Nelson Motta
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Leonardo Padura é um grande escritor cubano, consagrado com “O homem que amava cachorros” e criador do detetive Mário Conde, que agora volta em sua terceira e provavelmente última aventura em “Pessoas decentes”. Conde tinha a peculiaridade de viver, nas primeiras décadas da Revolução, em uma sociedade com baixíssima criminalidade, que no máximo podia lhe proporcionar crimes passionais. Como funcionário da Polícia do Estado, era muito mal pago, sem recursos tecnológicos, numa sociedade de escassez em que era muito duro conquistar as refeições do dia (tão diferente dos clássicos detetives gourmets rsrs) e a autoridade era exercida com mão de ferro na criação do “novo homem cubano”, íntegro, patriota, honesto e incorruptível. Todo mundo tinha medo do Estado vigilante e repressor de qualquer desvio ideológico, num controle que deixava pouco espaço e muito temor para crimes.

Eu imaginava que era muito difícil para o escritor encontrar um crime e um mistério para o detetive Conde desvendar, em uma sociedade tão fechada e vigiada, em que o crime não compensava, literalmente, porque eram grandes os riscos e pouco o proveito. Velhos tempos. No romance atual, a partir do assassinato brutal de um antigo e poderoso comissário do Estado, que destruiu vidas e carreiras de artistas, e os perseguiu como “inimigos do Estado”, mas acumulou uma fortuna em obras de arte de pintores cubanos que confiscava, não para a sua amada Revolução, mas para ele mesmo, um homossexual corrupto, violento e ganancioso. O crime desencadeia uma série de eventos sinistros, com outros assassinatos, e Conde investiga a história do corrupto e revela as cadeias de intrigas do caso.

Julio Cortázar dizia que a ficção é a história secreta da sociedade, e os livros de Mário Conde mostram como funcionava a burocracia corrupta, agora espalhada pelo bas-fond de Havana, dominado por cafetões poderosos que dominam bordéis com prostitutas europeias e latino-americanas, além das cubanas.

Incontáveis livros, quadros, poesias, músicas, estátuas, foram proibidos de existir pelo comissário decapitado de “Pessoas decentes”, em um país onde só o Estado podia publicá-los, e seus autores eram perseguidos e humilhados em empregos no campo ou nos lugares mais sujos da cidade.

A tal história de que o poder corrompe tem em “Pessoas decentes” um retrato histórico narrado por um detetive que, assim como o escritor Leonardo Padura, sempre acreditou no castrismo, viveu o tenebroso “período especial” de miséria geral, e acompanhou a decadência dos valores e ambições e ilusões perdidas da Revolução, protagonizada por civis e militares humanos, demasiadamente humanos, e agora está aposentado com 60 anos, ganhando uma merreca e sobrevivendo de um bico de segurança de uma boate na zona dos bordéis. Conde reflete sobre a decadência da decência contando a história secreta de Havana nas últimas cinco décadas.

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