Comportamento

Por Por Yara Guerra


O estresse causado pelo barulho dos fogos de artifício pode levar à fatalidade do animal — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Roberto Nickson)
O estresse causado pelo barulho dos fogos de artifício pode levar à fatalidade do animal — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Roberto Nickson)

Não é novidade que a audição de cães é super potente — enquanto nós, humanos, ouvimos entre os entre 16 e 20 mil Hz, os cachorros são capazes de detectar sons entre 10 e 45 mil Hz, um espectro bem maior.

Apesar da habilidade ser vantajosa em muitos dos casos, em algumas situações ela pode comprometer o bem-estar e a saúde do animal. É o caso de eventos acompanhados por barulhos estridentes de rojões e fogos de artifício, como o Ano Novo, as festas juninas, a Copa do Mundo e outros eventos esportivos.

Visualmente atraentes para os seres humanos, os rojões típicos destas datas podem causar estresse, medo e até mesmo crises convulsivas nos bichos que não foram habituados de maneira adequada em relação ao estímulo.

É importante que o tutor fique próximo ao pet durante o momento estressante para lhe transmitir segurança — Foto: ( Unsplash/ serjan midili/ CreativeCommons)
É importante que o tutor fique próximo ao pet durante o momento estressante para lhe transmitir segurança — Foto: ( Unsplash/ serjan midili/ CreativeCommons)

Segundo a médica-veterinária Camila Voloch, especialista em comportamento animal, outros sintomas podem decorrer da aversão aos fogos.

“O medo é uma manifestação comportamental comumente vista diante dessa atividade, o que leva ao aparecimento de outros sinais clínicos como: aumento de frequência cardíaca, de movimentos respiratórios e da pressão arterial, que podem ser acompanhados por salivação excessiva, tremores e até mesmo comprometimento da função cardiorrespiratória, o que pode ser — e muitas vezes é — fatal”, explica.

Outro efeito comum é que, agitados, muitos animais acabam fugindo de casa e se sujeitando a perigos, como atropelamentos.

Cachorro com medo de fogos: por que isso acontece?

Os cães captam o som com maior facilidade que os humanos devido à anatomia das orelhas — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Chris Arthur-Collins)
Os cães captam o som com maior facilidade que os humanos devido à anatomia das orelhas — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Chris Arthur-Collins)

Você pode estar se perguntando “por que cachorros tem medo de fogos?”. A princípio, basta pensar: se os rojões já causam susto em humanos desprevenidos, eles terão um impacto ainda maior em cães, que, para piorar a situação, eles não entendem do que se trata o barulho.

Mas Camila explica que todo estímulo que não é adequadamente apresentado para o pet pode ser potencialmente um fator gerador de trauma.

Segundo a especialista, uma vez que esse trauma existe, qualquer contato com o seu estímulo gerador será associado ao medo, que, quando exacerbado, é chamado de fobia.

“A intensidade de apresentação desse estímulo — no caso, o sonoro — agrava a situação, uma vez que a audição dos cães e gatos é extremamente potente, o que intensifica ainda mais o desconforto”, explica.

Durante o momento de queima de fogos, vale tentar distrair o animal com brincadeiras, comida ou massagem — Foto: ( Unsplash/ Mike Burke/ CreativeCommons)
Durante o momento de queima de fogos, vale tentar distrair o animal com brincadeiras, comida ou massagem — Foto: ( Unsplash/ Mike Burke/ CreativeCommons)

Tutores desavisados podem acabar negligenciando a questão, mas a verdade é que se trata de algo muito sério. Com relação aos cães, a audição é o melhor sentido que eles possuem, ficando atrás apenas do faro.

“Isso acontece por questões anatômicas das orelhas (que permitem que elas identifiquem e captem sons com mais efetividade) e também por uma questão física de identificação de frequência de ondas sonoras, que os cães identificam em um espectro muito maior que o nosso”, diz Camila.

Como acalmar cachorro com medo de fogos

É muito provável que o seu pet manifeste medo, mas algumas atitudes podem ser tomadas para reduzir os danos, então confira como proteger cachorros e outros animais dos fogos de artifício e rojões.

Nick Rijniers, CEO de uma empresa de adestramento, explica o que o tutor pode fazer nestas situações:

“Fique perto do seu cão! A presença dos tutores passa segurança ao animal, o acalmando. Durante a queima de fogos, tente entreter o seu companheiro ou deixar os brinquedos favoritos dele por perto. Essa é uma maneira de chamar a atenção para outra coisa que não seja o barulho. Além disso, lembre-se que ele tem capacidade auditiva duas vezes maior que os seres humanos, então, se puder, coloque-o em um cômodo mais silencioso.”

Janelas, portas e cortinas fechadas podem abafar o barulho externo, mas também são importantes para evitar a fuga do animal. Além disso, deixe todos da família alertas para este perigo e mantenha o cão com a sua plaquinha de identificação.

Fones de ouvido para cães ou mesmo chumaços de algodão também são bem-vindos para ajudar na redução do ruído, mas somente se o animal já estiver acostumado com eles.

Se o animal buscar refúgio em algum esconderijo, respeite-o, pois é ali que ele se sente seguro — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Thomas Bormans)
Se o animal buscar refúgio em algum esconderijo, respeite-o, pois é ali que ele se sente seguro — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Thomas Bormans)

O executivo também sugere oferecer uma área confortável para deixar a disposição do pet, com uma cama para que ele tenha um espaço seguro para se descontrair e se sentir melhor.

Não faça nenhuma amarração ou o deixe acorrentado neste espaço de contenção, pois ele pode se machucar ao tentar fugir. E, caso ele mesmo escolha um esconderijo, respeite: é ali que ele se sente mais seguro.

Outra dica é ligar o rádio ou a TV com uma música calma. Passear com o animal antes de escurecer pode ajudá-lo a gastar energia, o que pode aliviar a tensão na hora dos fogos.

Camila explica que oferecer alimentos pastosos também é um bom caminho: “a oferta é valiosa durante a queima de fogos, de maneira que esse animal demore alguns minutos para ingerir. O tutor também pode utilizar brinquedos recheáveis ou forminhas de gelo com alimentos úmidos”.

Se o cão recusar comidas e brincadeiras, vale fazer uma massagem para distrair a atenção dos barulhos que vêm de fora. Talvez assim ele se sinta mais acolhido e amparado.

Uma boa estratégia de acolhimento é garantir uma área confortável para o cão descansar durante a queima de fogos e rojões, como uma caminha quente — Foto: ( Unsplash/ Tracey Hocking/ CreativeCommons)
Uma boa estratégia de acolhimento é garantir uma área confortável para o cão descansar durante a queima de fogos e rojões, como uma caminha quente — Foto: ( Unsplash/ Tracey Hocking/ CreativeCommons)

Uma saída mais radical é optar pelo uso de calmantes para cachorro com medo de fogos, desde que sob orientação de um médico-veterinário especialista em comportamento.

“Assim, reduz-se a chance do tutor ser orientado a usar medicações com efeitos sedativos, que podem aumentar os riscos de óbito. Os homeopáticos e os feromônios são sempre bem-vindos”, diz Camila.

O adestramento também pode auxiliar na situação. Para a especialista, é o mecanismo mais eficiente de prevenção do problema.

“Nesse caso, é importante que todo e qualquer treinamento seja orientado por um profissional de adestramento positivo, sem o uso de aversivos e punições. E, se possível, a terapia deve ser iniciada com uma consulta com um médico-veterinário comportamentalista”, indica.

Caso seja imprescindível sair de casa, leve o cachorro consigo junto aos seus brinquedos e caminha — jamais o deixe sozinho durante o momento estressante.

Por fim, é importante lembrar que os rojões não são apenas prejudiciais aos pets, mas à sociedade como um todo: podem assustar também os idosos, os bebês, as crianças e as pessoas do espectro autista.

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