María Kodama, viúva do famoso escritor argentino Jorge Luis Borges, morreu neste domingo em Buenos Aires, aos 86 anos, em decorrência de um câncer, informou a família à imprensa local.
Kodama foi escritora, tradutora, colaboradora e herdeira de Borges, considerado pela crítica literária acadêmica como um dos maiores poetas, ensaístas e contistas de seu tempo.
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Ela conheceu o escritor quanto tinha 16 anos (ele era 38 anos mais velho). Casaram-se em abril de 1986, dois meses antes da morte de Borges, e durante quase 40 anos permaneceu como uma zelosa guardiã da obra do escritor. Seu controle absoluto sobre os escritos do autor provocou admiração e críticas, entrando em algumas disputas judiciais.
O mais famoso deles, que perdeu, foi um processo contra o escritor Pablo Katchadjian, a quem processou em 2015 por suposto plágio depois que usou o conto "O Aleph" para publicar uma versão "gorda" que acrescentava frases ao narrador de Borges. Ele não foi o único: também proibiu o francês Jean Pierre Bernès, redator de Borges na Pléiade de Gallimard, de publicar 120 fitas de diálogos com o autor antes de sua morte.
Em 2012, ele obrigou a editora Random House a retirar um texto da mexicana Elena Poniatowska de uma compilação sobre a relação da escritora com o México por atribuir erroneamente um poema a ele; e criticou duramente a publicação de "Borges", livro póstumo do melhor amigo do escritor, Adolfo Bioy Casares. “É uma pena, é muito desleal. Se uma pessoa é um amigo, o que vos digo é segredo confessional”, disse ao El Pais em 2016 sobre o retrato íntimo das misérias e maldades partilhadas por dois escritores.
Em uma de suas últimas lutas pela memória do escritor, chegou a enfrentar o atual presidente argentino, Alberto Fernández. Em 2019, o presidente tentou criar um museu para o escritor com o arquivo pessoal de um colecionador, e Kodama desaprovou: depois denunciou que muitos dos objetos que o empresário Alejandro Roemmers ia doar ao Estado foram roubados.