• Steff Yotka
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Os planos de John Galliano para o futuro? “Vou lutar até ao fim pela liberdade criativa.” (Foto: Reprodução )

Os planos de John Galliano para o futuro? “Vou lutar até ao fim pela liberdade criativa.” (Foto: Reprodução )

“Vou lutar até o fim pela liberdade e pelo processo criativo” declarou corajosamente John Galliano durante as Vogue Global Conversions. O lendário designer, atualmente à frente da Maison Margiela, conversou, via Zoom, com Anna Wintour, diretora da Vogue US e diretora artística e consultora de conteúdos globais da Condé Nast.

Milhares de espectadores acompanharam a conversa entre duas das mentes mais influentes da indústria da moda. O mais emocionante ao ouvir Galliano é que, mesmo com décadas de história de moda escrita com o seu nome, o designer recusa-se a sucumbir à sombra do seus louros. Mais do que nunca, o estilista mostra-se apaixonado pelo futuro da indústria fashion e por diálogos com os clientes da geração millennial e Z. Como é que ele faz isso? Com novas maneiras de se comunicar virtualmente. “Não será este o momento perfeito para apresentar uma nova maneira de nos mostrar e vender as coleções?”, questionou John.

“Adoro produzir um desfile”, continuou ou designer, “[mas] tive que superar isso, aceitar a realidade e continuar.” Atualmente, Galliano está desenhando a coleção Maison Margiela Artisanal [a linha de alta-costura da etiqueta] com a sua equipe através de videochamadas no Zoom - referindo que um dos membros da sua equipa está na Austrália - e está usando as novas tecnologias para inspirar uma nova metodologia para mostrar moda. “Vou abraçar a maneira como estou resgatando esta história, esta coleção, com toda a tecnologia disponível. Com isso, posso mostrar a autenticidade da roupa - sou um dressmaker.”

Serão os desfiles da Margiela em 3D, CGI, AR - ou uma outra coisa qualquer nunca antes vista? “É uma aventura, nunca fiz isto!”, hesitou o designer, sugerindo que unir o físico e o virtual está nos seus planos. “Você sabe que gosto de fazer desfiles pequenos, mais íntimos, onde todos ficam na primera fila, então talvez tenha alguns convidados digitais que estejam lá sentados. Um escritor, um ator, um poeta - algo novo.”

Duas coisas que não faltam nas apresentações da Maison Margiela são paixão e arte. “O que [desta vez] me inspirou é mostrar uma parte do processo criativo. Muitas das gerações Y e Z não conseguem ver isso… [Para a linha Artisanal, em julho] mostrarei a essência, o parfum, o topo da pirâmide. É isso que vou mostrar, é isso que quero que as pessoas percebam. Em setembro, a influência e como tudo isso inspirou a coleção de ready-to-wear, os co-ed, os acessórios - estou olhado para isto como uma ideia a longo termo, vamos ver como é que isto se processa. Estou muito entusiasmado.”

PARIS, FRANCE - FEBRUARY 26: (EDITORIAL USE ONLY) Models walk the runway during the Maison Margiela show as part of the Paris Fashion Week Womenswear Fall/Winter 2020/2021 on February 26, 2020 in Paris, France. (Photo by Thierry Chesnot/Getty Images) (Foto: Getty Images)

Maison Margiela, outono/inverno 2020 (Foto: Getty Images)

Desenhar para uma audiência real ou virtual, não vai mudar a maneira como Galliano trabalha. “O processo criativo será sempre o processo criativo. Tenho a sorte, ou a sensibilidade, para sincronizar essas coisas”, afirmou. John está conectado com os seus colegas mais jovens através da internet, participando em festas via Zoom e tomando notas de tudo aquilo que está acontecendo.

“Já viu as festas que existem no Zoom? Vi o Steven Klein no outro dia, it was major! [Os mais novos] continuam usando batons vermelhos, ainda querem ser sedutores, mesmo que seja através do online. Honestamente, acho que a maneira como as pessoas estão se vestindo vai inspirar a maneira como o desconfinamento vai acontecer. Estou com os meus olhos e ouvidos bem abertos.”
 

Anna Wintour observou ainda que a tecnologia não é o único domínio em que Galliano tem potenciado a indústria da moda. O designer é também um verdadeiro líder nas práticas sustentáveis e também na destruição das normas antiquadas de gênero. “Sentimos que queríamos falar a linguagem do agora e o upcycling e o recycling nos permitiu isso” afirmou, ao referenciar a nova linha de roupa reciclada que vai fazer parte do desfile do outono/inverno da Maison Margiela. O upcycling não termina aí. Uma coleção de acessórios feitos com restos de pele de alta qualidade que foi produzida e vendida numa espécie de made-to-meausre, com diferentes regiões do mundo vai receber produtos exclusivos. “Adoro a ideia de que algo tenha tornado os nossos merchandisers e a equipe de marketing e comercial muito criativa,” rematou.

Em relação à linha sem gênero, Galliano falou, com grande paixão, sobre como tem esperança de que esta pausa no sistema possa derrubar de uma vez por todas as barreiras de gênero. “Se os desfiles de homem e mulher podem fundir, isso significa uma redução nas viagens e no desperdício - e é uma maneira muito mais emocionante de comprar coleções”, começou. “Além disso, podemos criar novas silhuetas [nos diferentes gêneros]. Podemos descontrair mais no corte dos vestidos, vestidos com viés, mas pegar nessa ideia e transportar isso para as roupas masculinas.”

Já no final da conversa, Galliano refletiu sobre aquilo que o mantém motivado durante estes tempos: “Paixão. I’m a dressmaker. Sou motivado pelo trabalho, pela dedicação da minha equipe e pela liberdade em criar. Isso é realmente importante para mim. Acho que você pode ser qualquer coisa neste mundo, e se podemos ser qualquer coisa, podemos tentar ser mais simpáticos uns com o outros e mais cuidadosos com o nosso planeta?”