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“Columbia cancelou mais um evento relacionado à Palestina, dessa vez organizado pelo Columbia Global Centers em Amã, na Jordânia”, anunciou, no X (antigo Twitter), Katherine Franke, professora da Escola de Direito de Columbia, em Nova York. Segundo ela, a conversa seria centrada na obra de Edward Said, um dos maiores intelectuais palestinos…e que lecionou em Columbia por muitos anos.

Apesar da retirada do apoio de Columbia, a conversa ocorreu nesta quarta-feira, com os mesmos participantes. A decisão da universidade, que desde sua fundação, no século XVIII, se orgulha em ser um campo aberto à discussão de ideias, é o exemplo mais recente de como a guerra entre Hamas e Israel afeta os campi não apenas no Oriente Médio, mas também a milhares de quilômetros dali.

Eventos como o sobre Edward Said, autor de um dos mais extensos e complexos pensamentos sobre a Palestina, foram cancelados em outras instituições americanas sob justificativa de “questões de segurança”, ou sem explicação alguma. Grupos de estudantes — como os Estudantes pela Justiça na Palestina e a Voz Judaica pela Paz, ambos de Columbia — foram suspensos por realizarem “atividades não autorizadas”.

Professores que discutiram a guerra em sala de aula sofreram sanções, como na Universidade do Sul da Califórnia, onde um docente só poderá lecionar de forma remota até que o caso dele seja analisado. Na Universidade do Arizona, um grupo chamado Israel War Room (Sala de Guerra de Israel), divulgou gravações de duas professoras em sala de aula, as acusando de antissemitismo. Ambas foram suspensas.

Israel é um dos poucos temas de política externa capazes de provocar terremotos na sociedade americana, e debates sobre a Questão Palestina são há décadas tratados de forma contida dentro do meio acadêmico nos EUA. Contudo, em raras ocasiões se viram reações tão contundentes como as desde o 7 de outubro, e que alguns analistas consideram ser uma contradição com o papel das universidades.

Em artigo para a Foreign Policy, Stephen Walt, professor de Relações Internacionais em Harvard, cita um estudo de 1967, o Relatório Kelven, elaborado em uma época em que os campi também fervilhavam com discussões sobre a Guerra do Vietnã. Apesar de ter sido escrito há mais de cinco décadas, o texto ainda guarda,segundo Walt, algumas lições valiosas, a começar pela noção de que a universidade não deveria tomar lados em questões como política externa, permitindo assim o livre debate.

“Professores e estudantes podem dizer ou escrever o que quiserem, entendendo que a instituição defenderá o direito deles de assim o fazer, mesmo diante de críticas ferozes. Ao mesmo tempo, a universidade não fará nada para proteger suas ideias de críticas legítimas, incluindo de membros da própria universidade”, escreve Walt.

Mas como o colunista pontua, a questão não é só acadêmica. Os comunicados com críticas ao Hamas, como o de Harvard, caíram mal entre doadores das universidades. As ameaças de cortes de financiamento se somaram à inclusão de estudantes que assinaram os manifestos em listas de profissionais que não seriam contratados por empresas dos EUA.

“As pessoas não deveriam poder se esconder atrás de um escudo corporativo quando emitem declarações apoiando ações de terroristas que, como sabemos, decapitaram bebês, dentre outros atos horrendos”, escreveu, no X, Bill Ackman, fundador da Pershing Square, que gere cerca de US$ 20 bilhões em investimentos.

O papel dos doadores, muitas vezes ex-alunos, não é desprezível: no caso de Harvard, esse dinheiro correspondeu a 45% do orçamento da instituição em 2022, estimado em US$ 5,8 bilhões, e a ameaça de suspensão de pagamentos causa arrepios nos reitores. Em Columbia, Leon Cooperman, que doou mais de US$ 25 milhões nos últimos anos, disse que não depositaria mais um centavo se protestos pró-Palestina continuarem acontecendo — no mês passado, um evento de arrecadação de fundos foi suspenso.

“Ao invés de apoiar pesquisas que fazem perguntas difíceis, destinadas a obter a verdade, alguns doadores podem ter visões fortes sobre quais questões devem ser feitas, e quais devem ser as respostas corretas”, escreveu Walt. “Nestas circunstâncias, líderes acadêmicos não podem deixar o compreensível desejo de deixar os doadores felizes e marginalizar estudantes com posições diferentes daquelas dos doadores.”

Em um desdobramento das disputas nos campi, os reitores de Harvard, da Universidade da Pensilvânia e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) foram convocados para prestar depoimento no Congresso dos EUA, onde o apoio a Israel ainda é prevalente, mas já começa a mostrar algumas fissuras. A sessão está marcada para terça que vem.

Na convocação, a deputada republicana Virginia Foxx acusa os reitores de permitirem “o crescimento de uma retórica horrenda”, se referindo a acusações de antissemitismo em instituições do país, e afima que “agora não é a hora de indecisão ou de declarações brandas”. O texto não faz menção a atos de islamofobia ou de racismo contra estudantes árabes, também registrados desde os ataques do Hamas.

Ajuda em risco

Na próxima semana, o Congresso deve começar a debater uma medida para incrementar, de maneira emergencial, a já bilionária ajuda militar a Israel. Ao contrário de outros anos, quando propostas do tipo foram aprovadas sem obstáculos, a base do presidente Joe Biden sinaliza que, dessa vez, não será tão fácil.

— Queremos que o presidente apresente garantias expressas do governo [do premier] Benjamin Netanyahu sobre um plano para reduzir o inaceitável nível de mortes civis [em Gaza] — disse ao New York Times o senador democrata Chris Van Hollen. — O ponto principal é que nós precisamos dessas garantias.

Até agora, 37 deputados e dois senadores declararam apoio a um cessar-fogo mais amplo na Faixa de Gaza, um número que, embora pareça pequeno, reflete em parte o sentimento dos eleitores americanos sobre a guerra. Uma pesquisa da NBC, divulgada no dia 19 de novembro, revelou que apenas 51% dos eleitores democratas, e 34% de todos os eleitores, aprovam a forma como Biden está conduzindo a guerra.

Em alguns estados decisivos na eleição do ano que vem, como o Michigan, o presidente já aparece atrás de seu provável rival, Donald Trump, e grupos que apoiaram o democrata em 2020, como progressistas e a comunidade árabe-americana, ameaçam nem sair de casa para votar no ano que vem.

Mais recente Próxima Libertação de prisioneiros palestinos aumenta apoio ao Hamas na Cisjordânia

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