Bolsas e índices

Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo


Investimentos em ações boas pagadoras de dividendos são frequentemente associados à renda extra, afinal, os investidores contam com o "pinga-pinga" dos proventos pagos ao longo ano. Mas eles podem ser ainda mais eficientes para quem deseja aumentar o patrimônio no longo prazo, segundo especialistas ouvidos pelo Valor Investe.

No entanto, o investidor deve entender que, mesmo essa estratégia que foca em companhias mais consolidadas, pode sofrer fortes solavancos, a exemplo do que ocorreu na sexta-feira com a Petrobras.

A empresa, que foi a maior distribuidora de proventos da bolsa por dois anos seguidos, anunciou que não irá pagar dividendos extraordinários referentes aos resultados do quatro trimestre de 2023. Em vez disso, pagaria somente o mínimo previsto na política da empresa, que no momento se resume a R$ 14, 2 bilhões. O volume, 19% abaixo do que foi distribuído no trimestre anterior, frustrou o mercado, que esperava algo em torno de R$ 19 bilhões em dividendos.

O impacto negativo foi enorme e imediato, e a estatal viu seu valor de mercado afundar, com as ações caindo até 13% em determinados momentos do pregão de sexta-feira, dia seguinte à divulgação do balanço do quatro trimestre. Além da frustração com o volume abaixo da expectativa, o anúncio reavivou um velho temor do mercado, que andava de escanteio: o da interferência política na empresa.

Mas uma carteira diversificada de boas pagadoras de dividendos pode amenizar esse tipo de impacto repentino. E a estratégia mostra que tem seu valor. Em um período de 15 anos, encerrados em fevereiro de 2024, o índice das melhores pagadoras de dividendos da B3 (IDIV) ultrapassou o Ibovespa em rentabilidade, atingindo um retorno de 491% contra 228% do principal índice acionário da bolsa (veja o gráfico). Na comparação de dez anos de investimentos, o Ibovespa não passa tanta vergonha: acumula 171% de rentabilidade em comparação aos 180% do IDIV. Já no recorte de cinco anos, o índice de dividendos também se destaca, com o dobro de rentabilidade: 66,34% contra 32,47% do Ibovespa.

Não é que um investimento no Ibovespa seja ruim. Aliás, o retorno total de qualquer aplicação de renda variável sempre vai depender do período que vai da data de investimento ao resgate - esse intervalo é que dita os ganhos. No fim das contas, nos recortes analisados aqui, a principal carteira teórica de ações da bolsa ganha da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em todas as simulações: de cinco, dez e 15 anos. Isso significa que há ganho real na aplicação. Mas historicamente, o IDIV vai além.

“Os dados mostram que a estratégia de dividendos, além da clássica vantagem de oferecer retornos periódicos aos cotistas – que podem ser reinvestidos ou resgatados – é vencedora e resiliente no longo prazo”, afirma Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável da Inter Asset.

Com paciência, conhecimento de mercado (ou boa assessoria), é possível turbinar os ganhos por meio do reinvestimento dos dividendos. É um dinheiro que entra na conta isento de imposto de renda e pode ser multiplicado novamente ao voltar para o mercado. O investidor tanto pode escolher um fundo voltado para essa tática, quanto pode selecionar alguns papéis por conta própria, que é uma alternativa um pouco mais trabalhosa.

"Muitos investidores abandonam a renda variável por entrarem nos momentos de euforia do mercado, comprarem ações na alta e venderem na baixa. É importante ser fiel à estratégia. Não se distrair. Ao contrário do que muitos pensam, investimento em renda variável só deve fazer parte da estratégia de médio e longo prazo de um investidor", diz Wendell Finotti, presidente e fundador da Meu Dividendo, plataforma de antecipação de proventos.

Toda escolha, uma renúncia

Um ponto crucial para compreender a tese de dividendos e, assim, aumentar o patrimônio é que, na maior parte do tempo, as empresas que pagam bons dividendos consistentemente têm uma previsão de crescimento limitada. Ou seja, elas têm um potencial menor de valorização das ações na bolsa.

"As boas pagadoras de dividendos já estão bem consolidadas, não são [empresas] de crescimento. Em termos de preços de ação, esse papel fica um pouco mais estagnado", afirma Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter. Por isso, ela defende que o reinvestimento do dividendo recebido é fundamental para que se atinja a máxima rentabilidade no longo prazo.

"Pensando no longo prazo, o investidor que tem uma estratégia voltada para dividendos precisa ter em mente que uma boa parte do sucesso é o reinvestimento. Seu patrimônio não vai aumentar se você ficar liquidando os ganhos", argumenta.

Recentemente, um caso que chamou atenção por entregar valorização de ação e ótimos dividendos foi justamente o da Petrobras, logo antes da polêmica que fez os papéis derreterem. Além de ter sido a maior pagadora de proventos da bolsa desde 2022, os papéis preferenciais deram um salto de 94% e os ordinários de mais de 70% em 2023. Ou seja, dividendos e alta das ações ao mesmo tempo, o melhor dos mundos.

No entanto, o gestor da Inter Asset, Rafael Cota Maciel, lembra que a política de distribuição de dividendos da empresa entra em xeque de tempos em tempos, ao sabor do governo. Desde o mês passado, o mercado já vinha apreensivo em relação a falas do presidente da estatal, Jean Paul Prates, que sinalizou que poderia haver uma redução na partilha dos ganhos com os acionistas.

Para se proteger de oscilações e surpresas, os especialistas batem na tecla clichê de montar uma carteira variada, porque até mesmo as estrelas dos dividendos têm momentos nebulosos, como bem mostrou a petroleira. "Diversificação é muito importante tanto para o investidor profissional quanto para pessoa física para se proteger de mudanças nas teses", diz Maciel.

Os papéis com melhores proventos se concentram em setores que contam com previsibilidade, como bancos, energia e água e esgoto. Para atingir uma carteira realmente protegida, os especialistas recomendam investimentos em diferentes áreas de atuação. Não adianta investir somente em bancos ou em elétricas. O pulo do gato está em escolher a melhor companhia de cada nicho para investir.

Ao optar por uma boa pagadora de dividendos, o investidor deve entender que os proventos serão o trunfo da aplicação e desapegar das expectativas de valorização das ações no mercado. Mas nem por isso o potencial de ganhos de um papel deve ser deixado de lado ao montar o portfólio.

Quando um papel deixa de se valorizar, ainda que pouco, ou começa a ter perdas fortes, esse prejuízo pode ser maior que os dividendos que ele paga. Por consequência, o saldo fica negativo para o investidor e a ação deixa de ser atrativa.

Maciel admite que as carteiras de dividendos costumam mudar pouco, porque ainda há poucas empresas com perfil mais sólido e selo de bom pagador de proventos. Mas o giro pode ser necessário, principalmente para evitar perdas, como quando há uma supervalorização de um papel. Nesses casos, o melhor é buscar outra ação do mesmo setor para substituí-la.

Para Wendell Finotti, da Meu Dividendo, um dos fatores-chave de sucesso de investimentos em renda variável é saber o momento certo de trazer um determinado ativo para o seu portfólio. "Por melhor que seja uma empresa, não se pode comprar uma ação a qualquer custo, muito menos em momentos de alta no mercado", completa.

Separando o joio do trigo

Além de diversificar e estudar bem o setor de cada papel, o investidor deve se atentar também à saúde da empresa, indo além do retorno de dividendo por ação, que é conhecido como Dividend Yield (DY). O cálculo é uma razão entre o valor do dividendo recebido e o preço da ação. Por exemplo, uma ação que tem um preço baixo e paga altos dividendos tem um dividend yield alto, o que costuma ser bem visto entre os investidores que gosta das empresas boas pagadoras de dividendos. Mas isso nem sempre é suficiente para defini-la como boa pagadora de proventos.

"É preciso analisar o histórico de distribuição de proventos de cada empresa-alvo. Os dividendos distribuídos no passado não garantem os dividendos futuros, mas é possível entender muito sobre o padrão usado pela empresa e quanto do lucro ela costuma dividir com seus acionistas anualmente", afirma Finotti.

Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da casa de análise Quantzed, diz que é preciso ficar atento à periodicidade dos pagamentos para ter certeza de que esses recursos são consistentes.

"Também é importante olhar a sustentabilidade desses dividendos. Se estão vindo do resultado recorrente ou se estão vindo de algum caixa que a empresa tinha excesso. Às vezes, pode ser algo pontual, como quando uma empresa vende alguma coisa e gera um caixa adicional. Nesse último exemplo, o retorno pode estar alto num ano e cair no seguinte. Então, isso tem que estar sendo considerado na conta", avalia.

Segundo o analista, este ano deverá ser melhor que 2023 para os acionistas que gostam de dividendos. Com o ciclo de juros em queda, a tendência é que as empresas reduzam seus custos e dívidas e tenham lucros maiores, consequentemente, distribuam o mesmo percentual, mas de um bolo (o lucro) maior.

"Nossa economia está melhorando aos poucos, então é esperado que as empresas que compõem o Ibovespa tenham um crescimento médio que vai entre 5% e 10% do lucro. Se os custos forem mantidos, isso se converte em dividendos maiores", afirma.

Piovesan destaca que empresas como Petrobras e Vale, que são do setor de commodities, ainda devem pagar bons proventos este ano. Mas elas costumam ter ciclos mais irregulares, que dependem muito da demanda de petróleo e minério e da capacidade de extração de cada uma.

A aposta do especialista em ações é que Itaú e Banco do Brasil devem se destacar na distribuição de dividendos este ano. Entre as empresas de menor porte, ele cita o setor de construção, que tem empresas que pagam bons dividendos. "Eu colocaria aqui a Plano&Plano e também o caso da Mitre, que são teses que também pagam bons dividendos", defende.

Dividendos — Foto: Getty Images
Dividendos — Foto: Getty Images
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