Na ponta do combate ao crime e mais presente no dia a dia da população nas cidades, a Polícia Militar é a força policial mais mal avaliada pelos brasileiros, de acordo com pesquisa inédita feita pela Quaest em parceria com a UFMG. Pouco mais da metade da população (54%) vê a corporação como violenta e quase metade como desonesta (48%).
A título de comparação, as polícias Civil e Federal são apontadas como violentas, respectivamente, por 35% e 27% da população. Além disso, 37% dos entrevistados avaliam que a instituição estadual focada na prevenção e investigação não é honesta, percentual que cai para 26% no caso da corporação vinculada ao governo federal.
Quando detalhados os diferentes estratos da população, os que consideram a PM violenta se destacam entre os brasileiros com idade entre 16 e 34 anos — em que somam 58%, dez pontos a mais que o apontado por quem tem 60 anos ou mais —, entre as mulheres, em que são 56% (contra 51% entre os homens) e no segmento com renda de até dois salários mínimos, com os mesmos 56%. Já entre a população preta, o índice é de 57%, ante 53% entre brancos e 54% entre pardos.
— Há uma variação importante na população com menor renda, que é formada por aquelas pessoas que são vítimas do abuso e das ilegalidades que, infelizmente, existem nas ações, em particular, da Polícia Militar — explica o pesquisador Jorge Alexandre Neves, do Centro Internacional de Gestão Pública e Desenvolvimento da UFMG e um dos coordenadores da pesquisa.
A Polícia Militar é percebida de forma negativa mesmo entre parte significativa dos eleitores de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, segmento que costuma defender atuação mais dura das forças policiais. São 48% os que afirmam que ela é violenta, mesmo percentual dos que não a consideram truculenta. Ainda entre os que votaram em Bolsonaro no ano passado, há empate dos que avaliam a corporação como desonesta e honesta (43% a 44%, respectivamente).
Outro atributo em que a PM destoa é na visão de que é despreparada: 45% dos entrevistados têm essa opinião. Apontam o mesmo sobre a Polícia Civil 28% e apenas 12% têm essa percepção sobre a PF.
— Os governos estaduais terão que fazer um enorme trabalho de reconstrução da imagem e da confiança nas polícias. É preciso que façam seu trabalho de outra maneira — diz Felipe Nunes, da Quaest.
Apesar da percepção negativa sobre a PM, na avaliação dos brasileiros, a solução para melhorar a segurança pública no país passa por ela. A medida para diminuir a violência mais citada pelos entrevistados é justamente aumentar “a presença das polícias nas ruas”. Essa foi a resposta de 33% dos ouvidos na pesquisa espontânea, quando não é apresentada uma lista fechada de opções.
O índice ficou bem acima, por exemplo, de propostas como a criação de leis mais rígidas (9%), do investimento em educação (8%) e da prisão de criminosos (4%).
As propostas de conferir poder de polícia à guarda municipal e de armá-la, que devem ser foco de debate nas eleições municipais do ano que vem, dividem a população. São 52% os que defendem essa equiparação com as polícias, enquanto 44% se posicionam contra.
No Sudeste, os grupos somam 49% e 48%, respectivamente. No Norte, a medida é defendida por 68% dos entrevistados. Chama atenção o fato de as mulheres defenderem mais o poder de polícia às guardas que os homens (54% a 49%).
A possibilidade de usar armas fica no mesmo patamar: 51% defendem e 44% se posicionam contra. No Sudeste, há empate com 48% para cada lado.
Justiça como gargalo
A pesquisa também mediu a confiança nas principais instituições envolvidas na segurança pública do país. Nesse tópico, o Judiciário tem o pior desempenho, seguido de perto pela PM. São 46% os que dizem não confiar ou confiar pouco nos tribunais, e apenas 17% confiam totalmente.
Já os que não confiam ou confiam pouco nos policiais militares são 40%, enquanto apenas 23% afirmam confiar totalmente na PM.
Na outra ponta, com melhor avaliação, estão as Forças Armadas e a PF. Entre os entrevistados, 44% confiam totalmente na primeira instituição, e 36% dizem o mesmo sobre a segunda.
Outro dado que pressiona a imagem do Judiciário é o alto percentual dos que apontam que a Justiça não tem feito o que pode para resolver o problema da violência. Esse grupo representa 53% dos brasileiros. Para os coordenadores da pesquisa, prevalece a visão de que os tribunais contribuem para um cenário de impunidade.
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