Finanças
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Por Vitor da Costa — Rio

O Federal Reserve, banco central americano, elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira. Apesar do oitavo aumento consecutivo, a instituição promoveu uma redução no ritmo de seu aperto monetário.

Com a decisão, agora os juros estão na faixa entre 4,5% e 4,75%, maior nível desde 2007. A votação foi unânime.

Na reunião de dezembro, o banco havia elevado a taxa em 0,50 ponto percentual, após quatro aumentos consecutivos de 0,75 ponto percentual.

A redução no ritmo de aperto já era esperada pelo mercado. O aumento dos juros tem como objetivo combater a inflação elevada no país. O Fed destacou que está "fortemente empenhado" em trazer a inflação de volta à meta de 2%.

"Indicadores recentes apontam crescimento modesto do gasto e da produção. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação diminuiu um pouco, mas continua elevada", destacou o banco, em comunicado.

O banco ressaltou que a guerra entre Rússia e Ucrânia contribui para aumentar a incerteza global, e que está "altamente atento aos riscos de inflação".

Os últimos indicadores até mostraram uma desaceleração do aumento dos preços, mas a inflação segue longe da meta do Fed. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) atingiu 6,5% em dezembro no acumulado de 12 meses, segundo dados do Departamento do Trabalho. Foi o sexto mês consecutivo de queda na taxa de inflação anual, após o pico de 9,1% atingido em junho.

No entanto, um dos maiores obstáculos ainda presentes no caminho do banco é o mercado de trabalho aquecido nos EUA, com vagas ainda ociosas. A taxa de desemprego no país estava em 3,5% em dezembro, patamar considerado baixo.

Juros nos EUA em alta. — Foto: Editoria de Arte
Juros nos EUA em alta. — Foto: Editoria de Arte

Dessa forma, a autoridade monetária destacou que novos aumentos na taxa serão necessários para fazer com que a inflação retorne à meta. O Fed ainda ressaltou que estaria preparado para "ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas".

Em um sinal de que o fim do ciclo de alta pode estar próximo, o Fed destacou que a “extensão dos aumentos futuros” nas taxas de juros dependerá de uma série de fatores, incluindo o aperto cumulativo da política monetária. Anteriormente, havia vinculado o “ritmo” de aumentos futuros a esses fatores.

O banco ainda continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, como já anunciado.

Mais altas pela frente

Em entrevista coletiva após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu os progressos feitos no combate à inflação, mas afirmou que eles ainda não foram suficientes e que o banco ainda tem trabalho a fazer. Ele acrescentou que os impactos não geraram uma fraqueza maior no mercado de trabalho e que declarar uma vitória contra a inflação seria algo "prematuro".

— É gratificante ver o processo desinflacionário agora em andamento e continuarmos a obter dados fortes do mercado de trabalho [...] Restaurar a estabilidade de preços provavelmente exigirá a manutenção de uma postura restritiva por algum tempo — destacou.

O dirigente ponderou que a demanda por trabalhadores está superando a oferta e que os salários estão subindo rapidamente, o que dificulta o combate inflacionário.

Powell afastou a possibilidade de corte de juros neste ano, como parte do mercado espera.

Bolsas sobem após anúncio

A reação do mercado ao anúncio do Fed foi positiva, com a percepção de que o ciclo de aperto pode acabar mais rápido. O índice Dow Jones subiu 0,02% e o S&P, 1,05%. A Bolsa Nasdaq avançou 2%

No Brasil, o dólar fechou na menor cotação desde novembro, a R$ 5,06. O Ibovespa caiu 1,20%, pressionado pela baixa de papéis de commodities e bancos.

Ainda assim, o economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, Luciano Costa, avalia a combinação do anúncio com as falas de Powell como hawkish (favorável à retirada de estímulos).

Costa avalia que o Fed possa fazer mais duas altas de juros, atingindo o patamar de 5,25%.

— Ele (Powell) foi mais hawkish, porque deu a entender que, apesar do processo de desinflação ter começado, não dá para declarar vitória, e que tem um pedaço importante da inflação, que é a de serviços, que continua rodando acima do desejável. E deixou bem claro que não estão prevendo corte de juros neste ano

Para o economista da Monte Bravo, o Fed precisa identificar uma tendência de desaceleração do mercado de trabalho e ter certeza de que a trajetória esperada para a inflação não seja frustrada para dar como encerrado o ciclo de aperto.

O economista da XP, Francisco Nobre, também observa o comunicado como mais duro. Ainda assim, ele vê possibilidade do Fed começar a cortar juros na última reunião do ano ou no início de 2024.

— Para as próximas reuniões, se a inflação de serviços ceder, eles podem encerrar o ciclo de aperto monetário mais cedo.

Para a economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira, o comunicado foi mais duro, mas Powell fez colocações mais flexíveis na entrevista. Ela ressalta o fato de que o dirigente afirmou que o quadro apresentado na reunião de dezembro (que contemplava taxa média de 5,1% para os juros em 2023) seria revisitado com as informações obtidas até a reunião de março.

— Na nossa visão, o Fed entregará mais uma alta de juros em março, encerrando o ciclo de alta. Caso inflação e salários venham mais pressionados nas próximas apurações, maio também pode ser um mês de alta de juros, mas esse não é nosso cenário base. As taxas devem permanecer um período extenso nesse patamar para que se consolide a convergência da inflação para a meta de 2%.

A recessão virá?

Um dos questionamentos do mercado desde o início do aperto monetário é se o Fed poderia trazer a inflação para a meta sem a necessidade de uma recessão nos EUA. Powell voltou a defender que esse cenário é possível de ser alcançado, em que pese o aumento agressivo das taxas.

— Continuo a pensar que há um caminho para trazer a inflação de volta para 2% sem um declínio econômico significativo ou aumento significativo do desemprego — disse.

Segundo Costa, a tese do Fed de apostar em uma desaceleração não tão abrupta na atividade é possível devido ao alto grau de resiliência que a economia americana tem demonstrado.

Além disso, o banco tem sinalizado que procura trazer a inflação de volta à meta em um horizonte mais alargado, por volta de 2025, o que ajuda a reduzir os impactos agressivos da alta de juros para a atividade.

— Nosso cenário tem uma recessão breve a partir do segundo trimestre, mas já fomos mais convictos. Os dados de atividade têm vindo um pouco melhores e o mercado de trabalho não desacelerou tanto. Tem uma força subjacente na economia melhor do que o esperado.

Nobre, da XP, também destaca que deve ocorrer uma desaceleração, mas sem efeitos tão agressivos para a economia americana, como em ciclo de apertos passados.

E o Brasil?

Para os analistas, o cenário externo pode ser mais favorável para o Brasil. Além do Fed desacelerando a alta de juros, um ator a ser olhado de perto é a China.

O processo de reabertura do país, após meses de medidas restritivas contra a Covid-19, já vem impulsionando os preços de commodities.

— A questão da China, que está reabrindo, influencia mais para o Brasil. Temos um impacto positivo nas commodities com a China saindo de um processo longo de lockdowns. O impacto de EUA é menor para o Brasil — disse Nobre.

Costa ressalta que nos momentos finais dos ciclos de aperto, os ativos tendem a apresentar uma recuperação.

— O dólar está se enfraquecendo, o que é positivo não só para as moedas principais, mas também para os emergentes. Questões domésticas são o limitante para a precificação. Mas se tivermos uma âncora fiscal crível anunciada até o meio do ano, o Brasil pode se beneficiar desse cenário global.

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