O Ibovespa fechou a sexta-feira em alta de 0,32%, aos 135.608 pontos, e o dólar caiu 1,97%, cotado a R$ 5,47. Foi a maior queda diária do câmbio no ano.
Os dois indicadores corresponderam ao esperado discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, no Simpósio de Jackson Hole, que reúne banqueiros centrais de diversos países nos Estados Unidos. Ele foi categórico ao afirmar que um corte de juros estará em pauta na reunião de 18 de setembro:
— Chegou a hora de ajustar a política monetária. A direção a seguir é clara, e o momento e o ritmo dos cortes de juros dependerão dos dados que estão por vir, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos — disse ele durante o discurso.
Powell reconheceu o progresso recente contra a inflação, que voltou a se moderar nos últimos meses após ficar estagnada no início do ano:
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— Minha confiança aumentou de que a inflação está em um caminho sustentável de volta a 2% — disse.
— Nosso objetivo tem sido restaurar a estabilidade de preços enquanto mantemos um mercado de trabalho forte, evitando os aumentos acentuados no desemprego que caracterizaram episódios anteriores de desinflação. Embora a tarefa não esteja completa, fizemos um bom progresso em direção a esse resultado — afirmou o chefe da autoridade monetária do país.
A fala foi suficiente para levar ânimo aos investidores em todos os cantos do mundo. E o principal índice da bolsa brasileira acompanhou os mercados globais.
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Nas principais Bolsas de Nova York, altas de mais de 1%: o índice Dow Jones subiu 1,14%, aos 41.175 pontos; o S&P 500 valorizou 1,15%, aos 5.634 pontos, e o Nasdaq avançou 1,47%, aos 17.877 pontos.
Na Europa, o CAC40, de Paris, encerrou em alta de 0,7%; a DAX, de Frankfurt, fechou em valorização de 0,76%; em Londres, o FTSE 100 fechou em avanço de 0,48%.
— O grande impulsionador das Bolsas foi o Powell. Foi o evento em termos de relevância. E ainda que fosse sinalizada a direção ao iminente corte de juros nos EUA, essa sinalização foi mais enfática do que esperado. Não retém mais grau de opcionalidade — diz Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset.
Com a redução da taxa americana na mesa, ações voltadas ao ambiente doméstico, que são sensíveis aos juros futuros, valorizaram: a alta do índice foi liderada pela Cogna, que ampliou 7,52%, a R$ 1,43. Renner veio em seguida, com ampliação de 7,32%, aos R$ 17,75. CVC subiu 4,65%, aos R$ 2,25, Azzas ampliou 4,42%, aos R$ 52,47, e Petz 3,55%, aos R$ 5,25.
Os juros futuros reduziram em toda estrutura da curva. Para janeiro de 2026, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) caiu de 10,86% no fechamento de quinta-feira para 10,81%; para janeiro de 2026, o recuo foi de 11,62% para 11,465%; no mesmo mês de 2027, a redução foi de 11,63% para 11,45%; e, para janeiro de 2029, a redução foi de 11,7% ontem para 11,55% nesta sexta.
Magnitude do corte vira dúvida
Na quarta-feira, a divulgação da ata da última reunião do comitê americano já havia demonstrado a intenção de membros para cortes ainda em 31 de julho, data do encontro. Isso alimentou ainda mais a expectativa de que um afrouxamento monetário começaria logo.
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Para analistas, o foco agora está voltado para a divulgação do chamado payroll de agosto, o número de vagas criadas em empregos não-rurais do mês passado.
Para Francisco Nobre, economista da XP, parte importante da declaração foi a sensibilidade do Fed sobre os dados de emprego, e que a divulgação do próximo dado, em 6 de setembro, definirá o tamanho do corte.
— Se o próximo dado a ser divulgado do payroll, que é o principal relatório referente ao mercado de trabalho dos Estados Unidos, mostrar uma fraqueza adicional e a taxa de desemprego aumentar um pouco mais, isso certamente será um gatilho para um começo de ciclo de cortes mais agressivo — afirma.
A pesquisa FedWatch, do CME, que mede a probabilidade da nova taxa básica nos EUA a partir de contratos, define em 63,5% a expectativa de corte de 0,25 ponto percentual, para a banda entre 5% e 5,25%, na próxima reunião, em setembro. Os 36,5% restantes ainda apostam num corte mais agressivo, de meio ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5%.
Impacto em todo o mundo
A taxa de juros dos EUA “dita” aplicações no mercado financeiro de todo o mundo. Ela é capaz de atrair o apetite de investidores, que escolhem investir nos títulos americanos, as treasuries, que são considerados os investimentos mais seguros do mundo.
Como a taxa básica dos EUA no atual patamar, entre 5,25% e 5,5% — o maior nível desde 2001 —, ela se torna mais atraente, levando investidores a tirar capitais de diversos países e “depositando” naquele que é considerado o principal porto seguro.
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Fora dos EUA, como nos mercados emergentes, os investimentos até podem oferecer retornos maiores, só que com maior risco. E aí o investidor pensa duas vezes entre optar por segurança e obter lucros maiores.
Dólar também cai
O discurso de Powell também promoveu uma desvalorização global no dólar nesta sexta. Por aqui, a moeda, que chegou a ser negociada a R$ 5,59 no início da manhã, encerrou as negociações em recuo de 1,97%, a R$ 5,4794.
O movimento acompanhou o recuo nos rendimentos das Treasuries — os títulos do Tesouro americano —, levando a diversas moedas a valorizarem frente à divisa.
Apesar da desvalorização, o dólar permanece com a cotação em patamar alto. Para Carlos Lopes, economista do Banco BV, o recuo de hoje foi causada pela declaração de Powell, mas a divisa segue carregando um preço de incertezas domésticas:
— Depois do estresse a partir de maio, com o Banco Central dividido, e o estresse recente dos mercados internacionais, o câmbio não devolveu toda valorização. Houve essa descolada dos fundamentos e permanece elevado — afirma ele, elencando o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA e a percepção de risco fiscal como fatores que contribuem para o desempenho da divisa.
Às 17h, o peso mexicano valorizou 2,32% frente o dólar; o rand sul-africano ganhou 1,75%; o iene subiu 1,4%; a libra ganhou 0,9% e o euro, 0,69%.
(com Bloomberg News)