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A Varanda do Frangipani
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Acho que quantas vezes eu ler esse livro, as conclusões serão diferentes. O que chama a atenção primeiramente é que, diferente das narrativas policiais tradicionais, em que por meio de procedimentos metódicos e racionais, seremos conduzidos a uma "verdade" e o leitor vai acompanhando passivamente às descobertas do detetive, Mia Couto nos conduz a uma outra lógica: através dos depoimentos alegóricos dos personagens, focados na oralidade e consoantes com o modo ancestral do pensar africano. Entre os fios de discursos aparentemente sem nexo, vão escapando frases proverbiais e adivinhações cujos significados, além de reafirmarem valores da moral popularmente consagrada, questionam a ordem poética, moral e lógica. Ao mesmo tempo em que cada personagem tem sua especificidade própria, as narrativas vão se encaixando e servindo de argumento à narrativa englobante. A própria investigação vai sendo levada em outra direção que leva à denúncia de crimes maiores, como a morte das tradições moçambicanas.
Os conceitos de raça e mistura fogem ao maniqueísmo vicioso e cada personagem tem as ambiguidades e especificidades que lhe cabem. Se no período de nacionalismo pós-independência, o negro e o branco eram frequentemente colocados de lados opostos, aqui, ambos estão juntos tendo que lidar com desenraizamento. O asilo representa o espaço social onde se encontram representantes da nova e da velha geração, reproduzindo-se, numa espécie de microcosmos, a teia das relações sociais presente no Moçambique pós-colonial, onde tudo e todos se encontram desterritorializados. Mas Mia Couto deixa transparecer isso tudo sem que o romance seja áspero e cansativo, através de uma linguagem poética e deliciosa de ler. :)
Os conceitos de raça e mistura fogem ao maniqueísmo vicioso e cada personagem tem as ambiguidades e especificidades que lhe cabem. Se no período de nacionalismo pós-independência, o negro e o branco eram frequentemente colocados de lados opostos, aqui, ambos estão juntos tendo que lidar com desenraizamento. O asilo representa o espaço social onde se encontram representantes da nova e da velha geração, reproduzindo-se, numa espécie de microcosmos, a teia das relações sociais presente no Moçambique pós-colonial, onde tudo e todos se encontram desterritorializados. Mas Mia Couto deixa transparecer isso tudo sem que o romance seja áspero e cansativo, através de uma linguagem poética e deliciosa de ler. :)
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A Varanda do Frangipani.
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Reading Progress
April 2, 2013
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April 2, 2013
– Shelved
April 3, 2013
–
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message 1:
by
Lucas
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rated it 5 stars
Oct 31, 2015 08:48PM
Belíssima resenha! :)
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