Tesouro Direto

Por Cris Almeida, Valor Investe — Rio


Depois de abrir caminho para a popularização do Tesouro Direto, o RendA+, papel criado para complementar a aposentadoria dos investidores, comemorou seu primeiro ano de negociação no fim de janeiro. Nesse tempo, o título atingiu algumas metas estabelecidas pela Secretaria do Tesouro Nacional, entre elas: a parcela significativa de pequenos investidores e em idade próxima de deixar o mercado de trabalho.

Mas também foi um período de amargar frustrações: a quantidade de investidores esperados para um ano ficou bem abaixo das expectativas, assim como o volume investido por eles.

Chamado de Tesouro RendA+ (ou NTN-B1), o papel é corrigido mensalmente pela inflação. A diferença dele para o papel Tesouro IPCA+ (também disponível no Tesouro Direto) é que nele o investidor escolhe uma data para começar a receber a renda extra, que será paga por 20 anos, ou 240 meses.

As datas de resgate são entre 2030 e 2065. Se o investidor escolher começar a receber a aposentadoria complementar em 2030, por exemplo, ele terá direito ao valor mensal até 2050.

A renda mensal a ser recebida depende de quantos títulos foram adquiridos até a data escolhida. O investidor pode programar aportes mensais, por exemplo, ou fazer uma única compra. É possível começar a investir na modalidade com cerca de R$ 30 (fração do título).

“Observamos que o RendA+ muitas vezes pode servir como porta de entrada no programa. Os números indicam que 16% dos investidores que compraram o RendA+ não tinham outros títulos no Tesouro Direto”, escreveu a equipe econômica do governo.

Para 2024, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, pensa em novidades para o produto. “Esse é um ano em que os lançamentos vão se desenvolver, se consolidar mais. Ouvimos muitos feedbacks no final do ano passado, queremos melhorar a forma de investir no programa. Além disso, para os produtos já lançados nós temos planos de aumentar a quantidade de mulheres investindo, o RendA+ faz parte disso”, disse ao Valor Investe.

Balanço do primeiro ano

Em números reais, o Tesouro RendA+ atingiu 73 mil investidores no primeiro ano, bem abaixo dos três milhões esperados para encerrar 2023, conforme foi projetado pelo Tesouro Nacional quando o papel foi lançado, em 31 de janeiro do ano passado. Em estoque, o número chega a R$ 1,6 bilhão, representando 8% do Tesouro Direto.

O ticket médio do título no mês de lançamento era de R$ 8.930. Conforme foi se popularizando, o público do RendA+ foi ampliado e o valor de aportes por clientes caiu, chegando a R$ 765 no mês passado. O movimento indica que uma parcela maior de investidores pequenos e médios, público alvo do produto, tem se utilizado do investimento.

No quesito vencimento, o preferido dos investidores é o título de curto prazo, com conversão em 2049. O papel acumula mais de 22 mil pessoas até aqui. Já em estoque, acumula mais de R$ 567 mil investidos, quase a metade do título.

O segundo papel mais demandado, com vencimento em 2054, tem quase 16 mil pessoas posicionadas e um estoque de R$ 301 mil investidos. Juntos, os dois papéis somam mais da metade do número de investidores da modalidade.

"Ainda não está conseguindo se criar um comportamento de investimento de longo prazo, de quem pretende colocar dinheiro aos poucos e só lá na frente recuperar esse valor”, observa o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pierre Oberson.

Os mais fiéis ao RendA+ são os jovens entre 25 e 39 anos, que correspondem a 49% dos investidores do papel. O número vai em linha com a faixa etária predominante nos outros papéis oferecidos pelo programa. Em seguida, os mais próximos de deixar o mercado de trabalho, entre 40 e 59 anos, aparecem com 40%. Os jovens entre 19 e 24 anos estão em terceiro lugar entre os mais interessados no papel, com 5%.

"Quando a gente vê pessoas mais próximas da aposentadoria investindo significativamente no produto, quer dizer que há um descasamento entre o que o que foi desenhado e o que está acontecendo. Mas não chega a ser alarmante”, diz Oberson.

No quesito gênero, a modalidade revela uma das maiores preocupações da equipe econômica atual. O número de mulheres investindo no RendA+ não passa dos 35%, proporção encontrada nas demais modalidades do Tesouro Direto.

A Secretaria Nacional busca aumentar a presença feminina no Tesouro Direto como um todo. No mês passado, o órgão lançou uma ação em parceria com o Banco do Brasil que atrelava o investimento em outra modalidade de papel do Tesouro a um seguro de vida e apoio jurídico e psicológico. A ideia é que a iniciativa seja estendida ao RendA+ ainda neste ano.

RendA+ ou previdência privada?

O investidor não precisa, necessariamente, escolher entre o Tesouro RendA+ ou outras formas de previdência privada. A ideia é que o RendA+ complemente a aposentadoria do trabalhador.

Como os planos de previdência privada têm incentivos fiscais durante a fase de acumulação, vale mais a pena para o investidor que faz a declaração completa investir nesses planos até o limite de 12% da renda bruta. O restante ele pode alocar nos títulos do Tesouro RendA+ e em outros investimentos, como uma carteira de renda variável”, diz Nélio Costa, chefe da área de planejamento financeiro da Nord Research.

No caso dos fundos de previdência, os retornos podem ser maiores na fase de acumulação, comparado com o RendA+, uma vez que o investidor consegue alocar os recursos em ativos de maior risco, se houver apetite. O planejador recomenda que o investidor comece investindo em um fundo de previdência de renda variável e depois migre para o de renda fixa, quando estiver próximo da aposentadoria.

Um ponto importante para o investidor se atentar é que no RendA+ a menor alíquota de imposto de renda sobre o rendimento do título público é de 15% para resgate após dois anos, enquanto, nos fundos de previdência é de 10% após dez anos, para quem opta pela tabela regressiva.

“O novo título é mais uma opção tanto durante as fases de acúmulo quanto de recebimento da renda, mas não deve ser a única estratégia. O investidor precisa sobretudo diversificar os investimentos para a aposentadoria”, diz Costa.

Bolo de aniversário — Foto: Unsplash
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