Petrobras (PETR3; PETR4) faz gol contra e derruba bolsa às vésperas de superquarta

• O Ibovespa começou a semana com queda de 0,42%, aos 126.954 pontos. O resultado reduziu os ganhos acumulados em julho para 2,46%. No ano, o índice recua 5,4%;

• Com participação menor de investidores estrangeiros, o volume negociado na bolsa foi mais uma vez abaixo da média, girando em torno de R$ 13 bilhões;
• Veja aqui detalhes do pregão;

• O dólar teve um ajuste, caindo 0,57%, a R$ 5,62 após forte ano na semana passada. No mês, a moeda avança 0,66% ante o real e no ano, 15,93%;

O escorregão da Petrobras se deve, em parte, à queda no preço do petróleo. Mas vai muito além. Os investidores aguardam para conferir os dados do relatório de produção da empresa, para recalibrar as expectativas em torno dos lucros e dividendos no segundo trimestre de 2024.

Outro ponto que pode ter pesado contra a empresa hoje é possível oferta para obter uma parcela do campo de Mapone, na Namíbia. Desde o péssimo negócio feito em Pasadena (EUA) há mais de uma década, ainda há uma parte do mercado que não confia na estatal quando o assunto é comprar ativos no exterior. A petroleira brasileira disputa com ofertas de outras empresas como Exxon e Chevron, o que pode elevar o preço de compra.

Apesar de ser uma espécie de investimento, o dinheiro usado na transação reduziria o caixa e os dividendos da empresa no curto prazo. Considerando que o governo é o maior acionista, que recebe mais proventos, ficar sem essa receita só tornaria mais difícil cumprir a meta fiscal.

Mas não foi só a Petrobras que fez o Ibovespa sair perdedor deste pregão. Fica mais difícil de se interessar em investir em bolsa quando a crença é de mais inflação está por vir. Novamente, o Boletim Focus se ajustou à nova realidade, que configura um IPCA-15 acima das expectativas e um dólar nas alturas. Os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) passaram a ver ainda mais inflação em 2024 e 2025.

E quando se tem mais inflação, a mão do BC pesa para o lado dos juros. Por mais que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, 31, não deva trazer surpresas, a mudança nos dados podem interferir no comportamento da autoridade monetária de agora em diante.

É consenso que o Copom mantenha a taxa de juros a 10,50% ao ano. O importante é saber o que vem depois. A poucos dias do comunicado, quando o cenário poderá ficar mais claro, há investidores que pisam no freio antes de pular no alto risco de ativos de renda variável. Como se não bastasse, teremos uma superquarta à frente, com decisão também nos Estados Unidos.

Na esfera política, o noticiário também não é dos mais animadores. O déficit do setor público dobrou em um ano, correspondendo a uma parcela maior do PIB. "O setor público mostrou déficit nominal de R$ 135,724 bilhões em junho, o que mostra que ainda há um grande caminho para se percorrer referente as questões fiscais para melhora do cenário brasileiro", pontua Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

Se o mercado entende que o Brasil está mais endividado, ele se torna um ambiente mais arriscado, o que afungenta investidores. Para se mostrar atrativo, o país sobe o nível dos juros. Quando o dinheiro sai do Brasil, os impactos incluem aumento de taxas e desvalorização cambial do real.

Nesta segunda-feira, os juros futuros voltaram a subir, com exceção da ponta mais curta com vencimento em 2025:

• As taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 recuaram de 10,75% para 10,73%. Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic;
• Já para janeiro de 2034, saíram de 12,10% para 12,12%. Essas taxas mais longas costumam medir o tal do "risco fiscal", que é a capacidade de o governo manter as contas públicas em dia.

Apesar do bom resultado apresentado no balanço na semana passada, a Vale não sustentou alta expressiva nesta segunda-feira. A empresa mal conseguir ser um contrapeso para a Petrobras na balança de forças do Ibovespa. A mineradora sofre com as sucessivas quedas no preço do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China.

Carro chefe da Vale, mas está em desvalorização por conta da fraca demanda da China, que é seu principal importador. Enquanto a economia chinesa não acelerar, empresas do setor de mineração devem patinar. Neste ano, a Vale acumula queda de 16,7%, apesar de ter visto a produção e as vendas subirem.

Das 86 ações do Ibovespa, 63 registraram queda e somente 20 ficaram no azul.

Ações de varejo, que saem prejudicadas num cenário mais inflacionado também voltaram a cair. Já Usiminas continua em queda pressionada pelo resultado do balanço fraco e o andamento da briga judicial com a CSN. "Segundo fato relevante enviado à CVM nesta manhã, a Justiça decidiu que a CSN deverá diminuir a participação na companhia de 12,9% para menos de 5% do capital social", conta a especialista Hemelin Mendonça.