• Nathalia Fuzaro
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Alessandra Ambrosio (Foto: Rafael Pavarotti)

A top Alessandra Ambrosio é praticante de Ashtanga Yoga (Foto: Rafael Pavarotti)

Sempre paquerei a ideia de fazer ioga. Acho bonito como a pessoa que pratica consegue se contorcer toda em posturas impossíveis e ainda assim manter um semblante plácido. Parece que pode cair o mundo, o iogue encontra um jeito de sentir paz?! Admiro também seu corpo definido e elástico, a cabeça resiliente e flexível. Tipo um rio, que desvia das pedras e segue fluindo até desaguar em algum lugar, num looping infinito. Imagens de força e calma me vêm à mente. Mas, sei lá, nunca tive tempo nem paciência. Vivia correndo, com a cabeça a mil. E queria resultados rápidos, sabe? Experimentei várias vertentes: hatha, vinyasa flow, ashtanga, acroyoga, iyengar, kundalini, De Rose… até beer yoga! Tive momentos lindos, porém nunca consegui encaixar as aulas na rotina, nem me encaixar em um único tipo. Há dias em que você quer suar e extravasar, em outros só alongar e relaxar, né?

Aí o mundo parou. Ficou de pernas para o ar. E me pareceu que o único jeito de entender as coisas era virando de cabeça pra baixo também, tal qual a invertida, aquela famosa ásana em que a pessoa fica apoiada só na cabeça ou nas mãos – você já deve ter visto na internet porque quem consegue fazer posta! [Risos] Além disso, tudo o que meu corpo pedia era estica e puxa e respira e sooolta. Descobri nas redes sociais um aplicativo com diversas aulas (e tipos de ioga) no qual eu podia escolher o nível de dificuldade, por quanto tempo queria praticar, qual estímulo (alongar quadris? Trabalhar o core? Relaxamento?), com vídeo e trilha sonora moderninha: Down Dog. Curti, baixei e dei play. No dia seguinte de novo. E de novo. Sem pretensão nenhuma, sem cobrança, sem tapetinho. Eu só queria me desligar de tudo por 45 minutos. E já dura três meses.

O simples fato dos nomes das posturas se referirem à natureza já me relaxa. Tem a "cachorro para baixo", que me lembra como todo começo é travado – para tudo na vida. A gente não sabe muito bem o que fazer, como fazer, tentamos não passar vergonha, às vezes dói. Aí o tempo vai passando, a gente continua respirando e, com paciência, uma hora sai. Logo depois vem a "cachorro para cima", que é o extremo oposto, e essa combinação das duas me remete aos altos e baixos dos dias, à montanha-russa de sentimentos da quarentena. Penso na imperfeição, como um lado é diferente do outro (e não tem certo nem errado, só é), na impermanência das coisas. Observo também como a repetição e a persistência surtem mesmo resultado.

Ioga (Foto: Divulgação)

Aplicativo permite que você escolha nível, duração e estímulo da prática (Foto: Divulgação)

Então a instrutora imita um gato, uma vaca, um pombo, um peixe… e eu sigo os comandos. Inspirando, expirando, esperando. Conforme tento me equilibrar em um pé só, na ásana da árvore, percebo que o segredo é exatamente relaxar. Se libertar de crenças, amarras, pensamentos ou qualquer lógica. Ioga é feeling, entende? Você sente tudo o tempo inteiro, quando está parada ou em movimento. De dentro do apartamento, miro pela janela um coqueiro plantado no meio da calçada e, à princípio, me divirto com a ironia. Somos dois. Depois me emociono: ele resiste e cresce, independente de chuva, sol, solo, homem, máquina. Mesmo sem sair do lugar. Sem questionar passado e futuro. Só vivendo o presente.

Por fim, savasana, também conhecida como postura do cadáver. Acho curioso, porque é exatamente quando tudo em mim pulsa?! Talvez represente o fim de um ciclo, que se conecta ao início de outro. Não sei! Mas a cada sessão aprendo algo novo – sobre a ioga, sobre mim, o meu corpo, a natureza e qualquer outro tema. Agora entendo o hype e porque quem faz posta: a vida fica mais leve, as coisas fazem mais sentido. Pelo menos durante aqueles 45 minutos. Namastê!