Teatro
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O diretor Moacyr Góes — Foto: Leo Martins
O diretor Moacyr Góes — Foto: Leo Martins

Previsto para receber três mil pessoas, o campo de refugiados de Moria, na Ilha de Lesbos, na Grécia, tinha 13 mil quando foi destruído por um incêndio, em setembro de 2020. Elas viviam uma rotina de fome, péssimas condições sanitárias, estupros, assassinatos. Muitas das famílias (oriundas da Síria, do Afeganistão, do Sudão e de outros países) foram transferidas para um novo campo da região, mas a situação é sempre precária.

“Moria” é o título do espetáculo de Moacyr Góes em cartaz às terças e quartas, até a próxima semana, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. No texto escrito pelo próprio diretor (com assessoria de André Chevitarese, professor de História das Religiões da UFRJ), duas atrizes iranianas de minoria cristã (vividas por Claudia Lira e Tarciana Giesen) se encontram de madrugada no campo, clandestinamente, para ensaiar uma peça.

— O que sustenta essas mulheres é o teatro. Fora disso, é sofrer perseguição e tentar escapar. Uma, que é pega e violentamente atacada, começa a questionar a existência de Deus — conta Moacyr.

Ele criou ainda uma terceira personagem (de Carol Alves), muçulmana da Síria, também alvo de violência.

— É uma peça sobre intolerância religiosa e como ela recai mais fortemente sobre as mulheres. O horror é maior porque sempre aparece a questão sexual. No Oriente Médio, há meninas raptadas e vendidas para tropas, milícias — diz ele, para quem “os refugiados são uma chaga no mundo”. — Ninguém sabe o que fazer com eles. Não têm tempo, não têm espaço, estão fora da ordem, fora da vida.

Tarciana Giesen, Claudia Lira  e Carol Alves no elenco de 'Moria' — Foto: Divulgação
Tarciana Giesen, Claudia Lira e Carol Alves no elenco de 'Moria' — Foto: Divulgação

O forte interesse pelo assunto levou Moacyr, que vinha realizando musicais (como “Alegria, alegria” e “Uma avenida chamada Brasil”), de volta ao teatro dramático. Sua última montagem era de 2015, “Auschwitz 70”, com texto dele mesmo.

— O que me encanta é: qual a necessidade da fé? Sou ateu, mas apaixonado por isso — afirma. — Se não existir aquilo em que acreditam as pessoas que têm fé, pelo menos são as histórias mais extraordinárias já escritas, inventadas: a Bíblia, os gregos, os mitos de fundação. Isso estrutura a vida das pessoas. E o teatro vem dessas narrativas.

Também é um retorno de Moacyr a um teatro mais experimental e artesanal, que ele fez na primeira fase da carreira, no final dos anos 1980 e ao longo dos 1990. Criou encenações de grande impacto visual, como “Escola de bufões”, “Epifanias” e “O livro de Jó”.

— Esteticamente, “Moria” dialoga com esses trabalhos — diz ele. — É um espetáculo sobre algumas coisas e também sobre o teatro. O teatro dentro do teatro. É uma retomada mais intensa dessa investigação. Já fiz até a chegada do Papa ao Maracanã, mas foi no teatro que criei uma dimensão mais autoral.

No fim da década de 1990, Moacyr foi para a TV Globo, onde ficou por quatro anos e dirigiu novelas (“Suave veneno” e “Laços de família”) e “Malhação”. No cinema, foi responsável, na primeira década do século, por produções como três longas-metragens com Xuxa e dois com o padre Marcelo Rossi. Também realizou filmes de menor orçamento, como “Dom” (2003) e “Bonitinha, mas ordinária” (2013).

— Quando fui para a TV, levado pelo Paulo José, fui chamado de vendido — recorda. — Hoje não é algo que alguém, em sã consciência, vá falar. As pessoas são profissionais, precisam trabalhar, e são respeitadas por suas escolhas. Se vou a um teatro ver alguma peça, não me sinto olhado como se fosse um paquiderme.

“Moria” é uma produção pequena, bancada pelo diretor, que cuida também de cenário e figurinos — a direção musical ficou a cargo de seu filho, Miguel de Góes, e de Tom Veloso, filho de Caetano. Uma estrutura bem menor do que outras que Moacyr, hoje com 61 anos, já teve na carreira.

— Não penso nisso. Sei que me afastei do teatro — diz ele. — Nunca acreditei em estar no mainstream. Meu trabalho sempre foi muito solitário. Mesmo quando trabalhei com Ítalo (Rossi), Marieta (Severo), Vera (Fischer), Marília (Pêra), era muito no meu canto. Não acho que o mercado se fechou para mim, que eu fui esquecido.

Animado, Moacyr planeja até voltar a ter uma companhia teatral, algo praticamente impossível hoje, por causa dos custos para se manter várias pessoas num projeto permanente.

— Acho que o teatro perdeu muito o seu caráter investigativo e ousado — acredita. — Ele está mais localizado na questão temática, do conteúdo, das motivações, do que na experiência estética. Essa experiência é que me marca muito.

Moacyr também trabalhou em várias campanhas políticas, entre elas as de Fernando Gabeira, sobre quem realizou um documentário. Em 2019, procurou fazer uma ponte entre produtores de cinema e teatro e o governo de Jair Bolsonaro, pois conhecia o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Diz ter conseguido algumas vitórias, mas desistido ao perceber a relação difícil daquele governo com a cultura.

— Houve um entendimento muito terrível sobre a arte e os artistas. Fomos tachados de cigarras. Ou seja, enquanto as formigas trabalhavam, nós cantávamos e queríamos dinheiro público. Na verdade, sempre fomos formigas que cantam. Sempre trabalhamos muito — afirma.

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