Felipe Barnabé's Reviews > Migalhas Filosóficas, ou Um Bocadinho de Filosofia de João Clímacus

Havia tentando ler Kierkegaard uma vez, Temor e Tremor, desisti. Achei a leitura cansativa e não estava entendendo muita coisa. Foi um dos poucos livros que larguei sem concluir.
Fiquei com a impressão que não ia gostar de ler outras coisas dele, apesar de querer muito. Gosto desses autores que tratam sobre a subjetividade e existência. Voltei ao autor com Migalhas Filosóficas. O li junto com alguns amigos em um grupo de discussão de filosofia. Uma experiência bem diferente. A leitura continua sendo cansativa. Entra tranquilamente na lista dos mais difíceis que li. Kierkegaard é prolixo, escreve difícil, mas é muito bom. Apesar de curto, é um livro para se ler aos poucos, em doses homeopáticas. De preferência, mais de uma vez. Muita coisas para se pensar em cada capítulo. Mas, na minha opinião, vale a pena.

Kierkegaard faz uma crítica ao cristianismo nominal. Apresentando a diferença de um verdadeiro discípulo de um seguidor que não é discípulo. Ele apresenta uma crítica ao método de conhecimento socrático e apresenta uma alternativa em que o discípulo depende do mestre para obter a condição para o conhecimento, sair da não verdade para a verdade. Isso ocorre em um instante que é ao mesmo tempo histórico e eterno. Uma união do necessário com o contingente. Parece bem abstrato, e é.
Kierkegaard usa definições filosóficas para apresentar conceitos teológicos como fé, conversão, mestre, discípulo, pecado... O que faz com que tudo pareça mais abstrato e seja difícil achar exemplos práticos de aplicação desses conceitos, mas dentro da crítica e do pensamento dele, faz bastante sentido. O verdadeiro discípulo depende do mestre para obter a condição de discípulo, não é algo que ele possa fazer por si. O cristianismo é tanto histórico quanto absoluto, transcendental. Se ficarmos no histórico, perde-se algo. Se ficarmos no absoluto, também se perde. É preciso aceitar o paradoxo entre os dois.

Minha impressão é que se deve ler Migalhas como um livro filosófico e não teológico. Kierkegaard não está usando a Bíblia para suas definições. Ele parece estar buscando uma explicação filosófica para defender sua fé. É uma crítica a um cristianismo nominal que ignora o que é ser verdadeiramente discípulo. Por ser um ensaio filosófico, algumas coisas parecem estranhas quando comparadas com a forma como são apresentadas pela Bíblia ou dentro da teologia.

Precisaria ler mais vezes para escrever algo melhor, mas ficam aqui algumas impressões iniciais.