O casal de atrizes Cristina Flores e Laura Castro visitava um imóvel na Travessa do Comércio, no Centro do Rio, para abrir um espaço cultural, quando mirou, do outro lado da estreita rua de paralelepípedos, o sobrado de número 16. “Vimos aquela casa linda, com quatro portas vermelhas, e decidimos conferi-la. Ao chegar perto, encontramos um casal de noivas grafitado na parede. Era um sinal”, conta Laura. Estava decidido o endereço da QueeRIOca, centro de referência de arte e cultura LGBTQIAP+ , que abre as portas no sábado.
Viabilizado pelo edital Reviver Centro Cultural, lançado pela Prefeitura para promover a ocupação e a revitalização da região central da cidade, o projeto diz logo a que veio. Inaugura com a exposição “DiferENTRE”, com obras de 32 artistas como Marcos Chaves, Matheus Rocha Pitta, André De Castro e Sina Erol, e uma programação dedicada à produção da cantora Zélia Duncan. Será exibido o curta “Uma paciência selvagem me trouxe até aqui”, do qual ela participa como atriz, e haverá uma roda de samba com a presença da artista ao lado de Ana Costa. Zélia, diga-se, não está ali por acaso: foi escolhida madrinha da casa. “Fiquei emocionada, desde que Laura e Cristina me convidaram e comunicaram suas intenções”, conta. “Será uma celebração para muito além de mim.”
As atrações da abertura têm a ver com o caráter multicultural da QueeRIOca, que vai abrigar, entre o subsolo e o térreo, uma agenda fixa com exibição de filmes, shows, festas, teatro, lançamentos de livros e rodas de conversa. Também haverá um bar para que nada seja celebrado a seco. Afinal, reconhece Cristina, a inauguração de um espaço como este merece alguns brindes. “É possível mudar o mundo. Tenho 48 anos e venho de uma geração que viveu o armário”, reconhece a atriz, que fará uma leitura da peça “Eu vou!”, de Zélia, na abertura. “Estou falando de uma galera que teve que fazer a revolução dentro da própria família e saiu viva do outro lado.” Uma boa história para contar às novas gerações.