Brasil e Política

Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo


O IPCA-15, conhecido como 'prévia da inflação', subiu 0,39% em junho ante maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador desacelerou ante o visto em maio, quando subiu 0,44%.

Nos últimos 12 meses, no entanto, o IPCA-15 acumulou 4,06%, acima dos 3,70% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em junho de 2023, a taxa foi de 0,04%.

O índice ficou abaixo da mediana das expectativas das 33 casas ouvidas pelo Valor Data, que apontava para uma inflação de 0,43%. As projeções iam de uma alta de 0,3% a um avanço de 0,51%.

Diferença do IPCA-15 para o IPCA

Embora seja conhecido como "prévia da inflação" por antecipar o IPCA, o IPCA-15 mede nada mais, nada menos do que a própria inflação mesmo, só que em outro período.

A diferença prática em relação ao IPCA é que a "prévia" mede a inflação dos dias 15 de um mês e outro, enquanto a inflação "oficial" mede a variação do mês início ao fim daquele mês fechado.

E o que isso significa para o meu bolso?

Um dos efeitos mais diretos da inflação é sentido no bolso dos consumidores na hora de fazer suas compras. Afinal, a inflação mostra que, de forma generalizada, as coisas estão mais caras. Uma segunda consequência da alta dos preços está nos investimentos. Isso porque o aumento (ou corte) da taxa de juros depende da inflação. Afinal, um dos de instrumentos que o Banco Central tem para controlar o aumento dos preços é mexer na Selic.

Assim, quando a inflação está alta, a autoridade monetária sobe os juros, a fim de "encarecer" o dinheiro. Portanto, os empréstimos e financiamentos (tanto dos consumidores como das empresas) ficam mais caros. Assim, há menos consumo, menos dinheiro em circulação. Com isso, os preços tendem a voltar a cair. Com isso, a inflação entra nos eixos novamente.

Por outro lado, se a alta dos preços está controlada, o Banco Central pode cortar os juros (e, portanto, "baratear o dinheiro") para incentivar que as pessoas e empresas gastem sem que isso compromta o bolso delas, já que a inflação está em ordem. E isso serve como um estímulo para a economia crescer.

Atualmente, o Banco Central interrompeu a sequência de cortes da Selic que vinha desde agosto do ano passado. A razão para a mudança foi justamente a preocupação com a inflação.

Na ata da última reunião do Copom, o BC informou que o cenário ficou mais desafiador e "as expectativas de inflação apresentaram desancoragem adicional desde reunião anterior", quando a autoridade monetária diminuiu o ritmo de cortes, que vinha sendo de 0,5 ponto percentual, para 0,25 ponto percentual apenas.

Para quem não sabe, essas "expectativas desancoradas" nada mais são do que as projeções da inflação distantes da meta perseguida pela autoridade monetária no chamado "horizonte relevante" da política monetária. Neste caso, 2024 em diante. Nos próximos anos, a meta é de 3% ao ano, mas as projeções dos economistas ouvidos pelo Boletim Focus mostram que as expectativas são de uma inflação superior a esse patamar. E o pior: essas projeções aumentam de semana a semana, o que evidencia a preocupação do mercado.

No documento, o Banco Central afirma que "a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente" e reforçou que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".

O comunicado sugere, portanto, que o futuro da Selic depende de indicadores futuros, especialmente do que deve acontecer com a inflação. Portanto, ao mostrar uma desaceleração e vir menor do que o esperado, o IPCA-15 pode trazer um pouco de bom humor para o pregão.

O que subiu e o que barateou?

Segundo o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete tiveram alta no mês de junho.

O grupo "Alimentação e Bebidas" registrou a maior variação, com avanço de 0,98%, e o maior impacto, de 0,21 ponto percentual.

Na sequência, vieram os grupos "Habitação", com alta de 0,63% e "Saúde e cuidados pessoais", que subiu 0,57%. As demais variações ficaram entre o recuo de 0,23% de "Transportes" e o avanço de 0,30% de "Vestuário".

  • Alimentação

No grupo "Alimentação", a alimentação no domicílio acelerou de 0,22% em maio para 1,13% em junho. Segundo o IBGE, contribuíram para esse resultado as altas da batata inglesa (com avanço de 24,18%), do leite longa vida (com aumento de 8,84%), do arroz (que encareceu 4,20%) e do tomate (que subiu 6,32%).

No lado das quedas, destacam-se o feijão carioca (que teve queda de 4,69%), a cebola (que bareteou 2,52%) e as frutas (que caíram 2,28%).

A alimentação fora do domicílio subiu 0,59% e acelerou em relação ao mês de maio, quando havia tido alta de 0,37%. Segundo o IBGE, o resultado foi explicado pelas altas do lanche (de 0,47% em maio para 0,80% em junho) e da refeição (0,34% em maio para 0,51% em junho).

  • Habitação

No grupo "Habitação", houve alta de 2,29% na taxa de água e esgoto. Já a energia elétrica residencial subiu 0,79%. Já o subitem gás encanado barateou 0,10%.

  • Saúde e cuidados pessoais

A alta de 0,57% em "Saúde e cuidados pessoais" foi influenciada pela alta nos preços dos planos de saúde (que subiram 0,37%), decorrente do reajuste de até 6,91% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 4 de junho, com vigência a partir de maio de 2024 e cujo ciclo se encerra em abril de 2025.

  • Transportes

No grupo Transportes a queda de 0,23% foi influenciada pelo recup de 9,87% na passagem aérea. Em relação aos combustíveis, houve uma queda de 0,22% e registraram recuo nos preços: o etanol caiu 0,80%, o gás veicular barateou 0,46%, o óleo diesel caiu 0,42% e a gasolina teve queda de 0,13%.

inflação taxa de juros selic — Foto: Getty Images
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