Hora de Investir

Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo


No balanço das aplicações financeiras do primeiro trimestre, a renda fixa confirmou o posto de alternativa mais rentável — e segura — para o investidor. A bolsa frustrou, por boa parte do tempo, o ímpeto mais oportunista para aproveitar preços aparentemente baratos, mas a apresentação do novo plano fiscal do governo começa a atrair fluxo novo para as ações. No ano, o Ibovespa ainda acumula desvalorização de 5,5% até o dia 30. Ações ligadas a consumo caíam quase 10%, pela dependência do crédito. Na liderança entre ativos tradicionais estavam o ouro, com ganhos de 5,2%, e o IMA-B 5, de títulos públicos atrelados à inflação, com prazo de até cinco anos (+4,5%). Com o IPCA projetado em 2,1%, há ganho real.

A chegada da proposta de nova regra fiscal ao Congresso nesta quinta-feira tem potencial para melhorar o humor dos agentes financeiros e realimentou previsões de que a Selic possa cair dos 13,75% atuais já neste ano. Com a esperada convergência da inflação para a meta, abriu-se assim espaço para o alongamento das posições em estratégias ligadas a juros e algumas posições táticas em bolsa, segundo Ruy Alves, gestor de fundos macro global da Kinea Investimentos.

“A gente continua achando que o crédito vai ser mais restritivo, o crescimento difícil, mas falando em bolsa, se começa a ceder a parte média e longa da curva de juros, via uma inflação mais convergente e um arcabouço fiscal crível, isso sim beneficia a bolsa”, afirma o gestor. Com resgates nos fundos de ações e a recente saída dos estrangeiros, que vinham balanceando as vendas do investidor local, o lado técnico parece ter ficado mais favorável também, porque os preços das ações refletem uma percepção muito pessimista.

Nos contratos de juros futuros, as projeções vinham sendo reduzidas para os próximos meses, mas para 2024 já recuperam terreno, sinalizando que a queda parece não ser sustentável, diz Alves. Dentro da Kinea, a expectativa é que a inflação entre em rota de declínio, por isso a decisão foi alongar as posições aplicadas (apostando na baixa) em taxas para esse período em que os agentes financeiros embutem novas altas.

O Brasil saiu de juros reais [descontando a inflação] de -5% para +8% num período de menos de dois anos e isso começa a afetar a economia. E esse instrumento é como pescar com dinamite, quem está jogando dinamite não sabe quanto tem que jogar. Primeiro, morrem os peixes pequenos, depois as tainhas e atuns e quando morre a baleia você percebe que jogou demais”, diz Alves.

O mundo desenvolvido também está em pleno “processo de pescaria com dinamite”. O gestor cita problemas nos fundos de pensão no Reino Unido, a quebra do americano Silicon Valley Bank (SVB), o resgate do First Republic e a venda apressada do Credit Suisse ao UBS como fenômenos decorrentes de condições financeiras mais apertadas. No Brasil, o endividamento das famílias que vai abalar o consumo em 2023.

O cenário é ainda de juros reais que “parecem uma miragem, que não podem existir na prática, e vão se desfazer por bem ou por mal”. prossegue Alves. “Sem superávit primário e sem crescimento, não há como estabilizar a dívida pública.” Significa dizer que se o plano fiscal não resgatar a credibilidade que se espera, o prêmio gordo do juro real se converte em inflação.

Para pessoa física, ter posições em Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B ou Tesouro IPCA+), que asseguram a correção pelo IPCA mais 6%, nos preços atuais, é “um presente para o rentista”, diz o gestor. “Para os fundos, são outros quinhentos por causa da marcação a mercado, mas para quem pode, pega e carrega isso.”

Para quem tem capacidade para tolerar a alta volatilidade e consegue olhar para além do horizonte de curto prazo, há boas perspectivas de retorno seja na renda fixa, seja na bolsa, diz Philipe Biolchini, executivo-chefe de investimentos (CIO) da Bradesco Asset Management. Com juros nominais superiores a 13% e reais em 6%, a tendência é ter retornos muito atraentes na volta de um ambiente mais normal. “Vale também para a renda variável, com ativos negociados com desconto marcante, mas tem a concorrência da taxa de juros e o impacto da atividade mais fraca nas receitas e despesas das empresas”, prossegue o executivo. “Para quem tem visão de longo prazo é um bom momento de compra.

Para ir além do CDI, Biolchini diz que depende do objetivo e do perfil. “Se você está entrando agora num ativo de risco, tem que entender o ‘valuation’ dele e estar preparado porque vai oscilar, tem que estar consciente de que está comprando barato.”

No Santander, a principal orientação nos últimos meses casou com a demanda por alternativas de renda fixa, segundo o estrategista de investimentos Arley Junior. Para a bolsa, a indicação estava um grau abaixo da exposição estrutural. Exceto para o perfil conservador, isso significa manter uma fatia em ações na carteira.

“O ciclo de aperto monetário trouxe juros mais altos, mas em algum momento vai ser suficiente para levar a inflação para a meta e o BC encontrar espaço para cortar juros. O mercado de renda variável tende a surfar bem nesse cenário. O investidor não precisa esperar isso acontecer para estar posicionado, porque o nível de preços atuais já representa uma oportunidade.”

O Santander mantém a projeção de 122 mil pontos para o Ibovespa até o fim do ano. Para a Selic, o banco espera uma redução para 11% em 2024 e só em 2025 voltaria à casa de um dígito, para 8% ao ano. Os dados podem ser revisados, conforme os desdobramentos do plano do governo para o novo arcabouço fiscal. “É o principal tema do Brasil, crucial para a tomada de decisão de alocação. No mundo de hoje, com a leitura local e internacional, o melhor é ter cautela. Isso está refletido nas classes de ativos na carteira.”

Junior afirma que o cliente tem buscado ativos ligados ao CDI por causa da taxa alta, incluindo letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCIs e LCAs) e letras imobiliáris garantidas (LIGs).

Na carteira recomendada, o banco sugere notas estruturadas com proteção de principal e crédito privado de empresas de primeira linha. Junior cita que houve momentos, na semana passada, em que tinha papéis no secundário pagando IPCA mais 7%, 8%, isentos de imposto de renda. “Mas quando a gente fala em crédito é buscar o risco pulverizado, pode ser via fundos ou pela compra direta, compondo uma carteira, pode ser uma alocação atrativa para todos os perfis.”

Na economia global o grau de incerteza é tão grande hoje que há argumentos convincentes tanto para a queda dos juros americanos quanto para novas altas, diz Biolchini, da Bradesco Asset. E isso importa porque a negociação de taxas nos EUA representa o mercado mais líquido do mundo e é determinante para a avaliação e rentabilidade de ativos em geral.

Há uma corrente que avalia que a crise no sistema bancário tende a se aprofundar, levando o banco central dos EUA a inverter o passo da política monetária, e há quem considere que as iniciativas tomadas são suficientes para estancar o problema e que é comum, num processo de aperto, haver vítimas pelo caminho. “Isso faz a expectativa de ganho, ajustada à volatilidade, pouco atrativa”, afirma Biolchin. Leva o investidor a portfólios mais conservadores e, por ora, “com a condição privilegiada de ter bom retorno, com baixo risco.”

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