Desde os 18 anos de idade quando sofria as consequências de uma anorexia nervosa, Esther Beukema, de 33, já deixava claro seu desejo pela morte por eutanásia. A família, por sua vez, se encontrava dividida por conta desta vontade. A mulher lutava contra anorexia severa e tinha "perdido a vontade de existir". Ao Telegraph, a família Beukema, que vive na Holanda, onde a prática é permitida, contou detalhes sobre seus últimos dias em vida.
As semanas anteriores à morte de Esther foram as mais felizes de sua vida adulta. Quando chegou o dia, 10 de dezembro de 2021, ela usava um suéter estampado com a foto do Mickey Mouse fazendo sinal de positivo e meias: uma da mãe e outra do pai. Às 14h30, ela foi para a cama de seu quarto de infância, que tem paredes rosa brilhante e um quadro emoldurada do Ursinho Pooh. Ela estava deitada nos braços da mãe, enquanto o pai e o irmão mais novo estavam sentados a seus pés, enquanto uma enfermeira administrava uma dose letal de uma droga através de uma agulha em seu braço.
Cinco minutos depois, ela morreu. Esther vinha fazendo campanha pela sua própria morte há mais de uma década. Desde que foi diagnosticada com anorexia nervosa, aos 18 anos. Muitas vezes ela esboçava o desejo para a mãe Ellen, dizendo: “Eu não quero existir.” Ela conta com naturalidade sobre o seu desejo de morrer e afirma que “às vezes era chocante para as outras pessoas” ouvirem isso.
Quando a filha morreu, ela já havia feito inúmeras tentativas de tirar a própria vida. Para sua mãe, uma enfermeira neonatal aposentada, uma morte medicamente assistida parecia menos dolorida. Por sua vez, o pai, Rob, um empresário aposentado, achou mais difícil aceitar. Ele achava que deveria haver uma terapia que pudesse ajudá-la, ou ainda um tratamento que eles não haviam tentado. Suas opiniões divergentes colocam uma enorme pressão em seu casamento. "Como pai, tentei mostrar a Esther que sempre há esperança", diz ele. "Que amanhã, talvez seja melhor."
Com o passar dos anos, Rob procurou terapia e, na época da morte de Esther, ele disse que também estava “em paz” com isso. "Ela não precisava morrer sozinha, ela estava com as pessoas que amava. E é isso que você quer para todos", ressaltou a mãe.
Ellen buscou compreender a decisão da filha desde o início, apesar da idade da jovem. “Não é a duração da vida, é a qualidade de vida que é mais importante”, afirmou. Hoje, na casa da família em Soest, a menos de uma hora de Amsterdã, há vestígios de Esther por toda parte. O nome dela está em uma placa na porta da frente, junto com o de seus pais e três irmãos mais novos.
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O caso de Esther é apenas um exemplo das mortes por eutanásia na Holanda, onde esse tipo de morte é uma realidade há mais de 20 anos. De acordo com a Lei Holandesa de Terminação da Vida mediante Solicitação e Suicídio Assistido (Procedimentos de Revisão) de 2002, a eutanásia e o suicídio assistido (no qual um médico fornece o medicamento e o paciente se autoadministra) são legais para condições psiquiátricas e físicas, desde que o os médicos acreditam que o sofrimento do paciente é “insuportável, sem perspectivas de melhora” e que “não há alternativa razoável”.
![Esther Beukema e a família — Foto: Reprodução/Telegraph](https://s2-vogue.glbimg.com/Dldb939ENst9PgZoVt5FcBiEwm8=/0x0:878x546/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/M/C/xbLwFqQXK82aw8LT1wuQ/captura-de-tela-2024-04-08-103842.png)