Se Carlos Drummond de Andrade estivesse vivo, ele certamente devolveria a medalha da Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional. Quem afirma são os herdeiros do poeta, morto em 1987. A família se manifestou após a notícia de que, este ano, a instituição iria conceder a mesma a honraria ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal por ataques à democracia.
Ao blog de Afonso Borges, Pedro e Maurício Drummond, netos e detentores da obra de Carlos, expressaram sua revolta com a homenagem. Eles também esclareceram que, em respeito à memória do avô, não pretendem devolver a medalha recebido por Drummond em 1985, em um contexto muito diferente.
"Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa que também já teve, como diretores, intelectuais do porte de Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna", escreveram Pedro e Maurício Drummond . "Época em que o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação".
Os poetas Marco Lucchesi e Antonio Carlos Secchin, que receberiam a honraria este ano recusaram recusaram a medalha da Ordem do Mérito do Livro após saber que seria entregue a Daniel Silveira.
"Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca", afirmou o intelectual em seu Twitter.
Já Secchin enviou um email à direção da Biblioteca Nacional explicando que não se "sentiria bem vendo compartilhada a Medalha do Mérito de Livro a personalidades que provavelmente não veem no livro mérito nenhum".
- Nossas eventuais más companhias são as que escolhemos, não as que nos são imposta - disse ele ao GLOBO.