB), plano de ação com metas até 2026 voltado à neoindustrialização, que tem três das seis missões propostas relacionadas à economia circular. Em 2023, o Brasil passou a integrar a Coalizão de Economia Circular da América Latina e do Caribe, organização coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

No Legislativo, o Senado aprovou, em março, o Projeto de Lei 1.874/2022, que institui a Política Nacional de Economia Circular e propõe, entre outros pontos, o estímulo e o financiamento à pesquisa, a promoção de processos destinados à adoção da circularidade na economia e a realização de compras públicas sustentáveis. O texto segue para a Câmara dos Deputados, com previsão de ser analisado em julho. “O cenário mudou completamente. Nos últimos anos, a indústria vinha adotando práticas circulares em caráter voluntário, mas isso tende a acelerar com um ambiente regulatório adequado, e estamos caminhando para isso”, afirma Luisa Santiago, diretora executiva na América Latina da Fundação Ellen MacArthur, organização fundada em 2010 pela velejadora britânica de mesmo nome que dissemina o conceito da circularidade globalmente.

Devemos ir além da noção de que economia circular é sinônimo de reciclagem”
— Bomtempo

Três princípios resumem, grosso modo, a economia circular - a eliminação dos resíduos e da poluição; a manutenção dos materiais em uso por mais tempo; e a regeneração dos sistemas naturais, segundo a Fundação Ellen MacArthur. Combinados, podem ajudar a tornar o sistema econômico menos dependente da oferta de recursos naturais e menos intensivo em carbono. Embora o Brasil esteja atrasado com o marco regulatório - vizinhos como Chile e Colômbia lançaram antes arcabouços sobre o tema - tanto o PL 1.874/2022 quanto a estratégia nacional que está em construção pelo governo trazem uma visão atualizada sobre o tema. “Os textos estão alinhados e trazem um olhar para a descarbonização da indústria, da pauta de competitividade e da transição justa, incorporando o social”, diz Santiago.

A Ambipar, que atua em gestão ambiental, mantém, há uma década, um centro de pesquisas, desenvolvimento e inovação dedicado à valorização de resíduos em Nova Odessa (SP). A empresa descobriu uma nova frente de negócios ao aplicar uma abordagem circular, criando produtos com maior valor agregado a partir deles - o chamado upcycling. Nos últimos dez anos, o centro permitiu à Ambipar registrar 23 patentes, publicar mais de 100 artigos científicos envolvendo pesquisas com materiais e implantar soluções em diversos países onde atua. Em 2023, a empresa fez a gestão de 3,8 milhões de toneladas de resíduos pós-indústria e pós-consumo, sendo que 88% receberam algum tipo de valorização, inseridos como matéria-prima para outras indústrias ou reciclados, compostados e utilizados para gerar energia.

Dos laboratórios do centro de pesquisas da Ambipar saíram produtos como o Ecosolo, um condicionador de solo elaborado a partir de resíduos da indústria de papel e celulose, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Do colágeno descartado pela indústria farmacêutica na produção de cápsulas de medicamentos vieram produtos como o sabonete Collagen e bio cápsulas utilizadas em plantios e reflorestamento, que protegem sementes contra sol, insetos e permitem boa germinação em solos degradados; outro exemplo é o Ecoálcool, desenvolvido durante a pandemia de covid-19, a partir do reaproveitamento de resíduos do processamento de grãos e da indústria de bebidas para suprir a alta demanda por álcool para a desinfecção.

O desenvolvimento das soluções é feito junto aos clientes de forma customizada, mas o ganho de escala ainda esbarra em fatores econômicos. “Enquanto as indústrias considerarem apenas o fator custo, ainda veremos muito resíduo com potencial indo parar em aterros”, diz Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar.

[Práticas circulares] tendem a acelerar com um ambiente regulatório”
— Luisa Santiago

Outra barreira é o que ele chama de “competição injusta” entre os preços dos materiais virgens e dos reciclados - esses podem estar sujeitos à bitributação e à flutuação dos preços no mercado, que obedece às leis de oferta e demanda. Um exemplo é PET: entre julho de 2022 a julho de 2023 a resina virgem teve queda no preço de 31%, enquanto o preço da resina reciclada caiu 13,5%, segundo dados da MaxiQuim, consultoria especializada na indústria química. Tornar as abordagens circulares mais competitivas passa pelo incentivo à pesquisa e inovação, parcerias com universidades para desenvolvimento em materiais e a aplicação de dispositivos de valorização de resíduos previstos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, como o aumento dos percentuais de matéria-prima reciclada nas embalagens.

Mudar o paradigma industrial do linear para o circular não é uma transição rápida, mas está acontecendo, na visão de André Melo, responsável pelo grupo de trabalho de Economia Circular do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). O GT reúne 40 empresas, de setores diversos como mineração, papel e celulose e alimentos, com produção de conhecimento e capacitações para que os modelos de negócios circulares se tornem regra, e não exceções, nas empresas.

O grupo também colabora com a formulação do marco regulatório e trouxe subsídios para a estratégia nacional de economia circular, no âmbito do Mdic. “As empresas buscam estudos de casos e referências de aplicação, porque ainda é um tema novo, mas que ganha força à medida que novos hábitos de consumo se estabelecem na sociedade”, diz Melo.

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