Moedas e Juros

Por Marília Almeida e Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo


O dólar encerrou a sessão em alta firme ante o real nesta quarta-feira (26), após falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre arrecadação e inflação. Ao final das negociações, a moeda americana exibia valorização de 1,20%, a R$ 5,518, maior nível em mais de dois anos e meio. No dia 18 de janeiro de 2022, o dólar alcançou a cotação de R$ 5,559.

Em entrevista ao portal UOL, Lula disse que inflação está controlada e questionou a necessidade de corte de gastos. O presidente ainda afirmou que é preciso discutir se é necessário cortar gastos ou aumentar a arrecadação.

Em um momento no qual o mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, se encerra no fim deste ano e será substituído por um indicado do presidente, Lula fez questão de afirmar que "não indica presidente do Banco Central para o mercado", e sim "para o Brasil", e voltou a falar sobre a autonomia da autarquia, dizendo que não precisa de uma lei para garantir isso. "A gente vai avançar para o BC ter um plano de metas para o país crescer". Lula mencionou ainda que é necessário uma taxa de juros "compatível" para incentivar esse crescimento.

A fala de Lula de que não haverá a desindexação do salário mínimo da Previdência Social, algo que é defendido por Campos Neto, também colaborou para aumentar o nervosismo do mercado, além da dúvida colocada pelo presidente sobre a possível indicação de Gabriel Galípolo, atual presidente de política monetária do Banco Central, para o cargo de presidente do BC, relata Elson Gusmão, diretor de câmbio da corretora Ourominas. Na última reunião do Copom, Galípolo votou com Campos Neto a favor da interrupção da queda dos juros.

O presidente admitiu ainda que tem "divergências" com seu ministro da Fazenda, Fernado Haddad, quanto aos rumos da política econômica. Apesar disso, defendeu que esses desentendimentos são "saudáveis" e que mantém "100% de confiança" no chefe da pasta.

As falas do presidente continuam a embutir no real a percepção de aumento do risco de descontrole das contas públicas. Nos últimos dias a moeda americana sobe firme ante o real tanto por conta de sinais de resiliência da economia americana quanto por falas de membros do governo, que deixam investidores com dúvidas sobre se o risco fiscal do país deve piorar e se o BC será mais leniente com a inflação a partir do ano que vem.

Para piorar, a valorização global do dólar vista ontem continua na sessão de hoje, aponta Gusmão, da Ourominas. Isso porque o mercado aguarda a divulgação de um novo índice de inflação americana, na sexta. Caso a alta dos preços fique acima do que o mercado espera, pode praticamente eliminar a chance de o banco central americano (Federal Reserve, o Fed) cortar os juros neste ano, o que pressionará ainda mais o real, explica Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos.

Diante de dúvidas, o mercado sempre prefere ativos menos arriscados, como o dólar, que é beneficiado pela manutenção da taxa de juros americana, complementa Gusmão. Mas, diferente de ontem, hoje a questão fiscal é o principal impulsionador da alta, analisa Viotto.

"Chegamos aos R$ 5,50, conforme havíamos previsto. A expectativa de que governo poderia buscar cortar gastos, o que poderia dar alívio ao real, acabou não ocorrendo e a menção de aumentar a arrecadação não pegou bem. Enquanto houver barulho político no Brasil e expectativa sobre para onde vai inflação lá fora, o dólar vai subir contra o real"

O economista-chefe da casa de análises Suno, Gustavo Sung, ressalta que a moeda brasileira continua apresentando uma das piores performances entre as moedas emergentes em 2024. A moeda desvalorizou principalmente a partir do meio de abril, quando houve mudanças nas metas fiscais e começou a ser registrada uma falta de direcionamento no discurso de membros do governo.

Ontem (25), a moeda voltou a subir e fechou acima dos R$ 5,45, refletindo não só o mau humor global como as falas da dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Michelle Bowman, que afirmou que os juros só devem cair nos Estados Unidos em 2025. Com isso, a moeda americana ganhou força e os ativos e mercados mais arriscados (como a bolsa brasileira) perderam apelo.

Dólares — Foto: Getty Images
Dólares — Foto: Getty Images
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