Especialista compara juros no Brasil e nos Estados Unidos; entenda o que impacta o cenário doméstico

Isso acontece porque, após anos de juros baixíssimos nas economias desenvolvidas, o cenário mudou. Como resposta a crise de 2008, os bancos centrais mantiveram taxas de juros muito baixas, como uma tentativa de reanimar a economia. Mas, após a pandemia, vimos uma escalada da inflação, a qual atingiu o maior patamar em 40 anos nos Estados Unidos. Como resposta o Fed elevou juros para combater o avanço dos preços. A instituição levou a Federal Funds Rate (taxa básica de juros da economia) a 5,25% a 5,5% ao ano.

Pelo fato de a taxa básica balizar os rendimentos de todos os títulos públicos e privados, houve um aumento generalizado nos rendimentos desses instrumentos, que também estão ao alcance do investidor brasileiro.

“Atualmente você tem a maior taxa de juros desde agosto de 2007. E, excluindo agosto de 2007, você só encontra juros no patamar atual lá nos anos 2000. Hoje você consegue investir e ser remunerado em 5% ao ano ao investir em um título de renda fixa, algo que você não via há muito tempo”, diz William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da Avenue.

Atualmente os títulos de prazo mais curto remuneram uma taxa superior que títulos de prazos mais longos. No entanto, bonds de longo prazo podem garantir uma taxa por mais tempo, reduzindo o risco de reinvestimento. “Se você compra um título curto, o vencimento é em 12 meses e aí, quando for investir de novo, 12 meses adiante, talvez você não encontre aquela taxa que tinha no passado. Já um título longo permite travar essa taxa por um prazo maior, o que é uma vantagem”, explica Alves. 

O investidor brasileiro pode comprar um título emitido pelo Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) e manter essas taxas por vários anos. Confira artigo do blog da Avenue para aprofundar mais o entendimento sobre esse mercado.

A solidez da economia e das instituições também ajuda a explicar por que a taxa de juros norte-americana é estruturalmente mais baixa do que no Brasil. Em todas as economias, o nível estrutural de juros é resultado de diversas forças e conjunturas, como segurança institucional e política, ambiente de negócios, inadimplência, histórico de inflação e trocas de moeda.

Em mercados desenvolvidos como o dos Estados Unidos, os títulos são em sua maioria pré-fixados. Quem compra esses papéis fica exposto a oscilações nos juros e índices de preços, porém essas oscilações são menores em uma economia estável.

O Brasil tem um histórico de instabilidade política e econômica, momentos de maxidesvalorização cambial e hiperinflação. Nesse contexto volátil, o mercado de renda fixa se desenvolveu oferecendo ampla variedade de títulos pós-fixados ou atrelados a índices de preços.

Com a flexibilização gradual da política monetária nacional, a taxa Selic terminou 2023 em 11,75% ao ano. Se por um lado os juros altos propiciam rendimentos elevados, por outro, o risco-Brasil, a desvalorização cambial e a inflação corroem esses ganhos em um ambiente econômico instável. Portanto, investir em renda fixa no exterior amplia e protege o patrimônio quando o poder aquisitivo é analisado em dólares ao longo do tempo.

“O retorno composto dos investimentos em renda fixa no exterior — ou seja, a valorização da moeda mais a rentabilidade do título — se mostrou superior ao dos investimentos em renda fixa no Brasil nos últimos dez anos. Na verdade, nesse período, o dólar sozinho já bateu o CDI”, diz Alves, se referindo à taxa do Certificado de Depósito Interbancário, usada para remunerar ativos no mercado local.

Quando a comparação entre os rendimentos obtidos com títulos no Brasil e no exterior incorpora o câmbio, o investidor percebe que pode ter um retorno maior com os bonds em um horizonte mais longo.

“Muita gente olha o exterior só como alternativa de renda variável. O mercado americano de renda variável é o maior mercado do mundo, o que mais entregou retorno na história, mas também existe a alternativa da renda fixa”, lembra Alves. “Você tem o benefício de diversificar geograficamente e ainda tem o benefício da valorização do dólar diante do real.”

A comunicação recente dos integrantes do Federal Reserve sinaliza que a taxa básica nos Estados Unidos deve ser mantida em 5,5% durante os primeiros meses de 2024. No entanto, o cenário mais benigno de inflação e a potencial desaceleração da economia americana abre espaço para que o Banco Central americano possa reduzir as taxas ao longo do ano.

“Diante desse cenário, o que a gente vem falando é que é hora de aproveitar. Se não ceder, tudo bem, você vai comprando títulos e travando, contratualizando essa taxa. Mas e se vier a ceder? Talvez você não consiga mais investir com essa taxa mais elevada, então é o momento de aproveitar.”