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"Trad Wife", aulas de etiqueta em 90 segundos com socialites ilustres e #Paisconservadores x #Paisliberais: certamente, se você tem uma vida digital ativa, já esbarrou com algum destes conteúdos em sua timeline. Após tempos nos quais a internet foi o grande vetor de desconstrução de comportamento e palco de debates importantes em torno de liberdade de corpos e de expressão, por que a juventude está tão envolvida nas redes sociais em tendências que reforçam o conservadorismo e os tradicionalismos?

A minha curiosidade em torno do tema, surgiu em virtude de duas pautas altamente repercutidas no Brasil: o show da Madonna no país, que gerou conversas um tanto inusitadas e opinões polêmicas protagonizadas por influenciadoras e pessoas da mídia sobre o teor provacativo da apresentação e pelo assunto que nos últimos dias, foi praticamente impossível de desviar: o Projeto de Lei 1904/2024, que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples, inclusive nos casos de gravidez resultante de estupro. A pena de seis a 20 anos de reclusão, que é a mesma prevista para homicídio simples, se aplica, inclusive, às mulheres vítimas de crimes sexuais.

Eu, que sou fruto nascido no final dos anos 80, que presenciou uma vida analógica na infância e parte da adolescência, para a ser "cria" da internet com direito a ser voz e representação quando o assunto são os ativismos impulsionados pelo digital, na tentativa de ler mais sobre o projeto que foi aprovado com urgência para ser votado no Plenário, acabei entrando em um cosmo infinito de pautas paralelas que me fizeram chegar a uma conclusão: a geração que praticamente nasceu com a internet e que hoje goza de todos os seus benefícios e autonomia, é a mesma que tem vangloriado o moral e os bons costumes, além de eleger como ícones pop personagens da alta sociedade, que até então estavam no ostracismo.

É indiscutível o quanto a internet é a responsável por praticamente "ninar" a geração nascida nos anos 2000. Diante das rotinas de tutores cada vez mais sobrecarregados com extensas cargas horárias, e novas dinâmicas sociais que tornam as vivências on e offline ainda mais híbridas, muitos destes jovens buscam resgatar práticas e valores considerados tradicionais, pois enxergam nestes conceitos um encontro com uma identidade tangível e o pertencimento mesmo diante de um cenário no qual vivemos mudanças culturais ao passo de um toque no "Explorar" das redes. E, a partir dos dilemas de um adolescente em formação, em que muitas das vezes se fecha ao diálogo com os mais experientes, é sintomático que tenham encontrado espaço e ancoragem para as suas angústias em comunidades e vozes que promovem esses valores como uma forma de resistir aos paradigmas sócio-culturais considerados ameaçadores para pessoas mais resistentes às constantes transformações do mundo contemporâneo.

Tudo isso é muito compreensível, porém alarmante. Após décadas de lutas em torno de conquistas civis que envolvem igualdade racial, de gênero, da comunidade LGBTQIAP+, de pessoas com deficiência entre tantas outras trincheiras, ver jovens que com muito pouco senso crítico são favoráveis a defesa de valores tradicionais da família e do casamento, enfatizam a hierarquia e os papéis pré-determinados de gênero tradicionais, enaltecem o lado mais conservador das práticas religiosas, entre outros costumes é apontar para um fenômeno que vai totalmente contra o que acreditávamos que era o sentido de adolescência até aqui: símbolo de transgressão.

Luiza Brasil na adolescência — Foto: Arquivo Pessoal
Luiza Brasil na adolescência — Foto: Arquivo Pessoal

Preocupante pois o que hoje é um mero conteúdo viral nas redes, amanhã pode impactar no retrocesso de conquistas adquiridas perante a lei, além de gerar desafios ainda maiores no que diz respeito a saúde mental, tendo em vista que as pressões sociais e as idealizações de padrões estabelecidos afetam diretamente o emocional de uma sociedade já adoecida pela ansiedade, estresse e inseguranças.

E como resolver algo tão complexo? Com duas ferramentas importantes que aprendemos no digital de outrora: diálogo e empatia. Conversas intergeracionais nem sempre são fáceis e confortáveis, mas diante de um adolescente, é importante expor a importância do contexto, mas ainda sim, sem julgamentos.

E para a sociedade, cabe a nós repensarmos a nossa estrutura educacional para que seja mais acolhedora e interessante aos anseios dos jovens em formação e incentivarmos a nossa participação ativa desde cedo em consultas públicas que visam a construção de políticas práticas inclusivas. Afinal, fortalecer a diversidade social é fundamental para tecermos perspectivas de vida plurais e enaltecermos conquistas civis que dizem respeito à liberdade.

Diante de um universo em constante evolução, a juventude ainda representa uma força inspiradora na busca por um estilo de vida mais questionador, diversificado e autêntico. Não deixemos que a falta de orientação e diálogo apague essa chama. Que cada escolha feita por e para os jovens em nome da aceitação e do pertencimento não atravesse o senso do respeito mútuo e acolhimento às diferenças. Seja o tradicional, seja o disruptivo, que seja com escolha, sabedoria e senso crítico.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.

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