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Por — São Paulo

São 3h30 da manhã de uma quarta-feira em Salvador, e Nanda Costa já está de pé para as fotos deste ensaio. Ela e a equipe “madrugaram” na Praia da Penha e na Ponta do Humaitá, tradicionais pontos turísticos, para contemplar o nascer do sol, em busca do clique perfeito. Animada, a atriz de 37 anos não parecia ter dormido apenas três horas na noite anterior. “A Kim teve um pesadelo, chorou, aí a Lan foi acalmá-la. Quando ela pegou a mamadeira, derrubou e molhou a cama toda, a Tiê também acordou... Quando vi, já tinha que levantar”, conta, em duas horas de entrevista por chamada de vídeo.

A rotina — ou a nova vida sem ela — ao lado da esposa, a percussionista Lan Lanh, de 55 anos, tem caminhado no ritmo do batuque quase sempre frenético das filhas gêmeas, Kim e Tiê, de 2 anos e meio. Elas são a prioridade e o motivo da mudança para o bairro de Ondina, na capital baiana, no fim do ano passado. O plano era ficar apenas dois meses, entre o Natal e o carnaval, mas a alegria e o bem-estar das meninas fizeram o casal recalcular a rota. “Elas estavam felizes como nunca tínhamos visto e diziam: ‘Eu sou baiana, obrigada mamãe’. Íamos à feira, à praia, comíamos acarajé. Lan nasceu aqui e sou completamente encantada pela Bahia. Quero que elas tenham uma infância feliz”, diz.

Nanda usa vestido Ateliê Mão de Mãe — Foto: Edgard Azevedo
Nanda usa vestido Ateliê Mão de Mãe — Foto: Edgard Azevedo

No ar na série “Justiça 2”, do Globoplay, em que interpreta a aspirante a cantora Milena, Nanda tem vivido a segunda fase de uma revolução pessoal iniciada em 2018. Na época, ela interpretava a policial bissexual Maura na novela “Segundo sol”, da Globo, quando assumiu publicamente sua sexualidade e o romance de quatro anos com Lan Lanh. De lá pra cá, saiu de vez do armário, onde “morava” desde a adolescência. Corajosa e sem dar ouvidos ao preconceito, sentiu-se mais à vontade para gritar seu amor e sua verdade em entrevistas. Parou de encenar uma feminilidade que não performava e perdeu o maior dos medos: ser quem é. “Finalmente, consegui relaxar”, pontua.

Mas libertar-se não foi fácil. Ao relembrar a primeira protagonista em horário nobre, Morena, da novela global “Salve Jorge”, de 2012, Nanda fala sobre o quanto usar máscaras e disfarces por tantos anos custou sua paz. “Eu me policiava o tempo inteiro para parecer feminina. Não podia dar pinta. Se soubessem que eu era lésbica, ia ser um horror. Botava roupa grudada, justa, escarpim. Se você é hétero, não deve nada, e usa um All Star, é estiloso. Se não... ‘olha lá o jeito de sapatão, de All Star, gosta de Cássia Eller, está andando com a Lan Lanh’. Tinha esse tipo de medo’”.

Agora, até na ficção tudo parece mais natural para a atriz. Em “Justiça 2”, Milena, acusada por um crime que não cometeu, vive um romance com sua algoz, Jordana, personagem de Paolla Oliveira. As cenas quentes entre as duas causaram rebuliço nas redes sociais, com mulheres lésbicas e heterossexuais comentando e comemorando a química das atrizes. Mesmo existindo uma linha tênue entre sensualidade e fetichização, quando se fala em cenas íntimas entre mulheres na indústria do entretenimento, Nanda entende que a obra aborda a temática com delicadeza e poesia.

Vestido Catarina Mina, brincos SomosDua — Foto: Edgard Azevedo
Vestido Catarina Mina, brincos SomosDua — Foto: Edgard Azevedo

“Tivemos a Larissa Bracher, coordenadora de intimidade, que coreografou as cenas, deixando tudo mais suave e tranquilo. Ficou lindo como deveria ser”. Para a atriz, as cenas viralizaram porque o assunto ainda não é tratado com tanta naturalidade. “A Milena mata o marido da Jordana e em menos de 24 horas elas estão juntas. Por que ninguém comentou isso? Claro, quero que falem do meu trabalho, mas não a ponto de as pessoas se espantarem por serem duas mulheres”, explica.

Paolla concorda, mas admite que o fato de as cenas terem causado comoção no público é o que propõe uma entrega artística. “Elas são feitas de um jeito que impacte quem está assistindo: atravessando e incomodando o outro, causando tesão e vontade de viver algo do tipo. Fiquei feliz com a repercussão.” Enquanto isso, no Instagram, Nanda atiçou ainda mais seus quase quatro milhões de seguidores ao postar uma imagem deitada entre os pares românticos na ficção e na vida real, ao som do hit “Macetando”, de Ivete Sangalo e Ludmilla. “Nanda é totalmente gentil, queridíssima, respeitosa com o trabalho das outras pessoas”, continua Paolla. “Sou grata por termos dividido a cena e agora ter uma amiga na vida.”

E o que achou Lan Lanh disso tudo? Engana-se quem pensa que a percussionista teve ciúmes ou encarou as cenas de sexo com desconfiança. “Zero! Nanda e Paolla são duas gatas extraordinárias. Achei as cenas lindas, sensuais e emocionantes”, entrega a baiana. Nanda elogia a parceira, reforçando sua segurança no casamento. “Ela sabe a força e solidez da nossa relação.” No processo de descobertas da atriz, a esposa teve papel fundamental, e a apoiou em crises de ansiedade ao tentar se esconder de paparazzi ou negar o relacionamento no início. “Ela me acolhia e sempre me respeitou”, pontua. Nanda viu Lan Lanh pela primeira vez quando tinha 14 anos, em um show da cantora Cássia Eller (1962-2001) e encantou-se de imediato. A união, portanto, parecia mesmo ser predestinada. “A Fê é uma menina simples, de fala mansa, generosa, educada, moleca, danada, potente. Costumo chamá-la de pequena gênia”, declara-se a baiana.

A representatividade de Nanda para a causa LGBTQIAPN+ passa, agora, pela simples existência de sua família. Seu processo de aceitação e descobertas deve ficar, por enquanto, em segundo plano em próximas entrevistas. Porque os problemas, garante, são outros. “Acho que não preciso mais falar tanto sobre isso, a gente já avançou. Estava na reunião de pais e mães na escola, e percebi que eu e Lan éramos as únicas duas mães. Mas hoje há tantos modelos de família: mães solo, avós, apenas o pai. Estamos juntos e misturados.”

Além da presença constante nas reuniões escolares, o casal faz questão de não terceirizar os cuidados com Kim e Tiê. Levam e buscam na escola, preparam as refeições, brincam todos os dias em família, trabalham, e em meio a essa agenda tão atribulada, ainda encontram tempo para namorar. “Tem que dar, senão a conta não fecha (risos). Mas o sexo muda, porque bate um cansaço tão grande... Para mim, não precisa ir até o final, às vezes é um carinho, um aconchego. Temos intimidade para falar: ‘Olha, não vou conseguir’. Também combinamos quando sobra uma horinha. Ser marcado tem uma graça.”

Colete Lenny Niemeyer — Foto: Edgard Azevedo
Colete Lenny Niemeyer — Foto: Edgard Azevedo

A atriz destaca que as pequenas nasceram com apenas um minuto de diferença, têm o mesmo mapa astral, mas personalidades completamente distintas. “Ambas são muito doces, carinhosas, alegres e engraçadas. Mas Kim é mais observadora e imediatista, Tiê é mais palhaça. Enquanto uma quer mais carinho e colo, a outra quer atenção em uma brincadeira”, diz Nanda. Educar, definitivamente, é tarefa árdua. Mas os exemplos que teve em casa com a família materna — a mãe, Patrícia, os avós, Maria Inês e José, e a bisavó, Josephina— ajudaram a atriz a compreender bem cedo o significado do feminismo. As mulheres são e sempre foram o sexo forte.

“Minha bisa foi a primeira vereadora de Paraty (cidade Natal de Nanda), criou cinco filhas sozinha numa fazenda. Minha avó herdou a loja de tecidos dela, a Casa Costa, que tem muitos anos e é uma referência na cidade. O trabalho sempre foi feminino”, conta. E até mesmo a separação dos pais e a ausência paterna desde a primeira infância foi, de certa forma, alavanca para fortalecê-la. Tentar “entrar” na TV para encontrar o pai, morto no ano passado, a ajudou na busca pelo sonho de ser atriz. “Não entendia por que ele tinha ido embora. Me questionava: ‘ele não gosta de crianças?’ Estar na tela era um combustível e deu certo. Depois, quando nos reencontramos e tudo se resolveu, entendi que era para ser assim”, explica, sem entrar em detalhes.

Mãe dedicada e atriz em constante transformação, Nanda quer ainda mais profissionalmente. Está a todo vapor na produção do filme “O ano em que morri em Nova York”, do livro de Milly Lacombe, com roteiro de Patricia Andrade. Recentemente, também codirigiu, com Magali Moraes, o clipe do primeiro single de Emanuelle Araújo. Confiante, sabe que tem muito a oferecer e é reconhecida por isso. “Nanda é bem mais que uma atriz, tem potência criativa imensa e propriedade sobre toda parte artística que envolve uma obra audiovisual”, elogia Patricia. “Tenho uma cabeça criativa, quero não apenas executar, mas ter autonomia sobre os próximos projetos. Não consigo descansar”, finaliza a artista. Que sorte a dos fãs

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