Rogério Ceni precisa cuidar da saúde física e mental.
A frase é de amigos dele.
Um que sugeriu parar de comer chocolate à noite.
Outro, dirigente, fala sobre tomar remédios para dormir.
O São Paulo não discutiu nem uma coisa nem outra.
O debate que causou sua demissão começou depois da derrota para o Botafogo e passou apenas pela noção de que seu relacionamento com os jogadores que lidera não melhoraria.
Não no São Paulo.
Depois da vitória sobre o Santos, em fevereiro, a direção pediu reunião com o treinador. Alertou que a relação no vestiário era tensa. O exemplo daquele dia era sobre o gol de Luan. Rogério disse que o jogador fez o gol fora de seu posicionamento correto e que só marcou porque o Santos tinha dois jogadores a menos.
Outras ponderações, como ter aprovado a contratação do argentino Galoppo: "Esse jogador resolve meu problema".
Depois da chegada, o meia não era tão bom.
Mas ajudou quando foi preciso substituir Calleri, como centroavante improvisado. Terminou o Paulista como artilheiro, empatado com Róger Guedes.
Antigamente, no futebol, usava-se uma frase para descrever, de forma pejorativa, técnicos que não tinham boa relação com o elenco: "Eu ganhei, nós empatamos, eles perderam".
Rogério não era assim. Quase. O problema parece ser livrar-se do jogador mítico que passou pelo São Paulo e foi campeão pelo clube e pela seleção.
Ídolo não é profissão. Seu trabalho novo é de técnico. Para isso, é preciso ser líder, o que exige entender e tirar o máximo das pessoas, cada uma com sua particularidade. Não importa se um jogador sai do tratamento às 13h30 e Rogério só ia embora às 23h. Ninguém é ou será igual a Rogério Ceni, o mito.
O novo Rogério Ceni precisa extrair o que cada um tem de melhor para oferecer.
Em 2005 e 2011, quando Emerson Leão dirigiu o São Paulo, o grupo que tinha Rogério como goleiro costumava dizer que o treinador se impunha pelo medo. Quando acabava o temor, não havia trabalho tático nem técnico que mantivesse o respeito.
Rogério Ceni hoje, dizem, impõe-se também pelo medo. Mas, a isso, somam-se a reconhecida qualidade dos treinos e seu conhecimento do jogo, dos adversários e das estratégias.
Quando acaba o medo, fica o trabalho.
Então, Rogério tem muito a oferecer. Ele ainda pode ser o melhor treinador do Brasil e da América.
Para isso, precisa livrar-se da imagem do ídolo.
Rogério pode comer chocolate, tomar remédio para dormir. Pode tudo. Só ele tem condição de avaliar onde está o problema que ainda atrasa sua explosão como técnico.
Há dois anos, Rogério Ceni era campeão brasileiro, e Fernando Diniz saía do São Paulo depois de uma discussão com Tchê Tchê. Hoje, Diniz é festejado como melhor treinador brasileiro, e Ceni sai após dificuldades com o elenco e com Marcos Paulo.
Só Rogério pode virar o jogo outra vez.
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