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Muito antes do teatro e do cinema, houve a paixão pelo balé. Quando criança, Lily Gladstone era fascinada pela figura de Maria Tallchief (1925-2013), a primeira bailarina de origem indígena a ganhar os palcos de Nova York. Ao mencionar o desejo de que a reserva onde moravam tivesse uma escola de balé para frequentar, como Maria teve, ouviu do pai a explicação de que a dançarina só havia chegado aonde chegou por ela pertencer à comunidade osage, que enriqueceu com o petróleo encontrado em suas terras, no início do século passado.

— Foi a primeira vez que ouvi falar da riqueza e opulência dos osage — conta em entrevista de vídeo a atriz indígena de 37 anos, estrela de “Assassinos da lua das flores”, o filme de Martin Scorsese que resgata o massacre sistemático de uma tribo daquela etnia em Oklahoma nos anos 1920.

Lançado no último Festival de Cannes, o filme de Scorsese abre um novo capítulo na carreira da atriz, que até os 11 anos viveu em uma reserva dos blackfeet, no estado de Montana. Sua performance como Mollie, mulher osage casada com o sobrinho (Leonardo DiCaprio) de um rico criador de gado (Robert De Niro), e cujos amigos e familiares são misteriosamente assassinados, vem conquistando corações (e prêmios) e pode lhe trazer o Oscar — as indicações saem terça-feira.

A vitória de Lily no Globo de Ouro — foi a primeira indígena a levar o troféu de melhor atriz, na categoria drama — só reafirma seu favoritismo. Ela celebra:

— O fato de “Assassinos da lua das flores” e minha performance ganharem atenção é um sinal de que as pessoas se importam com o caso de Mollie e dos indígenas. É isso que importa.

Lily Gladstone, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+
Lily Gladstone, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+

Como você se sentiu ao ser ovacionada ao final da sessão de gala de “Assassinos da lua das flores” em Cannes?

Só lembro de me sentir como se estivesse flutuando. E de sentir um alívio, porque aquela manifestação significava que Mollie, a minha personagem, tinha atravessado a tela e tocado o público. Que a presença dela e sua história eram grandes e fortes o suficiente para provocar aquele tipo de reação. Foi importante estar ali naquela sala com as com as atrizes que interpretaram as irmãs da personagem, representando a nação osage.

Também foi em Cannes que começaram as especulações em torno de seu nome para a temporada de prêmios, de que você poderia fazer história como a primeira indígena americana a ganhar o Oscar.

Sim. Foi uma das primeiras coisas que Leo (Leonardo DiCaprio) usou para me provocar ainda durante as filmagens. Depois de algum tempo no set fazendo cenas juntos, desenvolvemos alguma confiança e ele começou a falar sobre o assunto comigo de forma meio codificada. Uma vez, ele perguntou: “E então, algum indígena americano já ganhou o Oscar?”. Acho que mencionei Chief Dan George, especificamente falando da categoria de atuação. Então fiquei quieta por um segundo e resolvi entrar no jogo dele. Leo riu, e eu apenas disse que não conseguiria pensar em prêmios. Ainda estávamos fazendo o filme! (risos) Mas senti o que ele queria dizer: que o trabalho que eu estava fazendo era realmente sólido.

Mas, desde a estreia do filme, a possibilidade de ganhar o Oscar fica cada vez mais forte, não?

Acho que sim, é algo que está no horizonte. Mas não me atrevo a olhar para ele. O fato de “Assassinos da lua das flores” e minha performance ganharem atenção é um sinal de que as pessoas se importam com o caso de Mollie e dos indígenas. É isso que importa.

Sentiu-se intimidada por estar em um set cercada por veteranos premiados, como Scorsese, De Niro e DiCaprio?

Levei algum tempo para me adaptar. Eles também estavam se acostumando comigo. Depois, além de me “convidarem para o clube”, eles esperavam que eu trouxesse algo para contribuir para o filme. E, quando terminamos tudo, percebi que o processo se parecia com os pequenos projetos de teatro underground que eu costumava fazer no passado. No fim das contas, eram artistas apaixonados pela história que estavam contando.

Você já havia trabalhado em alguns projetos da diretora Kelly Reichardt, de relativo sucesso. Precisou passar por testes para “Assassinos da lua das flores”?

Fiz leituras de texto e até gravei um vídeo para eles em 2019, antes de a Covid fechar tudo. Em meados de 2020, soube que o roteiro havia passado por uma revisão completa. Então recebi a ligação que nunca pensei que iria receber: um pedido para fazer um Zoom não com a diretora de elenco, mas com o próprio Marty (Martin Scorsese), o que foi o máximo! Fui informada de que Mollie seria uma personagem maior e mais significativa na trama. Depois, Marty marcou um comigo e Leo, e ficamos conversando por umas três horas sobre a história do filme e sobre nós mesmos. De certa forma, aquilo funcionou como um teste de química com Leo porque, depois daquela reunião, ele me contou que Marty disse algo como “precisamos pegar ela agora, antes que alguém o faça”.

Você já conhecia o livro de David Grann, que deu origem ao filme? Quando conheceu a tragédia dos osage?

O caso dos osage é passado de pai para filho entre os indígenas americanos. Antes de me interessar por atuação, eu amava balé e Maria Tallchief, a primeira grande estrela indígena da dança americana. Ela era uma osage de Fairfax, a mesma cidade onde a maior parte do filme se passa. Lembro de ter falado para o meu pai que gostaria que nossa reserva tivesse uma escola de balé e ele me explicou que Maria só conseguiu ser bailarina porque os osage tinham dinheiro para isso, e me contou sobre o boom do petróleo da tribo, a riqueza que eles desfrutaram, aquelas histórias de opulência descritas no filme. Mas ele não me contou que muitos osage foram mortos por isso. Eu era pequena demais para entender.

“Assassinos da lua das flores” resultaria em um filme diferente, caso fosse dirigido por um cineasta indígena?

Percebo um consenso geral de que as pessoas queriam ver mais a perspectiva dos osage nesse filme. O que tínhamos originalmente era o livro de Grann, contado a partir da investigação do FBI sobre os crimes. Mas, posteriormente, outro livro, chamado “Pipe of february” (“Cachimbo de fevereiro”), escrito por Charles Redcorn, um autor indígena, também acabou alimentando o filme de Marty. O livro de Redcorn mostra, de modo mais detalhado, os relacionamentos enganosos entre osage e brancos, e o nível de paranoia que só aumentava. Felizmente, o livro de Redcorn está sendo transformado em roteiro por um neto dele, projeto que tem apoio de Marty, e deve virar filme em breve.

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