Hoje reconhecido e combatido até pelo governo americano, o Primeiro Comando da Capital (PCC) foi fundado em 1993 por oito detentos da Casa de Custódia de Taubaté, conhecida como Piranhão, no interior de São Paulo. A ideia de formar uma espécie de ‘sindicato’ de criminosos não surgiu ao acaso, mas como uma reação dos presidiários ao massacre que havia, um ano antes, deixado 111 mortos no presídio do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo.
- Capítulo 1 - PCC já atua em 24 países, soma mais de 40 mil membros e envia drogas aos cinco continentes
- Capítulo 2 - Multinacional do tráfico: como o PCC 'tomou' o Paraguai, a guerra com o CV e a 'paz' via acordo milionário
- Capítulo 3 - Racha no PCC: áudio em que Marcola chama comparsa de 'psicopata' põe em xeque os rumos da maior facção do país
O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, afirma que aquele episódio de 2 de outubro de 1992, até hoje o mais violento da história do sistema penitenciário brasileiro, foi “fundamental” para o surgimento do PCC, que passou a se expandir dentro das cadeias paulistas e “colocou ordem no caos”. O GLOBO compilou em vídeo feito para série especial publicada em três capítulos depoimentos e imagens que contam a história da ascensão da facção criminosa:
Vídeo mostra a escalada do PCC rumo ao faturamento bilionário, dos 111 mortos no Carandiru a esquema global de tráfico
O médico Drauzio Varella, que atua há 35 anos como voluntário no sistema prisional paulista, conta que o PCC ‘barrou’ o consumo de crack nos presídios: — Lei de bandido é para funcionar — afirma.
Mas quando os bandidos não se entendem, o resultado é a derramação de sangue. Foi assim que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, chegou à chefia da facção. Sua ascensão se deu em meados de 2002, após o assassinato de sua mulher, a advogada Ana Maria Olivatto, supostamente a mando da mulher de um dos fundadores do grupo.
Anos mais tarde, em 2006, a transferência de Marcola para a Penitenciária II de Presidente Venceslau, uma unidade de segurança máxima, foi pivô de uma das maiores crises de segurança pública da história de São Paulo. Criminosos reagiram com rebeliões em série, ataques a órgãos públicos, ônibus incendiados, e agências bancárias depredadas. O saldo daquele rompante violento foi de 42 policiais e agentes de segurança mortos, além de 38 feridos.
— A omissão do Estado favoreceu o crescimento exponencial da facção — avalia Lincoln Gakiya.
O “crescimento exponencial” fez com que, três décadas após seu surgimento, o PCC alcançasse números de empresa multinacional: são mais de 40 mil integrantes espalhados por 24 países, para um faturamento anual na casa de US$ 1 bilhão.
Para Gabriel Feltran, pesquisador em sociologia do crime no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS) e autor de “Irmãos: Uma história do PCC”, o superencarceramento no Brasil é um dos fatores que permitiram à facção se tornar um dos maiores operadores de logística internacional do tráfico de drogas e armas:
— Essa política do PCC nasce dentro dos presídios, alimentada pela política pública. O que a gente está fazendo é justamente fomentá-la.
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