Empresas

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


Não faz tanto tempo que as startups ficaram mais próximas do investidor comum. Antes restrita a profissionais e fundos de risco para capital privado, a possibilidade de alocar em empresas fora da bolsa brasileira alcançou pessoas físicas só em 2013. Agora, 11 anos após o surgimento desse mercado, as fronteiras começam a se expandir com a possibilidade de abraçar um público maior.

As plataformas de investimentos coletivos em startups, ou equity crowdfunding, vêm fortalecendo suas parcerias com grandes instituições financeiras para ampliar seu raio de alcance no mercado. E pode ser que você já tenha até se deparado com elas no app do seu banco ou da sua corretora.

O ano de 2024 marca o início de um novo capítulo neste mercado. Se as ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) ainda parecem realidade distante para a bolsa brasileira, fora dela, o mercado está voltando a se aventurar.

“Tivemos uma melhora tímida em 2023, com maior volume de captação, mas esperamos recuperação dos volumes de investimentos mesmo no segundo semestre deste ano”, diz Igor Monteiro, diretor de investimentos da Eqseed, que está entre as maiores plataformas de investimentos coletivos em startups do Brasil.

Só não se engane. Entre o congelado e o aquecido existe o morno. E é este o ponto deste mercado hoje.

Embora a Eqseed deva abrir novas ofertas de investimentos em startups, o executivo só enxerga a plataforma voltando ao patamar de captação de 2021 (ano de recordes de investimentos nas startups) depois de 2025.

Por ora, o foco da empresa é dobrar o ritmo de lançamento das ofertas públicas até o fim do ano, de duas por mês para uma por semana.

Já a BEE4, que é um mercado de negociação de ações tokenizadas de pequenas e médias empresas (PMEs), projeta chegar ao fim do ano com 14 empresas listadas - 3,5 vezes o número de companhias negociadas no seu mercado atualmente - ou com captação total de pelo menos R$ 500 milhões em ofertas públicas.

As companhias negociadas na BEE4 devem ter de R$ 10 milhões até R$ 300 milhões de faturamento anual. É um mercado para as empresas que buscam se capitalizar e estão num estágio intermediário entre as plataformas de financiamentos coletivos e a o IPO na B3.

“Se fizermos menos operações, mas tivermos captações maiores, ainda estaremos dentro do nosso ‘plano de voo’ para iniciar o desenvolvimento do que consideramos ser um mercado pujante”, conta Patricia Stille, diretora-presidente (CEO) da BEE4.

Mas, diante de um horizonte de oportunidades nesse mercado em 2024, falta um elemento para fechar essa equação: com tanta oferta, onde estão os compradores?

Caça a investidores

Ambas BEE4 e Eqseed encontraram no Itaú um parceiro para expandir seu universo de investidor, o que atrai, a reboque, mais capital e interesse de empresas maiores. A primeira (BEE4) é apresentada apenas para clientes do segmento private, que têm pelo menos R$ 5 milhões investidos. Já a segunda (a Eqseed) aparece no app do Íon (plataforma de investimentos do banco) a investidores em geral.

As plataformas estão conectadas ao maior banco do país para a distribuição de ativos digitais. E Monteiro conta que a taxa de conversão do público que chega pelo Íon, de visitantes em investidores , é mais que o dobro da taxa histórica da Eqseed.

Mas a BEE4 se associou, além do Itaú, à Genial. “Na corretora, como estamos conversando com o público de varejo, a integração é no estilo home broker [sistema que conecta usuários da plataforma ao mercado para permitir a negociação de ações e ativos financeiros pelo app da corretora]”, conta Patricia.

Rogerio Calabria, superintendente de produtos de investimentos e previdência do Itaú Unibanco, detalha que os clientes que decidem investir em startups migram de uma plataforma para outra, o que quer dizer que o investimento não é feito com o banco, e sim centralizado no sistema do parceiro.

“Temos clientes com interesse e perfil para investir nessas empresas menores e em startups, por isso buscamos essas associações. Mas também temos a preocupação de fazer um trabalho educacional sobre esse tipo de investimento”, diz o executivo do Itaú.

A equipe do banco está atenta aos seus clientes que se aventuram nas plataformas parceiras. A vasta maioria está enquadrada como investidor de perfil agressivo, embora o valor médio alocado pelos clientes Íon em startups seja de R$ 8 mil atualmente, relativamente baixo para o mercado de capitais.

Isso porque os riscos envolvidos nesse tipo de investimento são elevados.

As participações em empresas menores carregam maior possibilidade de perda total do investimento pela falência do negócio, além da dificuldade de se desfazer do investimento, pois se tratam de mercados de baixíssima liquidez.

Há situações em que o investidor pode até estar sujeito à chamada de capital - dependendo de como a oferta foi estruturada -, que é quando há "convocação" para injetar mais dinheiro na companhia.

Segundo Calabria, a equipe do banco acompanha de perto essa movimentação. “Se víssemos muitos clientes conservadores da nossa base com tíquetes de R$ 50 mil nesses ativos, ou 20% a 30% do seu patrimônio, acenderíamos um alerta vermelho por aqui”, revela o executivo.

Além de o investidor precisar fazer o suitability (avaliação do grau de tolerância a risco) com o Itaú e com as plataformas, ambos os entes acompanham a aderência do cliente ao tipo de investimento que está fazendo.

“Se nosso cliente aloca um percentual elevado em um determinado produto que o desenquadra do seu perfil de investidor, nós o alertamos na hora, antes de executar o pedido. Caso a pessoa insista, ela ou assina o termo de desenquadramento ou precisará reavaliar seu perfil investidor”, afirma.

O Itaú, diz Calabria, também se abstém de qualquer recomendação de rodadas. “Isso exigiria um grau de conhecimento sobre os negócios, gente dedicada a acompanhar e visitar essas muitas empresas. Por ora, não temos isso. O que fazemos é apresentar uma solução. Pode ser que, no futuro, recomendemos uma cesta de ativos, de repente, mas esse mercado ainda precisa evoluir um pouco mais."

Toma lá, dá cá

O cenário para a BEE4 é distinto do da Eqseed ou outras plataformas de equity crowdfunding. Enquadrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em um ambiente experimental, conhecido como “sandbox” regulatório, é um mercado de negociação de ações tokenizadas.

De forma simplificada, tokens são representações digitais de ativos. Eles podem representar basicamente qualquer bem, de forma fracionada ou não. Nesses casos, equivalem a ações e participações nessas empresas.

Os investimentos mínimos em plataformas de equity crowdfunding dependem da oferta estruturada, mas, geralmente, partem de R$ 1 mil. Há também um teto. A CVM instituiu uma espécie de “trava” para o investidor pessoa física comum, que pode alocar só até 10% de R$ 200 mil a R$ 1 milhão, considerando o valor da sua renda bruta ou de investimentos nessa faixa.

Na BEE4, o investimento mínimo varia conforme a cotação das ações de empresas listadas. Atualmente, são quatro: Engravida, Mais Mu, Plamev Pet e Eletron Energia.

O crescimento desses segmentos, somado à necessidade de um mercado secundário para negociação desses ativos, por fim, chamou a atenção da B3.

Há pouco tempo, a bolsa anunciou uma solução que possibilitará a tokenização dos Contratos de Investimento Coletivo (CICs) e dos ativos emitidos nas plataformas de crowdfunding durante as captações primárias.

Esses tokens poderiam ser negociados pelas plataformas que utilizam a tecnologia da B3 para fomentar um mercado secundário desse tipo de ativo.

Na outra ponta, as plataformas traçam planos para expandir as parcerias a outras instituições este ano. A Eqseed, que tinha contrato de exclusividade com o Itaú até o fim do ano passado, espera se associar a outros parceiros a partir de agora, conta Monteiro.

Com um empurrão de lá e outro de cá, esse novo mercado cresce e vai se moldando. E a entrada de agentes de peso no jogo aumenta as chances de os planos dessas companhias fechadas se concretizarem. Resta saber quando.

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