“Natural como o futebol”. É com esse slogan que a candidatura brasileira para receber a Copa do Mundo feminina de 2027 pretende convencer a Fifa e a todos os associados que têm direito a voto. A eleição do país-sede do próximo Mundial acontecerá no congresso da entidade no dia 17 de maio. Antes disso, o projeto será avaliado por comissários do órgão em visita marcada para este mês, dos dias 20 a 23.
A escolha pela anfitriã da candidatura também foi para lá de natural. A Rainha Marta dá rosto ao vídeo que apresenta o caderno de propostas do Brasil, entregue em dezembro à Fifa.
No filme, a craque apresenta a candidatura de um país conhecido por “todos nascerem sabendo jogar futebol”, incluindo as mulheres. Aos 38 anos, ela ainda espera fazer parte da lista final da seleção para os Jogos Olímpicos de Paris-2024. Mas, ano passado, despediu-se dos Mundiais após a eliminação do Brasil na primeira fase da Copa da Austrália e da Nova Zelândia.
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A vitória da candidatura brasileira pode fazê-la mudar de ideia — a depender, claro, da escolha do técnico Arthur Elias. Mas, de qualquer forma, o comitê responsável pela campanha já a tem como uma embaixadora caso o Brasil seja a sede. Dentro de campo ou não.
— Essa é uma decisão pessoal dela, e esperamos que mude de ideia. Ela topou fazer o vídeo assim que a convidamos. Ela e a Formiga (que também tem participado da campanha) são a essência do futebol feminino no Brasil — argumenta Valesca Araújo, executiva responsável pelo planejamento técnico e operacional da candidatura do país.
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ESTRUTURA QUASE PRONTA
Marta não é o único cartão de visitas da campanha brasileira. A seis vezes melhor do mundo conta no vídeo alguns dos pontos fortes do projeto local, todo custeado pela CBF nesta fase.
Um deles é todas as cidades-sede já determinadas contarem com arenas padrão Fifa. Na proposta, o Brasil oferece dez: Rio de Janeiro (Maracanã), São Paulo (Neo Química Arena), Belo Horizonte (Mineirão), Porto Alegre (Beira-Rio), Salvador (Fonte Nova), Recife (Arena Pernambuco), Fortaleza (Castelão), Cuiabá (Arena Pantanal), Manaus (Arena da Amazônia) e Brasília (Mané Garrincha). Todos foram construídos ou reformados para a Copa do Mundo masculina de 2014.
Quatro deles receberão a visita técnica da Fifa este mês (a escolha e a logística de visitação fica a cargo da entidade): Maracanã, Fonte Nova, Arena Pernambuco e Mané Garrincha.
Os comissários vão avaliar se o caderno de propostas condiz com a realidade. Ao final, eles darão notas a cada uma das candidaturas. Só seguirão para a votação em maio aquelas que receberem pelo menos o grau 2.
— Estrutura nunca foi preocupação. Por isso, o conceito da campanha é focado em mostrar o grande diferencial do país: a alegria, saber receber bem e fazer grandes eventos. É natural que seja aqui a Copa do Mundo — defende Valesca.
A escolha de arenas prontas, que, no máximo, passarão por retoques, faz parte dos três pilares de sustentabilidade do projeto: financeiro, ambiental e social.
Ter toda a estrutura física pronta diminui os custos do megaevento —e implica em menos aporte financeiro do governo. Também haverá menos uso de recursos naturais. No projeto, os grupos foram agrupados por regiões para evitar grandes deslocamentos de olho na redução da emissão de carbono.
— Também há o lado social de todas as regiões do país receberem jogos. Assim, mais pessoas têm acesso ao futebol feminino. Na Austrália, o efeito de ver as Matildas jogando vai significar um crescimento da modalidade. Queremos isso aqui — explica Manuela Biz, executiva de Comunicação da campanha, que ainda conta com Jacqueline Barros (Articulação e Relações Governamentais) e Luiz Paulo Meira (diretor financeiro).
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CAMINHO MENOS DURO
A campanha admite que a candidatura brasileira ganhou força com a saída da África do Sul. Ainda estão no páreo Estados Unidos/México e Alemanha/Bélgica/Holanda. Apesar da força americana e europeia no cenário do feminino, há pontos desfavoráveis a elas.
EUA e México têm uma agenda cheia de eventos nos próximos anos, incluindo a Copa masculina de 2026. Já a Europa sediou dois Mundiais na última década: na Alemanha (2011) e na França (2019). A Fifa tem priorizado o rodízio pelos continentes. Apenas América do Sul e África nunca sediaram a competição feminina.
Outro ponto é a visão da entidade de levar o torneio para países que estão num estágio de desenvolvimento mais baixo da modalidade.
— Com a retirada da África do Sul, nossos pontos fortes se diferenciaram das outras candidaturas. Estamos bem confiantes, mas entendemos que é votação — diz Valesca, destacando que a candidatura tem o apoio da Conmebol e é vista com um projeto da América do Sul.
Os outros pontos fortes do Brasil estão nos recursos humanos e no grande mercado consumidor que a Fifa está de olho: os jovens.
— Um dos legados de 2014 foi a mão de obra qualificada para grandes eventos. No Catar, foram mais de 400 brasileiros contratados — destaca Manu. — O Brasil tem mais de 100 milhões de mulheres, 30% são jovens e possíveis consumidoras. Temos um mercado digital valioso.
Após a visita e as notas, restará aguardar até maio. Quer dizer, mais ou menos. A Fifa não permite uma campanha totalmente aberta. Mas algum lobby poderá ser feito em eventos no exterior. Como os votos da Conmebol, da Concacaf e da Uefa já estão praticamente certos, a briga será para convencer federações dos continentes africano e asiático.
— O Congresso da Fifa é fechado, mas estaremos lá dois dias antes, com o ouvido na porta para tentar escutar algo — brinca Valesca.