RIO - Há uma parcela dos trabalhadores informais no Brasil que é a mais vulnerável de todas . Muitos idosos ou pessoas com doença crônica , o que agrava os efeitos do coronavírus, trabalham por conta própria, sem garantia de renda se não trabalharem. Eles somam 8,6 milhões , ou 33% dos conta própria, de acordo com levantamento feito pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps).
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— São pessoas que vivem na pobreza, na informalidade e têm doenças crônicas. Esse trabalhador informal tem de ficar de quarentena. Tem de se encontrar uma maneira de o dinheiro chegar até ele, sem que precise trabalhar — afirma o economista Rudi Rocha, um dos autores do estudo, diretor de pesquisas do Ieps e professor da FGV-SP.
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A situação é mais dramática para 1,7 milhão dessa população de conta própria. Além de estar numa condição mais precária no mercado de trabalho, têm mais de 60 anos e também são doentes, segundo o estudo também assinado pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga (sócio-fundador do instituto), por Beatriz Rache, Letícia Nunes e Miguel Lago.
Trabalho mais precário
A economista Ana Amélia Camarano, do Ipea, acrescenta que uma parte significativa dos idosos de 60 anos ou mais estão em trabalhos mais precários e de baixa qualificação.
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— Entre as mulheres de 60 a 64 anos, o que predomina é trabalho doméstico. Entre os homens, é a construção civil. Já é um grupo vulnerável pela idade e ainda tem que sair de casa para um trabalho de risco.
Ligia Bahia, médica sanitarista da UFRJ, diz que os idosos sem proteção social são os mais doentes:
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— Eles acumulam mais riscos à saúde. Muitos moram sozinhos e sequer têm rede social de apoio. É a população que merece mais cuidado. Não consegue produzir renda sem sair de casa para trabalhar.
Segundo Rudi Rocha, usar o cadastro do Bolsa Família, do Benefício de Prestação Continuada (BPC), de programas de que monitoram doentes crônicos e da Farmácia Popular são algumas maneiras de chegar à essa população mais vulnerável:
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— São base de dados que já estão na mão e podem fazer o dinheiro chegar rapidamente à mão das pessoas. O mais difícil é a parte da população que não é elegível a nenhum programa, que vai ficar sem renda depois de um mês.
Saúde comprometida
Na força de trabalho total, que inclui todas as formas de inserção no mercado de trabalho e os desempregados, o número de idosos e doentes crônicos é de 27,1 milhões.
Os pesquisadores consideraram para o estudo quem sofre de hipertensão, diabetes, insuficiência renal ou alguma doença no pulmão, como enfisema, bronquite crônica ou doença pulmonar obstrutiva crônica.