Bolsas e índices

Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo


Tudo que sobe desce? Às vezes, o mercado financeiro gosta de provar que sim. Só que no linguajar das finanças, o nome disso é "ajuste". Depois de cinco pregões no azul, a terça-feira, 25, foi de queda para o principal índice acionário da bolsa brasileira. Mas as razões do tremor vão além, incluindo risco fiscal, clima nos Estados Unidos e comportamento do mercado de commodities.

  • Neste pregão, o Ibovespa caiu 0,25%, aos 122.331 pontos, após atingir os 122.636 pontos na segunda-feira. Na última semana de junho, o índice ainda sustenta alta de 0,24% no mês. A queda acumulada desde o início do ano chega a 8,8%.
  • O volume de negociações teve mais um dia abaixo da média dos últimos 12 meses; o giro ficou em R$ 12 bilhões, ante a média de R$ 16,9 bilhões.

Um dos motivos para a queda de hoje foi o tal do ajuste. Este é um fenômeno comum em ativos de risco. Após sucessivas altas, os investidores vendem os papéis para auferir ganhos. Normalmente, eles compram na baixa e quando veem o saldo positivo se desfazem do investimento, o que eleva a pressão de venda (oferta) e derruba o preço dos ativos. Neste caso, ocorre a chamada "realização de lucros". Outro motivo para a correção, é quando o mercado revê os preços depois de algum momento de certa euforia. E ao reavaliar, acaba optando por vender (ou comprar, em determinadas situações) os ativos.

O que também tirou novamente o apetite dos investidores foi o crescente temor do risco fiscal. A situação do governo parece cada vez mais delicada e distante de alcançar o prometido déficit zero. Recentemente, foi a notícia de que o Plano Safra poderia sair mais custoso do que se imaginava que agravou essa percepção. Mas este é só mais um capítulo dos muitos que desafiam o cumprimento do arcabouço fiscal.

Sem atingir o zero a zero nas contas públicas, o governo passa a imagem de "gastador", o que pressiona os juros e o dólar. A exemplo do que ocorre com qualquer cidadão comum quando vai ao banco pedir um empréstimo, as taxas sobem quando o credor vê indícios de que o tomador de crédito (neste caso, o Brasil) seja um "mau pagador".

  • A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 reajustou de 10,55% para 10,57% de ontem para hoje. Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic;
  • Já para janeiro de 2033, escalou de 11,99% para 12,05%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior a preocupação com calote do governo ("risco fiscal", se preferir).

O dólar também foge quando os investidores sentem cheiro de calote. Para piorar a situação do real, as taxas de juros dos títulos públicos nos Estados Unidos (Treasuries) também tiveram um dia de alta, na espera por dados de inflação que serão divulgados na sexta-feira.

  • Assim, a moeda americana se valorizou 1,16% ante o real, negociado a R$ 5,45. Em junho, o dólar comercial acumula alta de 3,8%; no ano, está 12% mais caro.

Em 2024, não dá para avaliar os sobes e desces da bolsa, dos juros e do dólar sem olhar para os Estados Unidos. À espera de mais um importante dado econômico, o dia foi de cautela no mercado americano. Os juros subiram por lá, o que também contribuiu para o cenário de bolsa em queda e dólar e taxas em subida por aqui.

É difícil competir com taxas atrativas nos Estados Unidos, considerado a maior e mais estável economia do mundo. Os investidores preferem se resguardar na renda fixa americana a enfrentar os riscos de mercados emergentes como o Brasil.

Dessa maneira, o fluxo de investimentos se volta para os títulos do país, o que aumenta a demanda de dólar, encarecendo a moeda. Além do mais, juros altos lá fora pressionam as taxas locais, que precisam se tornar mais competitivas para despertar o interesse dos investidores.

Mas não foi só realização de lucros, Estados Unidos e risco fiscal que deram uma rasteira no Ibovespa. O recuo no preço das principais commodities exportadas por empresas brasileiras também empurrou o índice para o vermelho.

A desvalorização do minério de ferro nos últimos dias, em que chegou à mínima em dois meses, contribuiu para derrubar a cotação de empresas como a Vale (VALE3), que tem enorme peso no Ibovespa, e outras companhias do setor. As petroleiras, incluindo a Petrobras (PETR3; PETR4) tiveram um pregão de leves perdas. O petróleo também registrou queda, após altas recentes.

Das 86 ações do Ibovespa, 57 tiveram queda e 27, alta. Dois papéis ficaram estáveis.

O mau humor não se limitou ao Brasil. Nos Estados Unidos, as bolsas também tiveram um dia difícil. Contudo, índices como S&P500 e Nasdaq foram salvos por papéis de tecnologia (leia-se Nvidia).

Contraponto

Para Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) foi um contrapeso no clima de mau humor do mercado. Apesar de o texto não trazer grandes surpresas em relação ao comunicado da autoridade monetária, que manteve a taxa básica (Selic) a 10,50% ao ano na semana passada, ele reforça a retórica de que os juros devem permanecer altos, na casa dos dois dígitos, por bastante tempo. Mas também demonstra claro compromisso do comitê de manter o índice de preços domado.

De acordo com Felipe Castro, planejador financeiro e sócio da Matriz Capital, a postura do comitê é tida como vital para contrabalançar a postura perdulária do governo. "Os juros persistentemente altos, contudo, fazem peso na bolsa brasileira na medida em que desincentivam o fluxo de capitais da renda fixa para a renda variável", afirma.

O lado amargo da política mais conservadora é que um ambiente de juros altos se torna mais hostil para ativos de risco. Por um lado, deixa a renda fixa imbatível, oferecendo retornos interessantes e previsíveis. Por outro, reduz o consumo, desacelera a economia e os investimentos em empresas. Além disso, aumenta o nível de endividamento tanto corporativo como das pessoas físicas.

 — Foto: Getty Images
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