São poucos os artistas que conseguem fazer um shift musical sem que haja muitas consequências numéricas. É o caso de Gloria Groove, que apresenta o Serenata da GG, Vol.1 (Ao Vivo), seu primeiro álbum de pagode, depois de passar anos dominando o mainstream com seu pop cheio de referências brasileiras. Ao embarcar nessa aventura, a drag queen se surpreendeu com o apoio de nomes icônicos do cenário musical como Alcione e Belo — ambos com participações nesse projeto.
"Há mais de três anos, o pagode vinha me dando abertura e plataformas incríveis, mas eu nunca tentava entrar, mas percebi que essas pessoas confiam em mim e aquilo foi me dando energia de me perguntar como seria eu escrevendo a minha própria página nesse livro", diz Gloria, em entrevista exclusiva com Vogue Brasil.
A verdade é que o flerte com o gênero vem desde a infância. Daniel, que é quem dá vida à persona drag queen, é filho de Gina Garcia, ex-backing vocal do grupo Raça Negra. "Minha mãe é uma cantora que faz de tudo um pouco. Cresci cercado de músicos. Lembro que o pagode foi uma grande vertente que me levou par o canto romântico, como o r'nb", relembra. Então tudo colaborou.
O que era para ser inicialmente uma coletânea abriu espaço para algo maior e composições inéditas de amor, feitas especialmente para o Serenata. A aceitação nas plataformas digitais se mostrou positiva. O single Nosso Primeiro Beijo, que já havia viralizado no TikTok muito antes do lançamento, já soma mais de 2,4 milhões de reproduções e atingiu a posição #55 na parada nacional do Spotify, na última atualização.
O momento é um marco em sua carreira. Afinal, como drag queen, Gloria quebra barreiras em um meio ainda pouco diversificado. "É muito bonito ver como é natural esse avanço e processo. Conforme as pautas vão aumentando, os tabus vão se quebrando. É claro que existem as gays pagodeiras, as trans pagodeiras. Nenhum estilo pertence a nenhum recorte de gênero. Acho natural que eu possa criar esse tipo de conversa", reflete.
A hora chegou
Para o álbum, Gloria Groove pensou em tudo: da estética, ao clima de nostalgia que gostaria de passar, às colaborações que gostaria de levar ao palco. Qualquer insegurança inicial deu lugar ao entuasiasmo e, para a artista, tudo decorreu melhor do que o imaginado. "Tive o privilégio de receber o sim incondicional de alguns convidados. A produção me devolveu sim dessas pessoas sem elas nem saberem o que seria a música", diz ela, que dividiu vocais com Belo, a mãe Gina, Thiago Pantaleão, Ferrugem e Alcione.
"É imensurável o valor emocional ter o respeito de pessoas que são fortes na música brasileira. Foi absolutamente divino dividir o palco com essa titã que é a Alcione. Não ensaiamos juntas, sentamos, cantamos de primeira e isso que valeu. A conexão foi espontânea."
Gloria celebra ainda como a arte drag possibilita — e pede — experimentos. "É uma oportunidade de fazer esse laboratório de estilos musicais. Mostro que consigo fazer e não fico entediada. Ser drag é ser inimiga do óbvio e essa arte traz muito essa questão de não me levar tão a sério e me permitir brincar para a minha vida. Como Gloria Groove, consegui injetar isso em uma plataforma própria", conta.
"Está tudo escrito na nossa história. Se justifica pelo que a gente viveu e a minha vida antes da Gloria Groove era muito extensa. Fiz banda de baile, cantei Justin Timberlake (no quadro Show dos Famosos, do Domingão), cantei em hebraico, fiz teatro musical, dublagens de personagens opostos. Na minha vida como Daniel, venho da escola em que fazer de tudo é crucial."
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