Música
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Por — Rio de Janeiro

Era o início dos anos 1990 quando a campainha tocou na casa do percussionista Marcos Suzano, em Santa Teresa, no Rio, e a visita chegou com violão e sem pressa: Lenine. Daquele encontro surgiria um disco emblemático. Lançado em 1993, “Olho de peixe” é o segundo álbum do pernambucano radicado no Rio, o primeiro do percussionista carioca e um marco na carreira dos dois. Comemorando 30 anos, o trabalho chegou remasterizado nas plataformas digitais no mês passado, ganhou songbook assinado por Yuri Pimentel e será relançado em vinil pela Noize Records semana que vem.

Lenine e Marcos Suzano estavam alinhados, falando a mesma língua, em fina sintonia, cada um no seu instrumento. Do primeiro, havia uma penca de músicas autorais na gaveta, visto que já se passavam dez anos desde seu primeiro disco, “Baque solto” (1983), feito em parceria com Lula Queiroga. Como quem vai à igreja sacramentar uma união, Suzano e Lenine foram, então, procurar um estúdio.

‘Uma loucura’

— Comentei com o Denilson (Campos, engenheiro de som), parceirão que gravou os discos do Aquarela Carioca (banda da qual Suzano fez parte). Falei com ele que tinha levado um som com o Lenine e que se tivéssemos estúdio seria uma loucura — lembra o percussionista. — Ele disse que tinha várias horas extras num estúdio no Cosme Velho muito usado pela Velas, gravadora do Ivan Lins. Faziam muitos jingles, não tinha disponibilidade. Final de semana era mais relax.

E assim, “Olho de peixe” foi inteiramente gravado em quatro fins de semana. O pernambucano assina a composição das 11 faixas ao lado de parceiros como Bráulio Neto, Lula Queiroga e Paulo César Pinheiro. O disco tem participações de Carlos Malta (sax em “Olho de peixe”), Fernando Moura (teclados em “Escrúpulo”) e Paulo Muylaert (guitarra em “Lá e Lô”). O resto é uma grande “capoeira” entre o violão e a percussão de Lenine e Suzano.

— Criou-se um diálogo muito orgânico entre a maneira percussiva com que eu toco violão e o jeito melódico e harmônico que a percussão do Suzano tem — diz Lenine, em conversa por vídeo. — A gente teve essa empatia desde a primeira vez que nos encontramos, e o desejo foi mútuo. Sempre um diálogo muito aberto e profícuo. E o disco tem um peso sonoro que reflete muito o gosto pessoal meu e do Suzano. Na época, estava acontecendo o hip-hop, e nós somos crias do Led Zepellin. Havia expoentes que nos uniam. A maneira como a gente dialoga é como uma capoeira, um jogo. Quem está junto com você antecede o que você vai fazer.

Denilson Campos, que hoje tem seu trabalho voltado para o audiovisual, lembra do clima leve no estúdio durante a gravação de “Olho de peixe”. O engenheiro diz que exigiu “o máximo dos equipamentos” disponíveis e se orgulha do resultado.

— Costumo dizer que esse foi o processo de gravação ideal. A gente não tinha pressão de prazo, horário para cumprir. O Lenine sempre fazia um violão e uma voz de referência, e o Suzano fazia percussão em cima. Foi muito tranquila a gravação, a gente se divertia o tempo todo — lembra Denilson.

Do Cosme Velho, a gravação seguiu para os Estados Unidos, onde foi mixada por James Ball no RPM Studios, em Nova York.

— Foi fundamental. Sempre gostei de gravar e dar para um colega mixar, porque é um ouvido limpo, sem os vícios que você pegou durante a gravação. O Jim Ball fez exatamente isso. Nunca tinha escutado e colocou a assinatura dele na mixagem. Eu me lembro de uma música em que ele falou: “Vocês estão felizes? Porque eu tenho três ou quatro maneiras de mixar essa”. E nós gostamos — conta Denilson.

A capa do álbum acompanha o conceito que passa pelo título e pela faixa homônima. Lenine explica:

— A Nasa havia disponibilizado uns fotogramas de Júpiter. Havia uma grande mancha vermelha, com um movimento circular de um furacão. Quando vi a imagem, pensei: “Caramba, se recortar aqui fica o olho de peixe”, que é justamente a visão periférica das coisas. Era a maneira como eu me lançava como compositor, com um range bem amplo, muitas possibilidades. Ia de rock a caboclinhos. É uma lente que deforma e amplia tudo — diz Lenine.

Mudança de rota

O disco abriu caminhos para Lenine e Suzano, que fizeram turnês pela Europa e pelo Japão com o trabalho que até hoje é cultuado como uma relíquia na discografia dos dois.

— Muitas coisas se formataram pra mim, como cantor, produtor e compositor, a partir do “Olho de peixe”. De como fazer, como me jogar em caminhos diferentes mas sem perder um prumo, ou seja, me deu uma autonomia, formatou uma maneira de compor, um certo estilo de tocar. Tudo isso o “Olho” direcionou de alguma maneira. Me transformei no produtor dos meus discos desde então — diz Lenine.

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