Jorge Lemann, Alberto Sicupira e Marcel Telles, o trio de acionistas de referência da Americanas, apresentaram nesta quinta-feira uma proposta aos credores que envolve um aumento de capital em dinheiro no valor de R$ 7 bilhões na varejista. Dentro desse valor já está considerada a quantia de até R$ 2 bihões através de uma linha de financiamento (chamada DIP).
A informação foi apresentada pela companhia ao mercado em um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Porém, credores ouvidos pelo GLOBO acharam o valor muito abaixo das expectativas e da real necessidade da varejista. Para eles, é necessário, ao menos, R$ 15 bilhões em aporte.
A proposta foi apresentada pela Rothschild, assessor contratado para interagir com os credores na manhã de hoje com representantes dos bancos.
Segundo fontes, a maior parte do R$ 7 bilhões oferecidos pela Americanas será usada para recomprar parte da dívida da empresa.
A proposta apresentada pela varejista envolve ainda a recompra de um total de R$ 12 bilhões em dívidas - valor que será descontado e pago com parte dos R$ 7 bilhões do aporte, segundo explicou uma fonte.
A Americanas propôs também aos credores a conversão do restante da dívida financeira, no valor de R$ 18 bilhões. Parte desse valor seria convertido em capital e parte em dívida subordinada (chamada de equity-like, quando o pagamento vai para o final da fila).
Segundo a Americanas, "não houve, até o momento, acordo com relação à proposta apresentada". A companhia disse espera continuar mantendo discussões construtivas com seus credores em busca de uma solução sustentada que permita a continuidade de suas atividades.
A apresentação de uma proposta que seja aceita pelos credores financeiros faz parte das negociações do processo de recuperação judicial. Além disso, a companhia precisa costurar acordos com os outros credores.
Pela lei, a companhia tem até o dia 20 de março para entregar à Justiça uma proposta do plano de recuperação judicial. Assim, após receber o aval da Justiça, é marcado uma assembleia de credores para aprovar o plano.
R$ 42,4 bi em dívida e 9,4 mil credores
No último dia 10 de fevereiro, a Americanas informou à Justiça que, após as correções na lista de credores, a dívida total sujeita à recuperação judicial alcança o valor de R$ 42,482 bilhões com 9.462 credores.
Na quarta-feira à noite, a varejista informou que o Conselho de Administração aprovou o nome de Leonardo Coelho Pereira para exercer o cargo de diretor presidente.
Ele assume a empresa no lugar de Sergio Rial, que ficou na varejista apenas entre os dias 2 e 11 de janeiro, após revelar as "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões na Americanas, o que deu início a uma crise na empresa e a forçou a entrar em recuperação judicial.
Pereira tem experiência em empresas do setor de varejo, como a Leader Magazine, e em consultoria de reestruturação. Atuou como sócio na Alvarez & Marsal desde 2011, na área de Reestruturação. A empresa é hoje uma das contratadas pela varejista no âmbito da recuperação judicial.
Leo Coelho, como é chamado, foi o responsável ainda pela reestruturação Forever 21. Comandou ainda a reestruturação da Andrade Gutierrez (AG). Ele liderou ainda mais de dez processos de reestruturação de clubes de futebol no Brasil.