Quem vê hoje a sala de supervisão e controle central de Itaipu, o “coração” da usina, tem a sensação de assistir a um velho filme de ficção científica: os imensos painéis de controle, com uma profusão de botões e indicadores, divididos de forma bilateral e simétrica como tudo na hidrelétrica binacional, remetem a uma modernidade ultrapassada, que parece ter menos capacidade computacional do que um smartphone.
Construída com tecnologia dos anos 1970, Itaipu está passando por um processo de modernização orçado até agora em US$ 649 milhões e cujos trabalhos se estenderão por 14 anos, até 2036. “As usinas hoje já são muito digitais. Quando Itaipu foi construída não havia essa tecnologia disponível. Agora é o momento para trocarmos o analógico pelo digital”, afirma a engenheira Renata Tufaile, gerente executiva do Plano de Atualização Tecnológica (PAT) da hidrelétrica, considerado o maior e mais complexo projeto da usina desde a sua construção.
“Os primeiros quatro anos serão dedicados a deixar pronta a estrutura do sistema de controle centralizado, uma parte do serviço auxiliar e dos sistemas de emergência. Depois, faremos o trabalho nas 20 unidades geradoras. Esperamos modernizar duas unidades por ano”, diz.
Para realizar o projeto - que não envolve equipamentos como turbinas, geradores e transformadores principais - foi aberta uma licitação, vencida pelo Consórcio de Modernização de Itaipu, formado pelo grupo GE, do lado brasileiro, e por duas empresas paraguaias (Tecnoedil e CIE). O contrato foi assinado em abril de 2022. “A licitação foi desenhada para que houvesse igualdade entre empresas brasileiras e paraguaias, isso faz parte do tratado. Então, dividimos pela expertise dos países. A GE vai fornecer os equipamentos [orçados em US$ 423 milhões], e o CIE vai fazer toda a montagem [US$ 225 milhões]”, diz Tufaile. Há dois outros contratos, que somam US$ 17 milhões, para construção de almoxarifados e centros de integração, cujas licitações são exclusivas para empresas paraguaias.
Uma segunda atualização, cuja licitação está prevista para 2024, vai modernizar a subestação da margem direita, que transmite a energia produzida para o Paraguai e recebe de volta o que o país não consome. “O custo depende da especificação técnica, que ainda está sendo discutida, mas será bem menor do que o da atualização da usina”, diz a engenheira. Se a primeira atualização tecnológica de Itaipu demorou 35 anos para começar, as próximas deverão ser mais céleres. “Os sistemas digitais vão precisar de upgrade com mais frequência. Isso é uma realidade do mundo tecnológico”, afirma a gerente executiva do PAT.