Estela May, filha de Fernanda Young: 'Há uma pitada dela em tudo que eu faço'
Em entrevista exclusiva, ilustradora que assumiu o twitter da mãe conta como a família tem lidado com a perda: 'Quando a dor aperta, vamos todos juntos para a cama do meu pai ver filme'
Maria Fortuna
29/08/2019 - 17:36
/ Atualizado em 29/08/2019 - 18:39
Filha de Fernanda Young,
que morreu no último domingo
(25), a ilustradora Estela May, de 19 anos, encontrou uma forma própria de lidar com a dor da perda: escrever sobre a mãe. Depois de assumir o twitter da escritora e roteirista, onde tem publicado algumas das tirinhas que desenhou sob influência do humor ácido da mãe, Estela começou a postar textos em homenagem a ela no Instagram - no mais recente, conta como os pais se conheceram.
Uma publicação compartilhada por
Estela May
(@e.mym) em
— Nunca me expressei bem escrevendo, mas agora, falando sobre ela no Instagram, me senti muito livre. É a parte mais honesta da minha alma, ajuda a colocar para fora o que eu estou sentindo. Quando comecei a postar, a quantidade de amor que recebi das pessoas... me ajudou demais — diz. — O Twitter é uma responsabilidade, mas não tenho nenhuma pretensão de susbtituí-la e, sim, de homenageá-la.
Estela também emocionou com seu post de despedida.
Seguir a vida com o vazio deixado pela mãe está sendo duro, mas Estela conta que a família (Fernanda também deixou os filhos Cecília Madonna, gêmea de Estela, Catarina Lakshimi e John Gopala, de 10 anos,
além do marido, o roteirista e escritor Alexandre Machado
) está reagindo bem e que se supreendeu com a força dos irmãos menores.
— Eles estão impressionantemente fortes, é bonito de ver. Minha mãe era uma fortaleza, a mulher mais forte que já conheci. A gente tem se inspirado nela. A força é a maneira que a gente tem de ter contato com ela, estamos nos curando através dela — acredita. — Quando a gente fica muito sensível, a dor aperta, vamos todos juntos para a cama do meu pai ver filme. Estamos muito unidos.
Talvez o maior sucesso da carreira de Fernanda Young como roteirista, o humorístico marcou época na TV brasileira. A série acompanhava as maluquices do atrapalhado casal Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães).
'Saia Justa'
Entre 2002 e 2003, Young integrou a primeira formação do programa de TV "Saia justa", no GNT, ao lado de Rita Lee, Mônica Waldvogel e Marisa Orth.
'Aritmética'
Um dos best-seller de Fernanda, o livro usa como fio condutor a relação de amantes do escritor João Dias com a aposentada América, ambos com 75 anos, para descrever um círculo de relacionamentos que mistura amor, desejo, raiva, tristeza e frustração.
'Macho man'
Outra série criada com seu marido Alexandre Machado, conta a história do personagem Nélson interpretado por Jorge Fernando, que não é gay, nem hétero — é um tipo em transição. A série brinca com diversos clichês sobre sexualdiade.
'O pau'
A vingança é trama central no livro, que conta a história de Adriana, uma bela designer de joias que descobre sinais da traição do namorado, 14 anos mais novo. A partir disso, Fernanda usa o humor ácido que a consagrou para derrubar a teoria freudiana da inveja do pênis.
Com roteiro de Young e Alexandre Machado, a comédia romântica com ingredientes de perseguição de filme policial é dirigida por Daniel Filho. O longa é estrelado por Mariana Ximenes, Paloma Duarte e Thiago Lacerda.
'Como aproveitar o fim do mundo'
Na série "Como aproveitar o fim do mundo", Fernanda e Alexandre começaram uma carreira internacional entrando pela porta da frente. A série foi adaptada pelo canal americano CW, onde ganhou o nome de "No tomorrow"
'Shippados'
Última parceria entre Fernanda Young e o marido Alexandre Machado, a série de comédia é estrelada por Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch e mostra como, em tempos de Tinder e youtubers, a tecnologia afeta a dinâmica dos relacionamentos dos jovens de hoje. O elenco tem ainda Luis Lobianco, Clarice Falcão, Rafael Queiroga e Júlia Rabello.
'Ela me influencia desde pequena'
Aos 19 anos, Estela assina cartoons para o jornal "Folha de S.Paulo" e estuda Comunicação e Multimeios na PUC-SP. A paixão pelo desenho surgiu quando era criança, na escola, e seguiu com incentivo da mãe, autora de ilustrações e colagens. Estela tem várias outras coisas parecidas com Fernanda: gosta de um visual meio punk e ama autores como Hemingway, Paul Auster
e Ian Mcewan.
Seus filmes preferidos são "Uma mulher sob influência", de John Cassavetes, "Paris, Texas",
de Wim Wenders.
— Sempre disseram que eu era mais a minha mãe, ligada à arte, e Cecilia, o meu pai, mais para o lado do showbiz. As roupas, tudo que minha mãe fazia me influencia desde pequenininha, ela me ensinou tudo que eu sei. Poucos têm a sorte de se ver tanto em sua mãe como eu — afirma. — Tudo que fizer, farei para homenageá-la. Há uma pitada dela em tudo o que eu faço, é uma grande inspiração para mim.
No próximo sábado, Fernanda será homenageada por amigos com uma missa de sétimo dia. Estela fez um desenho de Fernanda especialmente para a ocasião. Fernanda Nobre, com quem Young ensaiava a peça "Ainda nada de novo", lerá um dos poemas preferidos da atriz e roteirista: "Resíduo", de Carlos Drummond de Andrade.
Marisa Orth, atriz que Fernanda adorava,
também vai ler um texto.
— Vai ser uma celebração com tudo que ela gostava. Acho que iria amar.