Tesouro Direto

Por Naiara Bertão, Valor Investe — São Paulo

Você cansou de ganhar duas balinhas jujubas com o dinheiro na poupança? A gente entende e, mais, dá para ter ganhos melhores e com um risco ainda baixo. Foi esse cenário que levou muita gente a sair da velha poupança e ir para o Tesouro Direto. Apesar de muito falado, ainda há dúvidas sobre o que é, como funciona, o que come (amanhã no Globo Repórter!!!!), quais os riscos, e para quem é mais indicado o investimento no Tesouro Direto.

Aqui, também uma versão em vídeo com a explicação.

O que é Tesouro Direto?

O que é Tesouro Direto?

O que é o Tesouro Direto

O Tesouro Direto é um programa de venda de títulos públicos a pessoas físicas pela internet. Foi criado pelo Tesouro Nacional, que é quem emite os títulos públicos, em parceria com a B3 (antiga BM&FBovespa), a bolsa de valores brasileira, responsável pela custódia e liquidação das operações.

Os títulos públicos são papéis de dívida que o governo (Tesouro) emite para financiar suas atividades, que são muitas. Na prática, ao comprar um desses papéis, você empresta dinheiro para o governo brasileiro em troca de uma remuneração no futuro. O plano de quem empresta — neste caso, você — é receber o valor original emprestado mais os juros.

É uma operação comum no mundo todo. Mas o Brasil é um dos países que pagam os juros mais altos para quem topa comprar esses títulos. É considerado um investimento de baixo risco porque, em teoria, você só não recebe o combinado se o governo federal der um calote. Não que isso não possa acontecer. Mas, se o próprio governo não tiver dinheiro — que ele mesmo emite — para honrar os seus compromissos, é porque a coisa está feia. Antes de um cenário desses, as empresas já — e os bancos — já teriam ido pro vinagre.

Até 2002, antes de ser lançado o programa, as pessoas físicas só conseguiam investir indiretamente em títulos públicos, ou seja, por meio de fundos DI e de renda fixa, que por sua vez, compravam esses papéis. No entanto, muitos desses fundos ainda cobravam taxas de administração salgadas, o que afastava o investidor. Por isso, o Tesouro resolveu criar um programa para vender diretamente para as pessoas, reduzindo as taxas para o investidor.

Para quem é mais indicado investir no Tesouro Direto?

O investimento no Tesouro Direto pode ser uma boa pedida para qualquer pessoa: você, sua mãe, seu pai, seu filho. Mas ele é bastante indicado para aqueles que estão começando a diversificar suas aplicações, por serem fáceis de comprar e vender e terem baixo risco. Como investimento mínimo é baixo (apenas R$ 30), pode ser uma opção para qualquer pessoa que hoje esteja guardando aquele dinheirinho a mais na poupança ou no colchão (ai meus Deus!!!!) e queira um rendimento um pouco maior.

Os mais velhos podem ter boas lembranças. Mas a poupança Bamerindus já acabou e, portanto, não continua mais numa boa. Para quem carregar os títulos até a data de vencimento, o Tesouro sempre renderá mais do que a caderneta e, por isso, é uma boa alternativa para quem procura, além de segurança e liquidez, uma rentabilidade maior.

Alguns títulos à venda no Tesouro Direto são recomendados exatamente para as pessoas que não têm estômago pra ver o seu dinheiro subir e descer, como se estivesse numa montanha russa. O dinheiro aplicado na maior parte das opções disponíveis no Tesouro — nós lhe ajudaremos a apontar quais — costuma navegar em águas calmas, com pequenos solavancos, vez ou outra. Mas dificilmente algo que te jogue pra fora do bote.

Quais os tipos de títulos do Tesouro?

Os títulos públicos emitidos pelo Tesouro e vendidos a pessoas físicas variam conforme o rendimento contratado com o investidor. Basicamente, esses títulos se dividem em três tipos: Prefixado, Pós-fixado indexado na Selic e Pós-fixado indexado na IPCA.

Prefixados: são títulos que pagam um juro definido antes da aplicação. Quando falamos juros, neste caso, nos referimos a um número específico: 8% ao ano, 10,3%, ao ano, 15,7% ao ano. Ou seja, o investidor sabe exatamente quanto vai ganhar no vencimento do título. Se aplicou R$ 1.000 em um título prefixado que promete rendimento de 10% ao ano, depois de 12 meses esse papel vai ter rendido R$ 100 e o investimento saltou para R$ 1.100, ainda sem considerar a mordida do Leão (Imposto de Renda). Mas atenção: os títulos prefixados variam conforme a data de vencimento e, quanto mais distante, maior risco envolvido para quem tiver que sacar antes do prazo previsto.

Eles são indicados para quem acredita que a taxa de juros do País (a Selic) irá cair ou ficar em níveis estáveis, enquanto os seus títulos ficam ali, bonitinhos, rendendo a mesma taxa que tinha sido combinada inicialmente. Você pode encontrá-los com os nomes Tesouro Prefixado (antes chamado de LTN) e Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (antes chamado de NTN-F). Vamos combinar que ficou muito mais fácil entender o que é cada papel sem aquela sopa de letrinhas, que não queria dizer muita coisa para os mortais como a gente.

Pós-fixados: não existe apenas um tipo de título público pós-fixado. Hoje, o Tesouro vende dois tipos, os que acompanham a taxa básica de juros (Selic) e os que são atrelados à inflação (IPCA). A principal característica do título pós-fixado é que o investidor não sabe exatamente qual será seu rendimento no fim da vida do título, justamente porque seu indexador é variável. Exemplo: um papel que depende da Selic pode render menos se o Banco Central baixar a Selic. Por isso, o investidor que deveria comprar esse tipo de ativo é aquele que acredita que a Selic vai subir, por exemplo. Mesmo pertencendo à turma dos pós-fixados, esses dois títulos (indexado na Selic e indexado no IPCA) são bem distintos: eles se comportam de maneira diferente, têm riscos diferentes e são indicados para pessoas e situações diferentes. Vamos te explicar as diferenças entre cada um deles agora. Continue lendo.

  • Tesouro Selic – Por estar colado na taxa básica definida pelo Banco Central, o título Tesouro Selic (conhecido antigamente por LFT ou Letra Financeira do Tesouro) é considerado o título mais conservador entre os oferecidos pelo Tesouro. Comprando esse título, o investidor nunca perderá o principal investido, mesmo que tenha que sacar o dinheiro antes do vencimento. A cada dia, o valor investido cresce um pouquinho. Se a Selic acumulada no período de um ano for de 8%, o investidor sai com 8% de retorno antes da cobrança do Imposto de Renda. Se a Selic for de 12%, os mesmos 12% vão para o bolso do investidor. Essa é a aplicação mais recomendada para a parte do dinheiro que podemos ter que sacar no curtíssimo prazo em caso de emergência, ou se você acredita que a tendência é de alta da Selic. O problema é se a taxa básica cair ou ficar baixinha durante o período de investimento, porque aí o retorno também cai junto.
    Uma ótima notícia é que o Tesouro mudou em abril deste ano a regra de desconto pra quem saca antes do vencimento. Antes, havia uma diferença de 0,04% ao ano entre o preço que o Tesouro paga pelo título que compra e o que vende no seu site. Essa diferença, chamada de spread, é descontada do rendimento de quem decide resgatar antes do vencimento e, em alguns casos, estava fazendo o Tesouro Selic render menos do que a poupança (principalmente em quem resgatava em até seis meses) ! Por isso o governo resolveu se mexer (para incentivar o povo a sair da poupança e investir em títulos públicos, claro). Então, baixou esse spread de 0,04% para 0,01% ao ano.
  • Tesouro IPCA+ – Esse título, antigamente conhecido como NTN-B Principal, tem um modelo de remunerar o investidor diferente. Uma parte da remuneração contratada é a inflação, medida pelo IPCA, acumulada no período. Se o IPCA, for de 2%, 2% de correção. Se salta para 20%, é esse índice que vai corrigir a aplicação. Mas além da inflação, esse título também remunera o comprador com uma taxa de juros prefixada acima do IPCA. Nos últimos anos, esse “extra” oscilou perto de 5% ao ano. Atualmente, está um pouco mais baixa. No cardápio do Tesouro, você pode encontrá-los com os nomes de Tesouro IPCA+ (antes chamado de NTN-B Principal), Tesouro IPCA com Juros Semestrais (antes chamado de NTN-B). É um dos títulos mais arriscados porque pode oscilar bastante durante sua vida. É comum encontrar títulos com prazo de vencimento bem longos, às vezes mais de 10, 20 ou até 30 anos. O problema é que se você resgatar antes, pode até perder dinheiro. Por isso, se você acha que pode resgatar antes da hora, essa não é a melhor opção.

Para entender a característica e diferenças dos títulos públicos e decidir qual é mais adequado para seu perfil, leia nosso post ‘Na sopa de letrinhas do Tesouro Direto, qual a melhor opção?

Quais os riscos de se investir no Tesouro Direto?

É consenso no mercado que o investimento em títulos públicos é uma modalidade de baixo risco de crédito, mesmo não tendo a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), como outros investimentos têm. Num pequeno resumo, o FGC é uma entidade privada que garante depósitos bancários - seja de conta corrente ou de aplicações. Mas por maior que seja, assim como qualquer modelo de seguro, o FGC não se sustenta se todos os bancos quebrarem ao mesmo tempo.

Já os títulos do Tesouro são pagos em reais e, na pior das hipóteses, se o governo tiver algum problema financeiro, pode colocar a sua maquininha de emitir moeda pra funcionar e, assim, conseguir saldar suas dívidas. Essa medida, claro, se não for feita de maneira controlada, pode ter impacto inflacionário relevante e o dinheiro emitido não valer muita coisa. Mesmo assim, há dois fatores jogando a favor do Tesouro Direto. O primeiro é que, nesse cenário mais caótico de inflação em disparada, seu dinheiro não estará mais protegido na poupança. O segundo é que o título do tipo Tesouro IPCA te protege até mesmo do risco inflacionário.

Em todos os casos, é bom ficar claro que o nível de risco também depende de qual título público você escolher comprar e por quanto tempo vai carregá-lo na carteira. Se você resgatar antes do vencimento, por exemplo, pode ter alguma surpresa negativa no rendimento em algumas modalidades. Se o tempo que você pretende ficar com o dinheiro coincidir com o prazo do título, melhor — o risco de surpresas é quase nulo. A explicação é simples: existem diferentes tipos de risco, que não apenas o de calote. Entenda melhor os riscos de cada título público do Tesouro em “Posso perder dinheiro com o Tesouro Direto”.

Posso resgatar a qualquer momento meu investimento?

Sim! Até 2015, quem quisesse vender o papel antes do vencimento, só tinha um dia na semana para fazer o pedido. Agora, o Tesouro garante a recompra dos títulos de quem quer vender todo santo dia. Dia útil, porque santo também descansa. Se você pedir para resgatar a grana entre 9h30 e 18h, o preço é o do dia. Se só conseguir depois das 18h ou no fim de semana e feriados, o preço que eles vão levar em consideração é o da primeira hora do dia útil seguinte. Mas, vale dizer que das 5h às 9h30 o sistema não funciona, porque está em manutenção (ninguém é de ferro, não é?)

Outra coisa importante para quem tem pressa em pegar o dinheiro: nem sempre as coisas são rápidas e pode ser que o valor demore um dia útil para cair na sua conta. Então, não esqueça de considerar isso. O que você também não pode esquecer é que, se for apressadinho e quiser resgatar antes do vencimento, você pode não receber o que esperava porque os títulos oscilam. E, infelizmente, tem ainda o desconto do bendito (pra não falar outra coisa) Imposto de Renda. Veja mais sobre os custos de investir no Tesouro aqui.

Agora que você já entendeu o que é Tesouro Direto, para qual perfil de investidor ele é mais indicado e quais os títulos públicos que podem ser comprados, pode já começar a investir. Veja nosso “Passo a passo para investir no Tesouro Direto”. Lá explicamos como você pode começar agora mesmo a investir no Tesouro.

Mais recente Próxima
Mais do Valor Investe

O Ibovespa futuro abriu a sessão desta segunda-feira (01) em alta de 0,36%, aos 125.725 pontos. Os investidores repercutem as previsões do Boletim Focus, que voltou a mostrar mais pessimismo em relação à inflação e ao dólar neste ano

Ibovespa futuro abre em alta com Boletim Focus no radar

Semana tem ata da última reunião do Fed (o banco central norte-americano) e relatório de emprego 'payroll'

Dólar comercial inicia sessão em leve queda

Em trimestres em que certas despesas operacionais foram mais altas, a empresa “segurava” esses valores e não os contabilizava no período correto

Fraude na Americanas  travava o sistema e ‘empurrava’ despesa para frente

Os principais índices acionários europeus avançam na manhã desta segunda-feira,

Bolsas da Europa sobem puxadas por ganhos em Paris após eleições

O relatório do Banco Central apresenta as expectativas dos economistas para os principais indicadores econômicos do Brasil

Boletim Focus: Mercado volta a prever inflação e dólar maiores neste ano e em 2025

Casa do Pão de Queijo pede recuperação; ex-executiva da Americanas chega ao Brasil

Americanas (AMER3); Sabesp (SBSP3); Petrobras (PETR4): veja os destaques das empresas

A divulgação de dados sobre a atividade da China e do Japão animou os mercados na Ásia

Bolsas da Ásia fecham em alta com dados positivos da China e do Japão

Cesta Básica: tudo que você precisa para começar o dia bem informado

Em semana de ata do Fed e 'payroll' nos EUA, segunda tem Focus e Americanas no radar

Segunda parcela da taxa de custódia será debitada da conta de investidores de títulos públicos. É importante ter o valor devido no saldo

Investidores do Tesouro Direto terão de pagar taxa nesta segunda-feira, 1º de Julho

A companhia paulista de água e esgoto, nesse mercado, sempre foi vista como a 'joia da coroa'. O período de reserva termina no dia 15 de julho e a fixação do preço por ação será em 18 de julho

Vai comprar as ações da Sabesp na privatização? Começa hoje o período de reserva