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Por — Rio de Janeiro

Em menos de uma semana, Jeferson Tenório viu seu terceiro romance, "O avesso da pele" (2020), tornar-se alvo da extrema-direita no Brasil e correr o risco de ser recolhido de escolas públicas em pelo menos três estados. No sexta-feira (1), um vídeo gravado pela diretora da Escola Ernesto Alves, Janaina Venzon, de Santa Cruz do Sul (RS), circulou pelas redes com a acusação de que o livro seria inapropriado para o uso em sala de aula com alunos do ensino médio, por trazer situações envolvendo atos sexuais e usar "palavras de baixo calão".

Vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance em 2021, o livro foi passou a integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNDL) do Ministério da Educação (MEC) em 2022, ainda no governo Bolsonaro, sendo distribuído gratuitamente às escolas no ano passado. Pelas regras do PNDL, há uma primeira seleção feita pelo Governo Federal e, posteriormente, é enviada uma lista de opções para as escolas, que escolhem as obras com as quais querem trabalhar com os alunos.

Diante da reação à tentativa de banir a publicação, na segunda-feira (4) a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul determinou que as escolas de Santa Cruz do Sul mantenham e utilizem os exemplares. Ainda assim, o incidente gaúcho causou uma reação em cadeia: na quarta-feira (6), o estado do Paraná, governado por Ratinho Júnior (PSD), mandou recolher os exemplares do livro de suas escolas estaduais de ensino médio. O mesmo aconteceu com a Secretaria de Educação de Goiás, estado governado por Ronaldo Caiado (União Brasil). Em ambos os casos, o argumento usado foi de que a obra seria retirada das escolas para ser "avaliada" se é adequada para o uso em sala de aula.

— Vejo dois movimentos nestas ações. Um vem do ambiente escolar, onde há um despreparo tanto para entender o que é a linguagem literária quanto para se lidar com temas sensíveis em sala. O segundo ponto é o cruzamento disso com um pensamento ideológico conservador ou mesmo de extrema-direita, que escolhe um objeto como inimigo. E este objeto é o livro, é a linguagem — comenta Jeferson Tenório. — E isso não tem a ver com a história, até porque quem está atacando provavelmente não leu o livro. Ele serve de capital político para que se perpetue a informação falsa de que o governo está distribuindo livros "pornográficos" para adolescentes, é parte de uma estratégia.

Capa do livro 'O avesso da pele': crítica contundente ao racismo estrutural — Foto: Reprodução
Capa do livro 'O avesso da pele': crítica contundente ao racismo estrutural — Foto: Reprodução

Para o autor, é parte dessa dinâmica que as argumentações contra o livro escondam fatos, como o fato de a obra não ter a trama centrada em passagens sexuais e os livros do PNDL serem selecionados pelas próprias escolas.

— A estratégia fascista opera desta forma, primeiro você acaba com a verdade dos fatos e depois oferece uma narrativa fantasiosa. Quando isso vira um discurso digital, cria o efeito de manada. E se não há consequências quando o livro é recolhido em um estado, logo vai acontecer no outro — observa o escritor. — É algo que não se pode ignorar, porque mesmo tendo um governo que se coloca como esquerda não é a garantia de que o bolsonarismo terminou. E ele opera muito bem esse tipo de sentimento que pretende a eliminação de tudo aquilo que diverge do que você acredita.

Tenório explica que as passagens que envolvem sexo e a terminologia usada não são gratuitas, mas têm o sentido de reforçar a sexualização dos corpos negros, um dos temas do romance. Carioca radicado em Porto Alegre desde os anos 1990, onde desenvolveu sua carreira literária, o autor localiza em Porto Alegre a trama de "O avesso da pele", sobre um filho que, após perder o pai professor numa desastrosa abordagem policial, tenta resgatar o passado familiar.

— O livro é sobre uma relação difícil entre pai e filho, atravessada pelo racismo e a violência. A brutalidade das abordagens policiais é algo que faz parte do meu dia a dia, enquanto homem negro do Sul do país. Não imaginava que a história iria tocar tantas pessoas, em vários países. E sabia que poderia incomodar alguns, mas também não imaginava que as coisas fossem chegar nesse ponto, de ver livros recolhidos — diz o autor. — É muito característico desse movimento conservador pegar um ponto que não tem relevância para fazer uma cortina de fumaça. É falar da sexualidade para esquecer o racismo, o machismo, a violência doméstica. Pegar um livro como um problema e deixar de lado a falta de estrutura das escolas, a falta de professores, a precariedade do ensino.

Em meio aos ataques, o escritor tem recebido grande apoio da sociedade. Um abaixo-assinado com o apoio de mais de 250 artistas e intelectuais, como Antônio Fagundes, Chico Buarque, Djamila Ribeiro e imortais como Ailton Krenak e Antônio Carlos Secchin, circulou nos últimos dias. A Academia Brasileira de Letras (ABL) publicou nota de repúdio, afirmando que "não há razão para que, em pleno século XXI, livros sejam negados a alunos sob a desculpa de inadequação de linguagem". E, em paralelo, há registro de aumento das vendas do livro após a repercussão do caso:

— A compra do livro é uma resposta rápida, que passa pelo capital, mostrando o lugar que a literatura e a cultura ocupam no imaginário. E quando as pessoas têm acesso ao material elas comprovam que nada do que está sendo dito tem a ver com a história do livro. Ao mesmo tempo, é assustador que esta seja a motivação que faz com que as pessoas busquem o livro, que ele tenha que passar por uma censura para que isso aconteça.

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