Previdência Privada

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


Das máximas apregoadas no mercado de investimentos, uma ganhou força nos últimos anos: “quanto mais cedo se começar a investir em previdência privada, melhor”. À luz de um sistema previdenciário deficitário e das possíveis revisões que a Previdência Social deve sofrer num futuro não tão distante, esses produtos cresceram em público e alcance no mercado. Mas ainda estão concentrados nas carteiras de pessoas mais ricas e mais velhas.

É o que reflete um levantamento do Grupo W1 com base em dados de 12 mil investidores clientes da W1 Capital, escritório de assessoria de investimentos ligado à XP. As informações foram coletadas entre janeiro de 2023 e junho de 2024.

O público com menor exposição a ativos de previdência privada são os mais jovens. Esses produtos representam, em média, 3% das carteiras de alocação de investidores entre 18 e 22 anos.

A previdência privada é mais popular entre investidores dos 38 a 47 anos, faixa que concentra aproximadamente 10% da carteira nesses ativos. Investidores entre 48 e 52 anos têm cerca de 8% do portfólio alocado na classe, depois aparecem aqueles de 58 a 60 anos, com 7,3% do capital investido nesses produtos.

Exposição dos investidores a cada classe de ativo por faixa etária — Foto: Reprodução/W1
Exposição dos investidores a cada classe de ativo por faixa etária — Foto: Reprodução/W1

Na "foto", a explicação é simples: grana disponível e percepção de necessidade. O jovem investidor médio não tem tanto dinheiro disponível para alocação quanto um mais velho, geralmente estabelecido numa profissão e, no geral, com renda maior.

No mais, a aposentadoria se torna questão prioritária conforme a pessoa envelhece, enquanto, para profissionais mais novos, pode parecer uma realidade distante.

Já no recorte por renda, a exposição das carteiras a produtos de previdência privada é, em média, maior entre aqueles que têm entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão investidos com a W1 (10,87%), e os com com mais de R$ 1 milhão (10,38%) alocados.

Em contraponto, a exposição de pessoas com menos capital (até R$ 100 mil investidos) aos produtos de previdência privada é a menor entre todas as faixas de renda, de 6,69%, em média.

Distribuição das carteiras de investimentos, recorte por faixa de renda — Foto: Reprodução/W1
Distribuição das carteiras de investimentos, recorte por faixa de renda — Foto: Reprodução/W1

Os dados levantados pelo Grupo W1 também mostram uma relação inversa entre o tamanho do investidor e seu apetite por risco. Quer dizer, ao contrário do que se poderia esperar num primeiro momento, quanto maior a faixa de renda do investidor, maior é a alocação em ativos de renda fixa.

Essas concentrações podem ser explicadas por alguns fatores:

  • pessoas com renda menor buscam investimentos com mais liquidez, pois o capital investido pode ser necessário para complementar a renda em algum momento;
  • aqueles com mais capital investido têm condições de manter ativos na carteira por períodos mais longos por não dependerem tanto desse recurso. Portanto, títulos de renda fixa com vencimentos distante são opções alinhadas com estratégias para esses investidores;
  • por fim, é importante considerar que o grupo de “fundos de investimentos” do levantamento abrange todas as categorias, inclusive os fundos de renda fixa. Dessa forma, as posições em fundos de investimentos não necessariamente refletem mais apetite por risco entre pessoas com menos capital.

Evolução dos investimentos

Em todo o período do levantamento, de janeiro de 2023 a junho de 2024, o cenário muda um pouco de figura. A começar que, para o recorte por faixa etária, ele se inverte. Investidores das três faixas etárias mais jovens aumentaram as posições em previdência privada:

  • 18 a 22 anos: 1,8% de exposição em janeiro de 2023 para 2,9% em junho deste ano;
  • 23 a 27 anos: 2,5% de exposição em janeiro de 2023 para 3,6% em junho deste ano; e
  • 28 a 32 anos: 4,67% de exposição em janeiro de 2023 para 6,17% em junho deste ano (tendo alcançado 8% há dois meses).

Já os grupos com as maiores posições da carteira em previdência privada reduziram a alocação nesses últimos 18 meses. Investidores de 38 a 42 anos reduziram a alocação de 12,4% para 9,35% atualmente; enquanto os de 43 a 47 anos saíram de uma exposição de 11,3% da carteira à classe para 8,8% no mês passado.

Para as outras faixas etárias, as posições em previdência privada ficaram tecnicamente estáveis entre o começo e o fim do período analisado.

Uma das interpretações possíveis pelos dados apresentados no relatório da W1 é que haveria uma migração dos investidores mais jovens dos fundos de investimentos para fundos de previdência privada. Isso pode ter sido motivado pelo avanço da regulamentação que abriu as possibilidades para que esses veículos aloquem de forma diversa e mais rentável, já que a tributação da classe pode ser vantajosa em relação a outros fundos.

No encalço de mais rentabilidade, investidores das duas faixas mais jovens no levantamento, que têm entre 18 e 27 anos, aumentaram suas posições em renda variável, especialmente do segundo semestre de 2023 até junho deste ano.

Já no recorte por renda, o filme e a história contada são outros. Enquanto as alocações em previdência privada ficaram praticamente estáveis em outros grupos, investidores com mais de R$ 1 milhão aplicados aumentaram a posição em previdência privada de 4,7% em janeiro do ano passado para 9,8% em junho de 2024.

Pessoas com grandes fortunas têm migrado para outros papéis isentos ou veículos de investimentos com arquitetura tributária mais "leve" para o investidor, casos dos ativos de previdência.

A tendência começou forte no início do ano, quando a nova tributação e regras entraram em vigor, mas o movimento perdeu fôlego conforme o mercado se acomodou.

A partir de agora, dependerá da performance dos ativos de previdência conseguir - ou não - ganhar espaço dentro das carteiras.

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aposentado previdência alocação investimentos — Foto: Getty Images
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