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'A amiga genial': série da HBO recria o mundo de Elena Ferrante

Patrícia Kogut

Cena de 'A amiga genial', da HBO (Foto: Divulgação/HBO)Cena de 'A amiga genial', da HBO (Foto: Divulgação/HBO)

 

Afirmar que uma adaptação literária raramente está à altura do original é um daqueles chavões dispensáveis. Mas comentar a estreia de “A amiga genial” (na HBO) sem aludir aos livros de Elena Ferrante deixaria qualquer crítica incompleta. Porque trata-se de um best-seller mundial, com presença forte nas melhores estantes desde o seu lançamento, em 2011. E, apesar de classificada como “de fácil digestão” por seus detratores, a tetralogia é uma trama multidimensional e comovente que faz um recorte de um período histórico através de um olhar cheio de humanidade. Dito isso, vamos às comparações.

De cara, a série da HBO supera seu maior desafio: desmontar a desconfiança dos leitores da obra de Elena Ferrante. A primeira cena equivale ao primeiro parágrafo do livro. Essa analogia prometida na saída só vai ficando mais sólida à medida em que o programa avança. Dizer que a adaptação respeita a literatura seria pouco. Ela faz mais: é fidelíssima. Várias razões contribuem para a qualidade da produção e a mais importante delas, claro, é o seu roteiro. Mas há outras, também primordiais. O fato de “A amiga genial” ter sido realizada pela RAI (em parceria com a HBO) faz toda a diferença. As filmagens na Itália, com atores locais que falam dialeto napolitano, legitimam tudo.

Acompanhamos a amizade de Lila (Ludovica Nasti) e Lenu (Elisa Del Genio). A ligação delas atravessou a vida de ambas, mas a primeira temporada de oito episódios se restringe à infância das personagens. Elas vivem na área mais miserável de Nápoles, um bairro cinza, empoeirado e distante do mar. São os anos 1950, quando o papel das mulheres, sobretudo no ambiente social delas, se limitava a cuidar da casa e dos filhos. Lila e Lenu se destacam na escola, querem seguir com os estudos e enfrentam a resistência das famílias. Há uma complementaridade entre elas, que são conectadas pelo afeto e pelo rancor, pela competição e pelo carinho, enfim, por uma gama ampla de sentimentos que se misturam para compor a mais profunda das amizades. “A amiga genial” da televisão consegue comover como o romance. E, antes que falte espaço, é preciso apontar mais um valor importante dessa beleza de série: o trabalho das atrizes.

Não perca. E, se não leu Elena Ferrante, corra atrás.

 

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