Santa Catarina
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Por Anna França — Para o Valor, de São Paulo


O secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Joinville, Fernando Bade: logística para o mercado externo favoreceu a indústria metalmecânica — Foto: Divulgação
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Joinville, Fernando Bade: logística para o mercado externo favoreceu a indústria metalmecânica — Foto: Divulgação

Nunca coloque todo os ovos na mesma cesta. A frase, um mantra da diversificação de investimentos, é realidade na economia de Santa Catarina. A colonização europeia, somada aos diferentes recursos naturais, ajudaram o Estado a consolidar vocações distintas para cada região. Alemães, italianos e portugueses trouxeram na bagagem, além dos seus hábitos, alguns conhecimentos técnicos que ajudaram a reforçar essas diferenças.

No nordeste do Estado, liderado por Joinville, se firmou a indústria metalmecânica. Já no oeste, comandado por Chapecó, o forte é o agronegócio, com plantio de grãos e criação de aves e suínos. Ao norte, na região de Itajaí (e do porto homônimo), firmaram-se atividades ligadas a exportação e logística. Mais ao centro, no Vale Europeu, com cidades como Blumenau, Brusque e Pomerode, se concentra a parte têxtil. Na Grande Florianópolis, parte mais litorânea, a economia se desenvolveu em torno de turismo, serviços (em especial tecnologia) e comércio. E mais ao sul, em volta da região carbonífera de Criciúma, instalaram-se indústrias de cerâmica, tintas e vernizes.

Segundo o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Pablo Bittencourt, a diversificação foi fruto dessa combinação de fatores. “A criação dos polos produtivos é a união do conhecimento dos colonizadores com a disponibilidade de recursos naturais em cada local”, diz. Foi natural, portanto, que no oeste a produção rural acabasse atraindo a agroindústria, como os grandes frigoríficos.

“Estrangeiros também trouxeram o espírito empreendedor ao catarinense”, diz o secretário da Indústria, do Comércio e do Serviço de Santa Catarina, Silvio Dreveck. E não são apenas grandes empresas. Pequenos negócios estão espalhados por todo o Estado. Tanto que só nos primeiros quatro meses deste ano Santa Catarina gerou mais de 55 mil empregos - há ainda cerca de 6.000 vagas abertas - e registrou mais de 40 mil novas empresas. “Hoje temos praticamente 88% da população com emprego formal. E as microempresas são responsáveis por 55% desses empregos”, afirma o secretário.

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Com Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 455,6 bilhões em 2022, 3% a mais que em 2021, o Estado tem no setor de serviços a maior força propulsora para o aumento da cifra. Até abril deste ano, o segmento foi responsável pela geração de 66,2% da riqueza no Estado. A indústria responde por pouco mais de um quarto do PIB, enquanto a agropecuária representa 6%. Para Dreveck, é justamente essa soma de vocações que ajudam a fomentar o crescimento contínuo. “Somos o segundo Estado mais competitivo do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo. Isso se deve à grande diversidade, que nos ajudou inclusive a superar a pandemia”.

Apesar disso, o Estado ainda tem muitos desafios para se manter competitivo, como a qualificação da mão de obra para atender aos diferentes tipos de indústrias. Há acordos com o Senai para treinamento técnico de jovens ainda no Ensino Médio nas escolas públicas, e o governo prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão para melhorar o sistema viário, com recuperação de rodovias, portos, aeroportos, bem como o saneamento básico. Também serão investidos R$ 5 bilhões em energia nos próximos três anos, para melhorar o sistema de distribuição.

O governo criou uma nova secretaria - a de Tecnologia e Inovação - para fomentar polos tecnológicos e atrair novas companhias, mas, para que empresas se instalem em Chapecó, será preciso investir mais em infraestrutura, afirma o prefeito João Rodrigues. “Temos mais de 20 grandes plantas frigoríficas exportadoras, de onde saem mais de 1.500 caminhões por dia, e a logística é ruim”, afirma. A região fica a 500 quilômetros do porto mais próximo, e as rodovias que ligam o interior ao litoral são de pistas simples. Há estudos para que um ramal ferroviário da Nova Ferroeste faça a ligação entre Chapecó e Cascavel, no Paraná. Apesar do ganho logístico para a indústria local o ramal pode afetar as receitas do Estado, já que a exportação seria pelo porto paranaense de Paranaguá, e não pelos catarinenses.

Rodrigues diz que o agro acabou puxando a cadeia produtiva, como empresas de máquinas, equipamentos e outros implementos, para a região. Essa cadeia soma 60% da arrecadação municipal - cerca de R$ 2 bilhões - e impulsionou o crescimento paralelo de serviços, construção, saúde, comércio. “Uma coisa puxa a outra. Mas a mão de obra é deficitária, apesar da chegada de 15 mil imigrantes”, disse. A cidade tem, hoje, 255 mil habitantes.

Enquanto Chapecó enfrenta a distância, Joinville está mais próxima de cinco portos e três aeroportos, o que ajudou a impulsionar a produção metalmecânica. “Temos condições logísticas para importação e exportação”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação do município, Fernando Bade. Mas a região, sede de empresas centenárias fundadas por imigrantes, também tem falta de mão de obra qualificada. A demanda é suprida, em parte, com treinamento feito nas próprias indústrias.

A diversificação do Estado, aliás, levou ao surgimento de um sistema diferenciado de educação. Associações de municípios divididas pela vocação da região produtora foram responsáveis pela criação de universidades comunitárias e passaram a suprir a formação diferenciada para cada atividade. “Foi um jeito para que esse ecossistema criado em Santa Catarina conseguisse se manter. Todos os ganhos são revertidos para investimentos na educação”, explica o professor e coordenadora do Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e Inovação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Thiago Rocha Fabris.

Assim surgiram universidades como Unesc, Unesf, Univille, Unichapecó, Uniplac, Furg e outras que contribuíram para o desenvolvimento regional e sustentaram a diversificação econômica. “Tudo isso ampliou a competitividade e a qualidade de vida no Estado, além de manter os jovens em suas regiões”, acrescenta a também coordenadora do Observatório e professora de inovação da Unesc, Melissa Watanabe.

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