Serviços Financeiros

Por Gabriela da Cunha, Valor Investe — Rio


Depois de terminar 2023 com 42 milhões de consentimentos, sendo 27,7 milhões únicos — ou seja, CPFs —, o open finance começou 2024 com a agenda cheia, de olho no relacionamento dos clientes com as inovações do sistema financeiro aberto.

“Enquanto ano passado foi de expansão do que se compartilha e se quer compartilhar, e do lançamento de novas APIs [sigla para Application Programming Interface, ou Interface de Programação de Aplicações, a rota de comunicação dos aplicativos financeiros com os sistemas dos bancos], esse ano é de monitoramento do que está sendo feito”, resume Carlos Jorge, secretário-geral de Open Finance no Brasil.

“Em 2024 nos foi dado como meta, pelo Banco Central, ser o ano da performance, da eficiência, de olhar e monitorar”, complementa Jorge, que é sócio do Chicago Advisory Partners, consultoria responsável pela governança do open finance.

Com isso em perspectiva, veja em três pontos o que aconteceu no sistema financeiro aberto nos seis primeiros meses de 2024.

Monitoramento do open finance: por que é importante para o usuário?

Segundo o Banco Central, um dos focos em 2024 em relação ao open finance é o aprimoramento do desempenho das instituições participantes. Atualmente, são mais de 940 instituições entre aquelas que são obrigadas a participar, como os bancões, e aquelas que fazem a adesão voluntária, como as cooperativas de crédito, por exemplo. Por isso, o BC publicou, no fim de 2023, por meio da Instrução Normativa nº 441, o manual de monitoramento do open finance.

O documento aprimorou as regras de compliance e detalhou os procedimentos a serem seguidos pelo comitê gestor do ecossistema na hora de monitorar o desempenho das instituições participantes. E o que está sendo observado? Entre outros aspectos, a disponibilidade das APIs (responsáveis pelo fluxo de informações entre os aplicativos financeiros e os sistemas dos bancos e instituições financeiras); a qualidade dos dados trocados a partir do aval do cliente; a fluidez da jornada de compartilhamento de dados (quão fácil é para o cliente fazer isso) e a iniciação de pagamentos.

Elcio Calefi, diretor de tecnologia e operações do Open Finance Brasil, explica que tudo isso é necessário para manter a confiabilidade e a credibilidade do ecossistema. “Na dimensão técnica, nos interessa a qualidade dos dados que circulam. Mas são diversos ângulos que demandam investimentos em processos, pessoas e tecnologia para que o open finance seja essa força motriz que, muitas vezes, o usuário nem vê, mas está contribuindo para um maior acesso a produtos e serviços financeiros”, diz.

Amadurecimento da fase de compartilhamento das informações de investimentos

O open finance está sendo implementado em fases. E em setembro do ano passado, entrou no ar a chamada Fase 4, que permite que as instituições troquem informações sobre os produtos de investimentos dos clientes.

Todas as APIs que permitem essa conexão e conversa já estão disponíveis e as instituições de participação obrigatória no open finance já tiveram de implementá-las. “Agora temos uma curva de adoção pelas instituições para instigar os clientes a compartilhar esses dados. O terreno está preparado, e fertilizado para os investimentos. Toda a infraestrutura está disponível para que as instituições possam reter novos clientes a partir de ofertas de investimentos”, observa Carlos Jorge.

Segundo levantamento da consultoria internacional BIP, de outubro até março deste ano, o volume de chamadas de APIs de investimentos - as trocas de informações entre instituições - chegou a 360,2 milhões. A renda fixa bancária concentrou 91% das chamadas. Um menor número de chamadas foi direcionado aos fundos de investimento (7%), à renda variável (2%) e aos títulos do Tesouro (1%). Renda fixa de crédito (debêntures, CRIs, CRAs, etc) não chegou a 1%.

É esperado que esses números cresçam amparados na maior competição na oferta de produtos. A tendência é que perto do vencimento de uma determinada aplicação, o cliente que diz “sim” ao open finance seja abordado por diferentes instituições - mesmo que não seja cliente delas - com a proposta de produtos com taxas e retornos mais atraentes. “É uma competição em benefício do consumidor final”, avalia Carlos Jorge.

Calefi aponta um outro aspecto que os clientes estão vivenciando: o consentimento sem prazo definido. Antes de outubro de 2023, o aval dos clientes para a troca de dados durava doze meses. Agora, além de durar mais tempo, a renovação do consentimento também é mais simples. Basta a pessoa acessar o ambiente da instituição que recebeu seus dados (receptora) e confirmar o desejo de renovar o compartilhamento.

“Como as pessoas investem e liquidam os investimentos o tempo todo, com o consentimento sem prazo definido, reinvestir na mesma família de produtos será automático até que o cliente revogue o aceite. Ou seja, o ciclo de vida do investimento será perene. E isso é importante. O open finance se mostra útil em todo ciclo de vida do investimento daquele cliente com aquela instituição”, explica.

Transferências inteligentes e gestão financeira

Em abril, foram lançadas as transferências inteligentes, que permitem programar, diretamente no aplicativo do banco, transferências para contas de mesma titularidade e com valores fixos definidos pelo consumidor.

Com elas, o próprio usuário pode criar uma regra para sempre que sua conta correr o risco de ficar negativa, um mecanismo seja acionado e o dinheiro de outra conta seja transferido. Isso pode prevenir uma dívida de cheque especial, por exemplo.

Regras também podem ser criadas em favor de investimentos: se o consumidor desejar, ele pode estabelecer que mensalmente parte do seu salário seja enviada à conta de sua corretora para ser investido.

Também foi lançado o mecanismo de agendamentos recorrentes, que permitem, como o próprio nome diz, agendar pagamentos que têm valor fixo, como mesada, professor particular, doações, entre outras remessas.

As duas soluções fazem parte da Fase 3 do open finance, que é a de pagamentos. Mas em ambos os casos, são usados os dados cadastrais e transacionais do cliente, que podem ser compartilhados desde a Fase 2.

Essas ferramentas, até então, não existiam no sistema financeiro e são vistas como grandes aliadas na gestão das finanças pessoais.

“Com isso, o que se espera é ter mais sofisticação no gerenciamento de várias contas. A gestão financeira integrada é algo que, claramente, está se desenvolvendo com o open finance”, sustenta André Olinto, secretário responsável pela Camada Administrativa do Open Finance Brasil.

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