CAIRO, EGITO — Os 25 tripulantes do cargueiro Ever Given, que encalhou em março no Canal de Suez, continuam na embarcação, e podem enfrentar anos de espera até que possam deixar o navio.
De acordo com a BBC, a tripulação está vivendo longe de casa, no Egito, refém de um conflito multimilionário envolvendo o navio de bandeira panamenha, de propriedade de uma holding japonesa, operado por uma empresa alemã, com tripulação indiana.
Na internet: Nos 6 dias de encalhe, navio virou cenário para selfie e brincadeiras nas margens do Canal de Suez
O Ever Given ficou encalhado por quase uma semana, de 23 a 29 de março, causando o bloqueio de uma das principais rotas marítimas comerciais do mundo. Agora, se encontra no Grande Lago Amargo , no sistema do Canal de Suez.
Na semana passada, representantes da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transporte (ITF) embarcaram no Ever Given para verificar a saúde e o bem-estar da tripulação. Segundo eles, três semanas depois do incidente, os tripulantes ainda estavam em boas condições e "de bom humor"
Entenda: Por que o Canal de Suez é tão importante e como o navio encalhado afetou o comércio mundial
No entanto, de acordo com comunicado divulgado pela ITF, a tripulação está em uma posição delicada e compreensivelmente ansiosa para saber se poderá voltar para casa como de costume, quando seus contratos terminarem.
A Autoridade do Canal de Suez já avisou, porém, que o navio permanecerá no Egito e sua tripulação não poderá abandoná-lo até que sejam pagos os quase US$ 1 bilhão exigidos para compensação dos danos causados pelo encalhe do navio, pela operação de salvamento e pela "perda de reputação", diz a BBC.
— É natural que eles fiquem ansiosos com a incerteza da situação" — disse, em entrevista à BBC Mundo, Abdulgani Serang, do sindicato Indian Boaters' Union, que representa a equipe do Ever Given.
Serang destacou ainda que a empresa alemã Bernard Schulte, que alugou a embarcação e contratou a tripulação, é conhecida e os marinheiros têm acordos sindicais adequados.
Litígio pode levar anos
A resolução desse litígio internacional entre todas as empresas, seguradoras e agências governamentais pode levar anos, alertam especialistas.
Segundo a BBC, enquanto a autoridade do Canal de Suez argumenta que os esforços para libertar o navio foram caros e deveriam ser compensados, os armadores entraram com um processo no Reino Unido contra a empresa que operava o Ever Given.
Os especialistas afirmam que, diante das acusações e processos, determinar o responsável e a indenização não será fácil. Em meio a esse imbróglio jurídico está a tripulação.
— Não houve perda de vidas, nenhum derramamento de óleo ou atividade criminosa no incidente. É apenas uma questão civil sobre as implicações financeiras negociadas pelos proprietários egípcios, fretadores, seguradoras e autoridades — afirmou o representante do Sindicato Indian Boaters' Union.
Na internet: Navio encalhado virou alvo de memes na web e no WhatsApp
No momento, o status oficial do navio é de "confiscado", segundo a Evergreen, empresa de navegação que aluga porta-contêineres da holding japonesa Shoei Kisen Kaisha.
Quando o Ever Given encalhou, lembra a BBC, cogitou-se que as condições meteorológicas foram culpadas pelo incidente. Logo depois, os investigadores passaram a questionar a competência da tripulação e uma possível negligência.
No mês passado, Marwa Elselehdar, primeira mulher capitã de navio do Egito, foi surpreendida com rumores na internet de que ela era a culpada pelo incidente envolvendo o cargueiro Ever Given.
Na época do incidente, a capitã estava trabalhando como primeira oficial da embarcação Aida IV, que navegava a centenas de quilômetros da Alexandria.
Até o momento, ninguém foi formalmente acusado pelo incidente.
Navio ficou encalhado por seis dias
O Ever Given encalhou no dia 23 de março, impedindo por seis dias a passagem em uma das rotas comerciais mais importantes do mundo, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, na Europa.
Equipes de resgate finalmente conseguiram liberar o navio Ever Given na madrugada do dia 29 de março. O indicente interrompeu o tráfego em uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, chegando a causar um congestionamento de mais de 400 embarcações .
Após desencalhe do navio no Canal de Suez, as empresas teriam pela frente uma nova dor de cabeça: a corrida por seguros . Cerca de 90% das cargas marítimas não são seguradas para atrasos, segundo revista especializada Lloyd’s List. E muitos podem ficar sem indenização.