Saúde

Por Por Yara Guerra Com Gladys Magalhães


Existem dois tipos de PIF: a efusiva (úmida) e a não-efusiva (seca) — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Zeke Tucker)
Existem dois tipos de PIF: a efusiva (úmida) e a não-efusiva (seca) — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Zeke Tucker)

Mais conhecida por PIF, a peritonite infecciosa felina é uma doença comum em gatos e uma das principais causas de mortes infecciosas nos bichanos. Causada pelo coronavírus, a enfermidade chamou a atenção de tutores gateiros no início da pandemia da Covid-19, embora as doenças não tenham relação alguma entre si.

“A peritonite infecciosa felina é uma doença viral de distribuição mundial, provocado por um coronavírus felino. É de extrema importância esclarecer que o coronavírus causador da PIF em gatos não pode infectar as pessoas”, alerta a médica-veterinária Vanessa Zimbres, especialista em medicina felina e proprietária de uma clínica exclusiva para gatos.

A doença pode se desenvolver de duas formas: efusiva (ou úmida) ou não efusiva (seca).

Segundo a médica-veterinária Lia Nasi, especialista em medicina felina, os dois tipos apresentam diferentes sintomas. “A PIF seca geralmente começa com uma uveíte, que é uma inflamação ocular. O olho do gato fica meio embaçado e acinzentado. Em alguns casos, eles podem apresentar também sintomas neurológicos, como convulsões, dificuldade de andar e falta de coordenação motora”, diz.

Já na PIF úmida, um sintoma bem característico é o acúmulo de líquido no abdômen ou no tórax, causando uma respiração dificultosa. Ele pode comprimir os órgãos, podendo levar o tutor a perceber que a barriga do gato está distendida. Tanto em um tipo, quanto no outro, o animal tende a apresentar febre incessante, mesmo mediante medicações, e falta de apetite, principalmente na úmida.

Além disso, a PIF pode causar granulomas, que são depositados em diversos órgãos, como os do sistema nervoso – daí as alterações neurológicas. O gato pode apresentar também alterações no rim e no fígado, como icterícia.

Como ocorrem a transmissão e o contágio?

O coronavírus é cosmopolita e está espalhado por todo mundo, sendo contraído através de secreções como urina, fezes, saliva e espirros do animal contaminado. No entanto, contrair o vírus não significa, necessariamente, desenvolver a doença.

“Esse coronavírus é primariamente um vírus entérico, então ele vai ficar no intestino. Alguns animais podem ter uma diarreia transitória e chata de tratar, então a gente tenta dar um suporte para que o animal melhore o quadro. Em bichos mais sensíveis e com a imunidade mais comprometida, o vírus sofre uma mutação no intestino e atinge os outros órgãos, desenvolvendo a PIF, que é a forma grave da doença”, explica Lia.

Sendo assim, os gatos mais suscetíveis à contração do vírus e desenvolvimento da doença são aqueles de saúde mais vulnerável, como os filhotes de até dois anos – cujo sistema imunológico ainda está se formando –, idosos ou animais resgatados na rua, que tiveram um provável contato com gatos infectados.

“O que a gente encontra na literatura é que 90% dos animais têm contato uma vez na vida com coronavírus. Desses, apenas 5% a 10% desenvolvem a forma grave da doença, porque ela depende da imunidade do animal”, diz a especialista.

Diagnóstico

Um dos sintomas da PIF é a inapetência, principalmente no tipo não-efusivo — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Roberto Huczek)
Um dos sintomas da PIF é a inapetência, principalmente no tipo não-efusivo — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Roberto Huczek)

Ainda não há um exame específico para a detecção da PIF – com exceção da necropsia no pós-morte. Testes de sangue e de PCR entérico afirmam se o gato apresenta ou não os anticorpos contra o coronavírus. No entanto é muito provável que mesmo um gato saudável apresente os anticorpos, já que o coronavírus é amplamente disseminado no mundo. O teste então não consegue definir se o animal tem PIF, apenas que entrou em contato com o vírus.

Além disso, o diagnóstico pode levar um tempo até ser fechado porque as alterações acontecem com o tempo, sucessivamente. Os veterinários especialistas observam os sintomas apresentados e fazem exames de sangue e de ultrassom para chegar à identificação da doença.

Um gato contaminado por PIF, por exemplo, pode apresentar anemia e um aumento nos glóbulos brancos. Além disso, raio-x e ultrassom no tórax podem indicar se o animal está com acúmulo de líquido nos órgãos.

“A relação entre albumina e globulina também pode ser um indicativo. Elas são dois tipos de proteína presentes no corpo que nos permitem ver se o gato está produzindo muitos anticorpos. Caso esteja, este é um indicativo de que ele está lutando contra alguma infecção. Quando essa relação é baixa, é bem provável que este animal tenha a PIF”, diz Victoria Pereira Cavalcante, médica-veterinária especialista em felinos.

De qualquer forma, se o animal apresentar qualquer um dos sintomas citados, é importante que o tutor lhe encaminhe a um veterinário especialista na espécie. Quando o diagnóstico é feito no início da doença, é possível tratar e há chances de cura.

Tratamento

Por muito tempo, a PIF foi considerada uma doença fatal. Quando contraída, o gato tinha a sua expectativa de vida consideravelmente abreviada.

Nos últimos anos, porém, descobriu-se um tratamento a partir da medicação GS, que foi utilizada para o vírus ebola. “Não há liberação para uso em animais, mas é possível comprar o GS como suplemento. Há vários relatos de casos de animais que se curaram contra a PIF. Por enquanto, hoje, este é o único tratamento curativo”, diz Lia.

Uma das formas de prevenir PIF é garantir uma boa imunidade e evitar que ele interaja com gatos infectados — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Dietmar Ludmann)
Uma das formas de prevenir PIF é garantir uma boa imunidade e evitar que ele interaja com gatos infectados — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Dietmar Ludmann)

A médica-veterinária explica que são 84 dias de tratamento com o remédio. Depois, é só acompanhar a evolução do caso através dos exames de sangue.

“Dependendo dos sinais clínicos, os gatos que tomam o remédio quando a doença ainda está no início acabam vivendo. Se há alguma alteração neurológica ou alteração ocular, já é muito mais difícil de conseguir resolver. É um remédio importado e que custa caro, em média R$ 30 mil. Mas os bichanos agora conseguem a cura através da medicação – antes a doença era simplesmente fatal”, diz Victoria.

Prevenção

Evitar que o gato saia pela rua também é uma forma de prevenir a contaminação do vírus — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Mark Tryapichnikov)
Evitar que o gato saia pela rua também é uma forma de prevenir a contaminação do vírus — Foto: ( Unsplash/ CreativeCommons/ Mark Tryapichnikov)

As especialistas concordam que é muito fácil que o gato já tenha tido contato com o coronavírus uma vez na vida. Uma vez que isso acontece, não há como prevenir o desenvolvimento da doença, senão garantindo uma boa imunidade e nutrição ao animal.

Vale também evitar a exposição deste bicho a animais desconhecidos ou o acesso à rua. No caso de haver gatos irmãos e um deles apresentar a doença, é importante não separar os bichos, porque o estresse pode ser um gatilho para a mutação do coronavírus. Se há mutação, a doença vai se desenvolver e acometer também o gato saudável.

“Situações como vacinação, castração, mudança de ambiente, ausência do tutor e alterações na rotina em geral podem gerar estresse e levar o vírus entérico a sofrer mutação”, explica Lia.

No caso dos gatos irmãos, o que a veterinária indica é seguir com a suplementação do gato saudável com imunomoduladores e vitaminas para lhe garantir uma boa imunidade e evitar um ambiente vulnerável à aparição da doença. Além disso, é fundamental que este gato doente não interaja com animais de imunidades baixas, como filhotes, idosos, animais resgatados em ONGs ou em rua.

Soraia Figueiredo de Souza, professora de semiologia e clínica médica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que ainda não há uma vacina eficaz contra o vírus.

“Ainda não há vacina com eficácia comprovada disponível. Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos há uma vacina administrada por via intranasal comercialmente disponível”, diz.

Ela ainda ressalta a importância do cuidado ao introduzir um gato novo a um ambiente com outros felinos, para evitar o contágio do vírus.

“Como o vírus é altamente contagioso, deve-se tomar um cuidado especial ao introduzir novos animais no ambiente. Em locais com muitos gatos aglomerados, todos podem ser soropositivos”, finaliza.

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