A empreendedora mineira Mayara Magalhães, de 35 anos, é dona da Palazzi Eventos junto com o marido. Na empresa, os dois dividem os afazeres igualmente. Mas em casa, ela assume a maioria das tarefas: cozinha, limpa e passa roupa. Novo estudo do Sebrae de Minas Gerais mostra que essa divisão ainda perdura em muitas famílias.
A pesquia apontou a existência de 2,2 milhões de microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores individuais em Minas. E as mulheres lideram 40,96% desses empreendimentos.
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Assim como Mayara, boa parte delas (49%) diz encontrar mais barreiras para o sucesso nos negócios, porque precisam se dedicar também aos cuidados dos filhos e dependentes, além dos afazeres domésticos, enquanto os homens podem se dedicar mais ao trabalho.
A pesquisa mostra ainda que os homens empreendem principalmente por encontrarem oportunidades promissoras ou para complementar a renda. As mulheres, por outro lado, empreendem geralmente para ter autonomia e horários flexíveis, uma forma de conciliar trabalho e cuidados com a família.
— As mulheres sempre buscaram flexibilidade. Elas sempre priorizaram trabalhar de casa, para cuidar daqueles que dependiam delas, mesmo antes disso se tornar uma demanda comum no mercado de trabalho — avalia Neiva Coelho, professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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No estudo, 70% das empreendedoras responderam que são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos, percentual que cai para 26% no caso dos homens. A maioria das entrevistadas (53%) disse ter dificuldade de moderada a alta para conciliar o negócio com o trabalho em casa. Apenas 28% dos homens relataram o mesmo problema.
Dificuldade de ser vista como empresária
Mayara afirma que as mulheres também encontram ainda mais problemas para serem respeitadas enquanto donas dos seus empreendimentos. Segundo ela, que tem uma pequena empresa de eventos desde 2016, as pessoas não estão acostumadas a serem comandadas por uma mulher:
— Quando você pede, as pessoas acham que não precisam fazer. Outros homens me desrespeitam muito. As pessoas não estão acostumadas a serem comandadas por uma mulher, e eu não abro mão de gerenciar a minha equipe — conta.
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Curiosamente, a maior parte dos homens não concorda que as mulheres encontram mais barreiras para serem bem-sucedidas. Para 80% dos entrevistados, o gênero do empreendedor não é relevante para o sucesso. Já a maioria das mulheres (49%) respondeu que as empreendedoras têm, sim, mais dificuldade.
Acesso a crédito
A analista do Sebrae Tábata Moreira destaca que a maioria das empreendedoras prestam serviços que não tem valor agregado, enquanto os homens investem em negócios da área de tecnologia e inovação.
— A renda das mulheres é menor. Elas também encontram mais dificuldades de acesso a crédito e recursos financeiros, muitas vezes por não terem bens como garantia. E, embora elas peguem valores menores, têm taxas de juros bem maiores — conta a pesquisadora.
As mulheres são também mais escolarizadas que os homens, com maior taxa de empreendedoras tendo terminado o ensino superior e o ensino médio. Apesar disso, elas costumam estagnar em um rendimento de até R$ 81 mil, enquanto os homens veem sua renda em trajetória crescente.
Outro indicador de desigualdade é que, normalmente, as mulheres que empreendem como forma de complementar sua renda trabalham por conta própria. Os homens que buscam complementar a renda são concursados ou trabalham de carteira assinada.
Tábata lembra também que as mulheres tendem a contratar outras mulheres quando empreendem, e investem mais na família e na educação dos filhos.
— A mulher que consegue romper essas barreiras faz com que sua família, outras mulheres e filhos possam prosperar. Elas tiram mais mulheres da vulnerabilidade.
Neiva, professora da FGV, concorda. Ela acrescenta que as mulheres consideram qualidade de vida e segurança como indicadores do sucesso, e não apenas status e dinheiro.
— Existe uma ambição particular, que envolve o bem-estar da família e dos filhos.