Vogue Repórter

"Eu trabalhava em uma casa de análise de investimentos, tinha uma rotina de CLT, no escritório, de oito horas por dia. No início da pandemia, meus pais foram morar na praia da Baleia, em São Sebastião, litoral paulista, e meu namorado Felipe (hoje meu marido) e eu nos juntamos a eles e meus irmãos. Como estávamos trabalhando remotamente tínhamos a flexibilidade de trabalhar vivendo na praia.

Sempre tive vontade de aprender a surfar. Desde criança via meu pai e meus irmãos surfando, mas tinha medo de tentar - o começo do surfe é basicamente tomar caldos. Com a pandemia, vida na praia e um namorado surfista pensei que era a oportunidade perfeita para finalmente aprender.

Não cheguei a fazer aulas com um instrutor, ia para o mar com meu namorado e a prancha. Ele ia me ensinando. Comecei bem, tinha um bom equilíbrio na prancha e bastante coragem. Mesmo levando caldos, me levantava e seguia tentando novamente, sempre com o Felipe ao meu lado.

Um belo dia, entre uma reunião e outra, ele sugeriu que fôssemos fazer uma “aula” na praia vizinha, o Sahy, que aparentemente as condições estavam ótimas. Lembro direitinho da minha reação. Diferentemente dos outros dias, estava tensa, um pouco aflita, mas sem saber o porquê. Uma mistura de medo com preguiça e um feeling de que não era para eu ir. "Mas quer saber? Eu vou! Vou parar de ser medrosa, e curtir esse momento”, pensei.

O mar estava um pouco mais agitado do que eu estava acostumada. Seguia nervosa, mas pedi para ir sozinha em uma prancha para que ele pudesse surfar em outra enquanto me acompanhava. Peguei uma, duas ondas... Na terceira estava entrando no mar, ainda dava pé para mim, quando veio uma onda mais forte. Para não perder a prancha, que era bem pesada, segurei ela bem firme.

Mas com a força da onda, o bico da prancha entrou com tudo na minha garganta. Pausa. Caldo. Confusão. Levantei e percebi que estava sem ar. Literalmente, eu não conseguia respirar. Foi um pânico! Corri para a areia sem folego e caí no chão. Não lembro exatamente de cada detalhe, foi uma cena bem traumática e minha mente tem uma certa resistência em voltar neste dia. Quando comecei a devagarzinho voltar a respirar, tentei gritar por ajuda para o Felipe e minha voz não saía. Mais pânico ainda... O que estava acontecendo?

Desesperada, tentava acenar por ajuda para ele, que estava mais no fundo do mar. Demoraram alguns minutos (que pareceram horas) para ele entender que algo estava errado e voltar para me ajudar. Eu sentia como se tivesse engolido água com areia, minha garganta arranhava por dentro. Eu tentava falar o que havia acontecido, mas nada saía da minha boca, só ar. Eu estava sem voz. O impacto da prancha na minha garganta, que segundo os médicos foi muito similar a uma lesão por enforcamento, causou uma paralisia neuromuscular na região dos nervos laríngeos, que controlam a prega vocal esquerda.

A recuperação foi bastante desafiadora. Foram três meses sem nada de voz, e sem saber se ela algum dia ela voltaria. Perdi o chão. Por mais que cantar fosse um hobby na época, sempre foi algo muito importante para mim. Cantar era uma forma de terapia, de cura, o momento em que me sentia mais próxima de mim mesma.

Além de não poder cantar, foi extremamente difícil não poder expressar o que eu sentia, não poder conversar com minha família e amigos. Não foi só a voz que eu perdi, foi o brilho, a autoestima. Foi um período muito solitário, em que tive depressão forte, e me vi sem perspectivas, no fundo do poço.

Júlia Levy — Foto: reprodução/instagram
Júlia Levy — Foto: reprodução/instagram

Três meses depois do acidente e após fazer um procedimento médico, minha voz foi aos pouquinhos começando a voltar, com pouco volume e algumas restrições, mas as coisas começaram a melhorar. Até voltar ao normal mesmo foi um ano. Até hoje ela não é 100% o que era antes, perdi as notas mais agudas e as mais graves em que conseguia chegar, e não consigo gritar muito alto, mas graças a Deus, consigo cantar. Nessa época, comecei a pensar em investir em canto.

Não gosto de pensar que larguei a carreira no mercado financeiro e sim que a carreira na música e minha paixão por ela me chamaram mais alto. Foi algo muito visceral. Quando, por um milagre, minha voz voltou, senti muito forte que devia usá-la. Que tenho algo para comunicar para o mundo e que minha voz, através do canto, é meu maior instrumento. Naquele momento todo o medo e vergonha que eu tinha quando pequena de cantar em público e de bancar essa carreira, tornaram-se pequenos perto da vontade de fazer acontecer.

Júlia Levy — Foto: reprodução/instagram
Júlia Levy — Foto: reprodução/instagram

Senti essa “necessidade de pôr a voz no mundo”. Foi um processo longo. Comecei a plantar as sementinhas e me preparar para isso no final de 2021. Em 2023 lancei meu primeiro material: um EP de releituras de seis faixas chamado Luz (meu sobrenome materno) e que está disponível em todas as plataformas digitais.

Em abril desse ano lancei meu primeiro single autoral “Joguei Pro Vento” e atualmente trabalho nas minhas composições autorais (as próximas serão lançadas nos próximos meses) e fazendo shows autorais e também apresentações em eventos corporativos, sociais e em casamentos".

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