"Ler é transcender, é ir além do nosso por vezes cruel mundo imediato", escreveu o cantor Gilberto Gil em sua conta no Twitter, na tarde desta sexta-feira (23/4), em homenagem ao Dia Mundial do Livro. Referência ao dia de nascimento e morte de William Shakespeare , a data tem inspirado hashtags e listas de predileções em redes sociais.
Lista: Os melhores livros para ler em 2021
Leitor voraz, Antonio Fagundes publicou uma citação de Mario Quintana para homenagear a a data. "Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas", diz a mensagem postada pelo ator, que escreveu: "São nas páginas mágicas de um livro que podemos viver tantas histórias, aventuras, emoções, diversões e muitos aprendizados. Tudo sem sair do lugar".
Outra que também lembrou a data foi Thalita Rebouças. A página oficial da "Turma da Mônica", publicação de gibis mantida por Maurício de Sousa , ressaltou igualmente a importância da prática de leitura entre jovens. "Ler mais para ser mais: de letrinha em letrinha, uma história é contada e viajamos na leitura sem sair do lugar".
Aumento nos preços impede formação de novos leitores
Vale lembrar: um documento publicado pela Receita Federal há pouco mais de duas semanas voltou a preocupar o mercado editorial com o aumento da taxação dos livros no país. Baseado em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2019 do IBGE, o texto propõe o fim da isenção fiscal para publicações, com a justificativa de que livros não didáticos são consumidos por famílias com renda superior a 10 salários mínimos . Assim, a imunidade tributária não atenderia às classes mais necessitadas, sendo dispensável.
Grosso modo , a tese do governo federal quer dizer que a leitura, no Brasil, é uma prática restrita apenas às pessoas mais ricas do país. A realidade, no entanto, é outra.
Publicada em 2020, a pesquisa Retratos da Leitura 2019 aponta que 52% dos brasileiros são leitores, 70% deles pertencem às classes C, D e E e 20% leem em bibliotecas. Perguntados sobre o que os impede de ler mais, 5% dos leitores disseram que livros são caros, 4% que não têm dinheiro para comprar livros, e 3% que não há pontos de venda perto de onde eles vivem.
Idealizador da Festa Literária das Periferias (Flup), o escritor Julio Ludemir apontou, em entrevista recente ao GLOBO , uma significativa alteração no perfil do leitor brasileiro recentemente, algo provocado pela ampliação da classe média e pela entrada de estudantes de menor renda no ensino superior, por meio de programas de financiamento ou de políticas de cotas.
— É um perfil de leitores e leitoras que chegou à academia e que sabe exatamente o que quer ler. São responsáveis por fenômenos como a redescoberta da Carolina Maria de Jesus ou da Djamila Ribeiro — ressalta Ludemir.
Grupos pedem doações de livros
Durante a pandemia do novo coronavírus, iniciativas de moradores de favelas e comunidades em regiões periféricas dos grandes centros urbanos do país têm promovido o acesso à leitura em áreas carentes ou com ausência de equipamentos públicos.
Na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, a estudante Raíssa Luana de Oliveira, de 13 anos, segue conseguindo doações para a biblioteca comunitária O Mundo da Lua, que montou, em 2019, na comunidade onde mora.
No total, a ação já recebeu mais de 60 mil livros, que também foram doados para outras iniciativas populares — ela calcula que o acervo atual esteja entre 8 e 9 mil títulos. A frequência das visitas e retirada de livros é, para Lua, como a estudante da 8ª série é conhecida, uma prova do interesse da população de baixa renda pela leitura, ainda que esta demanda não apareça na compra de livros novos.
— Na pandemia muita gente, de várias idades, vem retirando livros. Às vezes levam até dez de uma vez. A realidade não permite que as pessoas comprem um livro de R$ 60, R$ 70. Mas, mesmo assim, elas continuam lendo muito — constata Lua, que está colaborando com bibliotecas populares de outros estados, como Minas e Piauí. — Me ligam direto, querendo saber como montar uma biblioteca, ou como conseguir doações. Está acontecendo no país todo.